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Um dos autores do ataque contra a Charlie Hebdo é enterrado perto de Paris

Nenhum parente esteve presente e seu túmulo não tem nenhuma inscrição para evitar que se torne um local de peregrinação para islamitas

Agência France-Presse
postado em 18/01/2015 09:20
Cherif Kouachi e seu irmão Said Kouachi mataram 12 pessoas durante atentado contra a sede da Charlie Hebdo em ParisO segundo jihadista que atacou a sede da revista Charlie Hebdo na semana passada foi enterrado em segredo em um túmulo anônimo perto de Paris, informaram as autoridades francesas neste domingo, enquanto a polícia continua em alerta na Europa ante a ameaça terrorista.

Cherif Kouachi, um dos dois irmãos que mataram 12 pessoas no atentado contra a publicação satírica no dia 7 de janeiro, foi enterrado no sábado pouco antes da meia-noite em um cemitério de Gennevilliers, um dia após o enterro de seu irmão mais velho Said, cujo funeral também foi realizado com total discrição na cidade de Reims (nordeste). A família de Cherif, incluindo sua viúva, não compareceu ao enterro, segundo um funcionário da prefeitura.

Os irmãos foram mortos pelas forças de segurança após três dias de perseguição policial, depois do massacre na sede da publicação Charlie Hebdo, que enfurece muitos muçulmanos por publicar repetidamente charges do profeta Maomé, cuja representação é considerada ofensiva para o Islã.

A indignação voltou a aflorar em muitos países de maioria muçulmana após a publicação no último número de uma nova charge de Maomé como resposta ao massacre.

Os piores distúrbios ocorreram no Níger, onde ao menos 5 pessoas morreram e uma dezena de igrejas foram incendiadas e saqueadas no sábado.

[SAIBAMAIS]

No total, dez pessoas faleceram e dezenas ficaram feridas em dois dias de protestos, onde as manifestações levaram a ataques, saques e vandalismo contra as igrejas e também contra bares, hotéis e lojas pertencentes a pessoas não muçulmanas.

Neste domingo também ocorreram novos confrontos entre a polícia e pessoas que participavam de uma manifestação política proibida e não relacionada à Charlie Hebdo na capital do país, Niamey.

Já em Paris estava prevista uma concentração em memória da jovem agente da polícia Clarissa Jean-Philippe, assassinada por Amedy Coulibaly, o terceiro islamita e autor da tomada de reféns no supermercado kasher, que também foi abatido pela polícia.

Alerta na Europa prossegue

Nove das 12 pessoas detidas na sexta-feira na França seguiam em prisão preventiva neste domingo para ser interrogadas sobre um possível apoio logístico - sobretudo armas e veículos - a Amedy Coulibaly, informaram à AFP fontes judiciais.

O ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, indicou que todos os detidos eram conhecidos da polícia.

Por sua vez, a Bélgica mobilizou suas tropas pela primeira vez em 35 anos, depois que as forças de segurança desmantelaram uma célula terrorista preparada para atentar contra alvos policiais.

Após a detenção no sábado na Grécia de ao menos quatro pessoas suspeitas de ter relação com os jihadistas da Bélgica, as autoridades belgas descartaram neste domingo esta conexão.

A violência na França e na Bélgica e o aumento das medidas de segurança colocaram em evidência o medo de novos atentados provenientes de cidadãos europeus que voltam à Europa depois de terem lutado na Síria ou no Iraque junto a grupos islamitas.

Na quinta-feira, a coalizão internacional que combate o grupo Estado Islâmico (EI) realizará uma reunião em Londres, liderada pelo ministro das Relações Exteriores britânico, Philip Hammond, e por seu colega americano, John Kerry, para discutir o progresso da ação contra os jihadistas.

Não ceder

O ministro das Relações Exteriores francês, Laurent Fabius, condenou o uso da violência no Níger, enquanto o presidente Hollande disse que a França estava comprometida com a liberdade de expressão, um valor inegociável.

Em um discurso, o presidente francês convocou seus compatriotas a não mudar seus costumes, porque "fazer isso seria ceder ao terrorismo".

No entanto, uma pesquisa para o semanário "Le Journal du Dimanche" divulgada neste domingo mostrou que 42% dos franceses acreditam que os meios de comunicação deveriam evitar divulgar charges do profeta Maomé, e 50% são favoráveis a limitar a liberdade de expressão na internet e nas redes sociais. O editor chefe da Charlie Hebdo defendeu as charges, afirmando que elas protegem a liberdade religiosa.



"Toda vez que desenhamos uma caricatura de Maomé, toda vez que desenhamos caricaturas de profetas, toda vez que desenhamos uma caricatura de Deus, defendemos a liberdade de religião", afirmou Gerard Biard no programa "Meet the Press" da rede NBC.

A revista satírica, que tinha uma tiragem habitual de 60.000 exemplares, lançou uma "edição dos sobreviventes" especial que já vendeu 2,7 milhões de cópias apenas na França. Está prevista a impressão de um total de 7 milhões de exemplares.

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