Agência France-Presse
postado em 21/01/2015 07:42
Havana, Cuba - Estados Unidos e Cuba revisarão nesta quarta-feira (21/1) em Havana os convênios migratórios no início da histórica reunião de dois dias que preparará a retomada das relações diplomáticas, depois de deixarem para trás meio século de inimizade. Em discurso, o presidente norte-americano Barack Obama afirmou que a mudança de política em relação a Cuba "tem o potencial para acabar com um legado de desconfiança; nos EUA. Há cinco semanas uma aproximação com a ilha, celebrada pelo mundo inteiro.Obama pediu ao Congresso que comece a trabalhar neste ano para levantar o embargo econômico à ilha, em vigor desde 1962. "Estamos colocando fim a uma política que deveria ter terminado há tempos. Quando uma pessoa faz algo que não funciona durante 50 anos é hora de testar algo novo", acrescentou. Nestas negociações, as primeiras de alto nível desde 1980, as duas partes fixarão um mapa do caminho para a normalização das relações e a reabertura das embaixadas, com o objetivo de enterrar o último resquício da Guerra Fria na América.
A sessão de quinta-feira será liderada pela subsecretária de Estado para o Hemisfério Ocidental, Roberta Jacobson, e pela diretora dos Estados Unidos da chancelaria cubana, Josefina Vidal. "Cuba vai a estas negociações com um espírito construtivo, de diálogo, de respeito, sem prejuízo de sua soberania", antecipou um funcionário da chancelaria cubana citado por meios de comunicação locais.
[SAIBAMAIS]O último funcionário de alto escalão americano que visitou a ilha comunista foi o subsecretário de Estado Peter Tarnoff, em 1980. Tarnoff fez três viagens, nas quais falou com Fidel Castro, agora com 88 anos e afastado do comando desde 2006, que foi o grande ausente da histórica reconciliação entre os dois países.
Dois temas preocupam particularmente Havana: o embargo e a permanência de Cuba na lista americana de países que patrocinam o terrorismo, o que priva a ilha de créditos internacionais. Washington disse que a revisão da lista está em processo e que Cuba pode ser retirada antes da reabertura das embaixadas, fechadas em 1961 após a ruptura de relações diplomáticas. Os Estados Unidos advertiram, no entanto, que manterão seu compromisso com os direitos humanos na ilha.
Revisão de convênios migratórios
Nesta quarta-feira os dois países revisarão os acordos migratórios assinados após a crise dos balseiros de 1994, que preveem a entrega por parte de Washington de 20 mil vistos anuais de migração a cubanos e a repatriação dos balseiros interceptados no mar. A revisão destes convênios será liderada pelo subsecretário adjunto para o Hemisfério Ocidental, Edward Alex Lee, e por Josefina Vidal.
Os dois dias de reuniões irão ocorrer no Palácio de Convenções de Havana. As viagens entre os dois países aumentaram nos últimos dois anos, depois que o presidente cubano, Raúl Castro, eliminou os obstáculos para que seus cidadãos viajem ao exterior, e que Washington flexibilizou a entrega de vistos aos cubanos.
Lei de ajuste ou lei assassina?
Como pano de fundo do problema migratório estão a Lei de Ajuste Cubano de 1996, que concede benefícios aos cubanos que não são aplicados aos demais imigrantes nos Estados Unidos, e o medo de uma onda migratória descontrolada. "Não há planos de mudar a política americana quando se trata da Lei de Ajuste Cubano, que deve ser modificada pelo Congresso (...). Não antecipo que abordemos esse assunto nesta primeira discussão", declarou um funcionário do Departamento de Estado.
Cuba a considera uma "Lei Assassina", já que, segundo o país, incita a imigração ilegal a partir da ilha, deixando um número indeterminado de mortos no mar. "Os rumores e temores de que a Lei de Ajuste Cubano será abolida em breve já provocaram um aumento do número de cubanos que tentam chegar aos Estados Unidos", disse à AFP Jorge Duany, da Universidade Internacional da Flórida.