Agência France-Presse
postado em 19/01/2015 08:35
Alberto Nisman, o procurador argentino que acusou a presidente Cristina Kirchner de fabricar a inocência do Irã no caso pelo atentado de 1994 contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em Buenos Aires foi encontrado morto em seu apartamento da capital argentina. "O procurador Nisman faleceu. Não podemos adiantar prognóstico da causa de morte", declarou na madrugada desta segunda-feira a procuradora Viviana Fein aos meios de comunicação presentes em frente ao luxuoso edifício do procurador, no bairro Puerto Madero de Buenos Aires."Posso confirmar que foi encontrada uma arma calibre 22. (A morte) foi por um disparo de arma de fogo", acrescentou. Fein confirmou que o procurador foi encontrado por sua mãe, contactada pelos seguranças pessoais do procurador - 10 agentes da polícia, no total - que alertaram a família diante da falta de resposta aos insistentes telefonemas no domingo.
[SAIBAMAIS]O procurador Nisman, de 51 anos, iria se apresentar nesta segunda-feira no Congresso para dar detalhes de sua dura denúncia contra a presidente Kirchner e seu chanceler Héctor Timerman, acusados por ele na quarta-feira passada de acobertar o Irã por seu suposto envolvimento no atentado contra a AMIA que deixou 85 mortos e 300 feridos em 1994.
O governo negou a denúncia do procurador, chamando-o de mentiroso e atribuindo a atuação de Nisman a uma operação dos serviços de inteligência. O corpo do procurador foi levado ao necrotério para que a causa de sua morte seja estabelecida. Nisman havia sido designado em 2004 por Néstor Kirchner como procurador especial para o caso AMIA, um ano após a anulação de um julgamento por irregularidades na investigação.
A denúncia
Em um relatório de 300 páginas, Nisman pediu uma investigação contra Kirchner, que supostamente teria favorecido a assinatura em 2013 de um Memorando de Entendimento entre Argentina e Irã para poder interrogar os acusados em um terceiro país e avançar em um caso estancado há 20 anos. A acusação de Nisman foi o último de uma série de confrontos entre funcionários de alto escalão e a justiça argentina sobre o esclarecimento deste atentado.
Além da investigação, Nisman havia pedido um embargo preventivo de bens no valor de 200 milhões de pesos (23 milhões de dólares) de Kirchner, de Timerman e de outros funcionários. A denúncia foi recebida com cautela por grupos da comunidade judaica, embora ao longo da semana tenham pedido que as provas que Nisman tinha fossem divulgadas.
Segundo o procurador, a posição do governo de Kirchner obedecia a seu interesse pelo petróleo iraniano porque "buscava restabelecer relações comerciais de Estado a Estado, sem prejuízo dos intercâmbios que já existiam em nível privado".
Afronta à institucionalidade
A deputada opositora Patricia Bullrich disse estar consternada com a morte do procurador e afirmou que este ocorrido é "uma grave afronta à institucionalidade do país". "Um procurador morto antes de dar um relatório ao Congresso em um caso onde há terrorismo internacional me parece de uma enorme gravidade", acrescentou Bullrich.
A deputada disse ter falado no sábado com Nisman três vezes e ele mencionou que havia recebido várias ameaças. "Disse que se sentia tranquilo e contou que explicou a situação a sua filha de 15 anos", disse a deputada em declarações ao canal C5N.
Para a audiência desta segunda-feira o procurador solicitava que seu comparecimento ocorresse em particular, mas parlamentares governistas exigiam que a audiência fosse pública e transmitida pela televisão.
Acusação vil, segundo o governo
O governo argentino rejeitou a denúncia "vil" do procurador. "Depois de anos contando com o apoio político do (falecido ex-presidente) Néstor Kirchner e da atual presidente, o procurador acusa vilmente a política mais ativa (...) em relação ao julgamento e castigo dos responsáveis pelo brutal atentado terrorista", afirmou Timerman em uma declaração na quinta-feira.
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A assinatura de um memorando de entendimento com o Irã - denunciado como inconstitucional pela AMIA e por outras organizações judaicas - aumentou a tensão nas relações entre o governo de Kirchner e esta comunidade, integrada por 300.000 membros, a maior da América Latina.
O governo defendeu o acordo bilateral com o Irã para investigar os acusados de planejar o ataque. Cinco ex-funcionários iranianos, entre eles um ex-presidente, atuais ministros e líderes religiosos locais, têm uma ordem de captura internacional da Interpol a pedido da justiça argentina.