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Subsecretária dos EUA se encontra com dissidentes cubanos em Havana

Jacobson, que também visitará o cardeal cubano Jaime Ortega, foi anfitriã de um "café da manhã de trabalho" que contou com a presença de sete dissidentes

Agência France-Presse
postado em 23/01/2015 16:08
Havana, Cuba - A chefe da diplomacia americana para a América Latina, Roberta Jacobson, se reuniu nesta sexta-feira com vários dissidentes cubanos em Havana, um dia após ter participado das primeiras negociações de alto nível entre os dois países em 35 anos.

Jacobson, que também visitará o cardeal cubano Jaime Ortega, foi anfitriã de um "café da manhã de trabalho" que contou com a presença de sete dissidentes, entre eles Martha Beatriz Roque, Miriam Leiva, José Daniel Ferrer e Elizardo Sánchez.

A líder das Damas de Branco, Berta Soler, também foi convidada, mas rejeitou o convite, argumentando que a maioria dos presentes apoiam a política americana para Cuba, o que não é o seu caso."Não participei. Minha decisão é porque não houve um equilíbrio em relação à diversidade de opinião dos participantes", disse Soler à AFP, ao explicar suas razões para não aceitar o convite de Jacobson.

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Outros críticos da aproximação entre Washington e Havana, como Guillermo Fariñas e Antonio González-Rodiles, compareceram ao encontro, assim como Héctor Maseda, viúvo da fundadora e ex-líder das Damas de Branco, Laura Pollán.

"A reunião foi muito cordial, estamos satisfeitos com este encontro. Não posso falar por toda a sociedade civil cubana, mas eu estou satisfeito com a posição diplomática norte-americana e com a democracia dos EUA em seu sentido plural", disse Elizardo Sánchez, líder da Comissão Cubana de Direitos Humanos.

"Essa questão de saudarmos ou não o diálogo com o governo norte-americano eu diria que é secundária, que o importante é que nos mostremos unidos na liberdade, na democracia e no respeito aos direitos humanos. Essas são as questões fundamentais desse caso", disse José Daniel Ferrer, que dirige um grupo opositor muito ativo no lado oriental da ilha. Durante meio século, Washington foi o principal aliado dos opositores cubanos.

O encontro com os dissidentes aconteceu na residência do chefe da Seção de Interesses (SINA), que opera na ausência da embaixada. A mansão com lustres de cristal, quadra de tênis e piscina está situada em um bairro no oeste de Havana, onde vivem a maior parte dos diplomatas.


"Pressionamos o governo cubano"
Após a decisão de normalizar seus laços com Cuba, Washington afirmou que manterá seu compromisso com os direitos humanos na ilha comunista. "Como elemento central da nossa política, pressionamos o governo cubano para que melhore as condições dos direitos humanos, incluída a liberdade de expressão e de reunião", indicou a funcionária americana na quinta-feira, ao final das discussões com o governo cubano.

A chefe da delegação cubana, Josefina Vidal, reconheceu que a temática dos direitos humanos foi abordada no encontro a portas fechadas, embora tenha afirmado que não houve pressão.

"Eu te confirmo que a palavra pressão não foi usada. Não é uma palavra que se usa neste tipo de negociação. Cuba nunca respondeu nem nunca responderá a pressões", expressou Vidal.


"Diferenças profundas"

De acordo com uma fonte da Igreja, Jacobson, que é sub-secretária de Estado para o Hemisfério Ocidental, visitará na tarde dessa sexta-feira o cardeal Ortega, que se transformou em interlocutor privilegiado do governo de Raúl Castro.

Jacobson é a funcionária americana de maior escalão a visitar Cuba desde 1980, ano em que um enviado do presidente Jimmy Carter se reuniu com Fidel Castro, grande ausente do histórico processo de aproximação bilateral.

Jacobson e Vidal admitiram que seus países têm "diferenças profundas" em diversos temas, mas concordaram em continuar dialogando para normalizar suas relações.

Vidal disse que as delegações discutiram também a cooperação na luta contra o narcotráfico e o terrorismo, e contra o derramamento de petróleo no mar.

Cuba também propôs um "plano piloto para estabelecimento de comunicação direta entre os dois países", suspensa há meio século, e uma reunião bilateral para coordenar a luta contra o Ebola na África Ocidental, para nde Havana enviou 256 médicos e enfermeiros, disse Vidal.

Além disso, as duas partes negociaram outros assuntos pendentes que esperam solucionar antes da reabertura de embaixadas, que foram fechadas após a ruptura de relações, em 1961.

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