Agência France-Presse
postado em 19/01/2015 15:57
Violentos confrontos foram registrados nesta segunda-feira em Sanaa, capital do Iemên, onde a poderosa milícia xiita do Ansaruallah se aproximou do palácio presidencial para reforçar seu controle no país.Após longas horas de tensão, um cessar-fogo entre as milícias xiitas e guardas do palácio presidencial foi decretado a partir das 13h30 GMT (11h30 de Brasília) e já está em vigor, anunciou um funcionário dos serviços de segurança. A trégua foi decidida durante uma reunião com o presidente Abd Rabbo Mansur Hadi, os ministro do Interior e da Defesa e um representante das milícias xiitas de Ansarullah.
O fim dos combates foi confirmado por testemunhas e habitantes do setor da capital onde o palácio presidencial se localiza. O cessar-fogo foi anunciado pouco após um apelo da Liga Árabe a "todas as forças políticas" para acabar "com a escalada infeliz de violência no Iêmen".
As embaixadas americana e britânica também exigiram o fim das agressões. Os combates deixaram ao menos nove mortos e 14 feridos na cidade, segundo uma fonte médica. O presidente Abd Rabbo Mansur Hadi não chegou a correr riscos porque não estava no palácio presidencial.
O presidente, que raramente utiliza este palácio, trabalha em sua residência, onde negociou o cessar-fogo com um representante do Ansaruallah, de acordo com fontes políticas.
Milicianos xiitas alegaram ter tomado uma colina estratégica, perto do palácio. "Nós controlamos o Jebel Nahdine, com vista para o palácio presidencial, e nós permitiremos que os guardas deixem suas posições com uma arma de uso pessoal", declarou Ali al-Bukhaiti, líder da milícia Ansaruallah.
Os milicianos xiitas também dispararam contra o comboio do primeiro-ministro do Iêmen, Khaled Bahah, que conseguiu escapar são e salvo.
Ansaruallah quer acesso ao mar
As capacidades do governo parecem cada vez mais restritas, com a ministra da Informação anunciando que a televisão nacional e a agência de notícias estatal Saba estão fora do controle da autoridade do Estado.
Os milicianos xiitas, também chamados de Huthis, "recusam-se a publicar qualquer declaração do governo", segundo Nadia al-Sakkaf.
Os milicianos xiitas de Ansarullah, que entraram em setembro na capital, mobilizaram reforços no bairro do palácio, que segue atualmente sob o controle da guarda presidencial.
Esta guarda também reforçou sua presença neste setor localizado ao sul de Sanaa, perto da praça Sabeen, onde se encontra a residência do presidente Abd Rabbo Mansur Hadi.
A tensão aumentou em Sanaa no sábado após o sequestro do chefe de gabinete do presidente Hadi, reivindicado por milicianos xiitas. Ahmed Awad ben Mubarak é um dos arquitetos do projeto da nova Constituição.
Ben Mubarak, que supervisionou a redação do projeto, liderou o processo de Diálogo Nacional lançado após a saída do presidente Ali Abdallah Saleh, em fevereiro de 2012.
Desde que entraram na capital, os milicianos não pararam de ampliar sua influência a outras regiões do Iêmen, onde enfrentam combatentes sunitas e grupos relacionados à Al-Qaeda.
Os milicianos se opõem ao projeto de Constituição, que prevê um Iêmen federal, formado por seis regiões. Esta divisão os privaria de acesso ao mar, um dos seus principais objetivos.
Civis, vítimas colaterais
Os moradores de bairros próximos ao palácio presidencial fugiram em massa após o início dos confrontos. Sanaa parecia uma cidade fantasma na segunda-feira. A impressionante presença de milicianos desencorajou funcionários e alunos a ir ao trabalho e escola, informou um correspondente da AFP.
A região de origem do chefe de gabinete sequestrado, a província de Shabwa, parou nesta segunda sua produção de petróleo, de acordo com um funcionário do governo. Seu governador Ahmed Ali Belhaj explicou que esta decisão era um modo de expressar solidariedade com ben Mubarak.
Na vizinha província de Hadramut, os funcionários do campo de petróleo de Massila também pararam a produção em solidariedade a ben Mubarak, funcionário do setor de petróleo.
Estes acontecimentos complicam a tarefa do presidente Hadi, que lutam para estabelecer a sua autoridade.