postado em 19/01/2015 13:58
A comunidade judaica na Argentina reagiu nesta terça-feira (19/1) à morte do procurador federal Alberto Nisman. ;É uma catástrofe. A bomba da Amia explodiu novamente;, disse nesta manhã o presidente da Daia, Julio Schlosser, a principal organização da comunidade judaica na Argentina e a maior da América Latina. Na semana passada, Nisman acusou a presidente Cristina Kirchner e o chanceler Hector Timerman de terem negociado um plano com o Irã para encobrir os responsáveis pelo ataque terrorista de 1994, contra o centro comunitário judaico Amia, quando foram mortas 85 pessoas e centenas feridas.O chanceler argentino, Hector Timerman, foi surpreendido pela notícia em Nova York, onde participará da reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). ;Soube por mensagem de texto;, disse ao ser abordado por jornalistas. O promotor federal Alberto Nisman, encarregado de investigar o pior atentado fundamentalista na história da Argentina, foi encontrado morto na madrugada de hoje (19), horas antes de comparecer ao Congresso. Ele tinha sido convocado para apresentar as provas que o levaram a pedir a abertura de um inquérito contra a presidente Cristina Kirchner e o chanceler Hector Timerman.
O Secretario de Seguranca, Sergio Berni, disse que informou a presidente Cristina Kirchner tão logo recebeu a confirmacao da notíci. Segundo ele, todas as evidências levam para o suicidio. A promotora Viviana Fein, no entanto, pediu ;prudência; . Ela confirmou que foi encontrada uma arma calibre 22 no imóvel, mas evitou comentar as circunstâncias da morte.
Ela contou que a mãe do promotor foi contactada pelos seguranças pessoais do promotor, que alertaram a família que ele não respondia aos telefonemas, no domingo (18/1). O governo argentino ofereceu apoio para esclarecer a morte de Nisman. "O juiz tem todo o apoio por parte das forças de segurança para garantir o esclarecimento deste fato doloroso", disse o chefe de Gabinete do governo argentino, Jorge Capitanich. O depoimento de Nisman era esperado tanto por políticos da oposição quanto do governo. Os oposicionistas convocaram o promotor ao Congresso para que revelasse, em sessão secreta, o conteúdo de centenas de escutas telefônicas e o nome das pessoas que teriam participado no suposto complô denunciado por ele na semana passada. Os simpatizantes de Cristina Kirchner, além de desmentirem as acusações, exigiam uma sessão aberta, com a presença da imprensa, para desmascararem o que consideravam ser mentiras. A morte dele, horas antes, surpreendeu o país.
[SAIBAMAIS]Segundo as primeiras informações da policia, Nisman foi encontrado no banheiro, ao lado de uma arma e um cartucho. A promotora Viviana Fein, encarregada de investigar o caso, que o promotor morreu ontem a noite (18/1), antes do jantar e que não foi encontrada ;qualquer carta; explicando um suposto suicídio. Os resultados da autopsia serão divulgados na noite de hoje.
A morte de Nisman comoveu os argentinos. O país foi vítima de dois atentados terroristas nos anos 1990. O primeiro, em 1992, foi contra a Embaixada de Israel em Buenos Aires, que deixou um saldo de 29 mortos. Dois anos depois, um carro-bomba destruiu a sede do centro comunitário judaico Amia. Os responsáveis pelas duas tragédias jamais foram encontrados. A falta de resultados levou o ex-presidente Nestor Kirchner (2003-2007) a criar uma procuradoria especial para reabrir as investigações dos dois casos. Alberto Nisman foi o escolhido para centralizar todas as informações e pouco depois de ter sido nomeado acusou altos funcionários do regime iraniano de terem planejado o atentado. A bomba teria sido colocada pelo grupo xiita Hezbollah, com a ajuda de simpatizantes infiltrados na comunidade árabe da Triplice Fronteira ; Argentina, Brasil e Paraguai.
Em 2013, Nisman disse que tinha enviado à Justiça brasileira informação de que terroristas estariam infiltrados em vários países da região. Na lista dele estavam o Brasil, Paraguai, Chile, a Colombia, Bolivia e Trinidad e Tobago. A situação mudou em 2012, quando o governo argentino informou que o Irã tinha decidido colaborar e autorizaria a viagem de juízes e promotores argentinos a capital Teerã para tomar o depoimento dos suspeitos. Em contrapartida, a Argentina assinaria um memorando com o Irã criando uma Comissão da Verdade para investigar o caso.
Cristina Kirchner defendeu o acordo dizendo que era a única forma para destravar as investigações e que, depois de passar anos criticando a falta de cooperação dos iranianos, não tinha como se negar a uma proposta feita por eles para tentar esclarecer o crime. O governo da presidenta enfrentou duras criticas da oposição e de organizações judaicas, que consideram o regime iraniano ;pouco confiável;.