Agência France-Presse
postado em 24/01/2015 13:18
Kiev, Ucrânia - Os separatistas pró-russos anunciaram neste sábado uma ofensiva contra o porto estratégico de Mariupol, última grande cidade do leste controlada por Kiev, onde trinta civis morreram em bombardeios. "A ofensiva contra Mariupol começou hoje. Vai ser a melhor homenagem a todas as vítimas", declarou o líder da autoproclamada república de Donetsk, Alexander Zakharchenko.A conquista desta cidade industrial de meio milhão de habitantes, localizada à beira do Mar de Azov, permitiria à Rússia e aos rebeldes pró-russos criar uma ponte terrestre para a Crimeia, península ucraniana anexada por Moscou em março. Zakhartchenko negou a responsabilidade dos rebeldes pelos bomberdeios com lançadores múltiplos de foguetes Grad que mataram muitos civis no início da manhã. Neste contexto, o presidente ucraniano Petro Poroshenko garantiu que a "Ucrânia irá lutar até a vitória contra os separatistas".
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A representante da diplomacia europeia, Federica Mogherini, advertiu que esta escalada iria, "inevitavelmente, provocar uma grave deterioração das relações entre a UE e a Rússia", já atingida por sanções europeias e americanas. Fontes da União Europeia dizem que os chefes da diplomacia dos 28 países devem ser convocados esta semana a Bruxelas para estudar a situação ucraniana. A Letônia, à frente da presidência semestral da UE, pediu novas sanções contra Moscou, avaliando que a Rússia é "plenamente responsável pelo ataque de separatistas contra Mariupol", num tuíte do chefe da diplomacia letã, Edgars RinkerOtanvics.
A OSCE e a Otan condenaram o bombardeio em Mariupol. Segundo a OSCE, trata-se de um ato "imprudente, cego e vergonhoso" e a organização pediu um "cessar-fogo imediato". A Otan, por meio do secretário-geral, Jens Stoltenberg, acusou mais uma vez as "tropas russas na Ucrânia oriental (de apoiar) estas operações ofensivas com sistemas de defesa aérea equipados de mísseis avançados superfície-ar, aparelhos teleguiados, sistemas sofisticados de lança-foguetes e equipamentos eletrônicos militares".
Em Kiev, o primeiro-ministro Arseni Yatseniuk exigiu a convocação de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU. Ele apelou à comunidade internacional a "parar o agressor russo que ameaça a Ucrânia, a Europa e a segurança mundial". O número de mortos em Mariupol não para de aumentar, chegando a 30 vítimas, segundo o mais recente balanço. Até o momento, Mariupol havia sido poupada dos combates no leste da Ucrânia, que se limitavam aos arredores da cidade.
Este ataque sangrento em um bairro densamente povoado ocorre poucos dias depois de o exército ucraniano abandonar o aeroporto de Donetsk. O exército ucraniano declarou que tratou-se de "disparos rebeldes com lançadores múltiplos de foguetes Grad, nos arredores de Mariupol" e que casas foram destruídas. "Os rebeldes não têm necessidade de paz, eles executam as ordens do Kremlin para uma escalada da situação no Donbass", a região mineradora atormentada desde abril por uma rebelião armada pró-Rússia, acrescentou o Estado-Maior da operação ucraniana no leste em um comunicado.
O prefeito de Mariupol também indicou que um mercado foi atingido pelos tiros. "Todo mundo está em choque. O telefone celular não funciona e não conseguimos nos juntar a parentes que vivem nas áreas afetada", declarou por telefone à AFP Edward, um empresário de 32 anos. "Os rebeldes tomaram o aeroporto de Donetsk e agora eles estão bombardeando Mariupol", continuou ele, referindo-se ao revés sofrido nesta semana pelo exército ucraniano, que precisou abandonar as ruínas do aeroporto de Donetsk após vários meses de combates.
O conflito na Ucrânia, iniciado em abril, tomou um novo rumo com este revés amargo para o exército ucraniano. A batalha pelo que resta deste grande aeroporto internacional foi comparada com a de Stalingrado durante a Segunda Guerra Mundial.
Em fotos disponíveis em sites locais, é possível ver fogo e fumaça negra subindo acima de um bairro densamente povoado de Mariupol.
Conquistar Donetsk por completo
Embora o líder da autoproclamada república de Donetsk, Alexandre Zajarchenko, tenha prometido na sexta-feira conquistar toda a região de Donetsk, que inclui Mariupol, os rebeldes negaram neste sábado qualquer responsabilidade por esses bombardeios. "Os combatentes não abriram fogo sobre Mariupol, e muito menos contra bairros habitados", indicou uma agência de notícias rebelde, citando um "comandante militar" dos separatistas.
Este responsável denunciou "uma provocação" por parte das forças de segurança de Kiev, observando que os rebeldes controlam a cidade costeira de Novoazovsk, situada 40 km a leste de Mariupol. Após anexar sem combates em março a península da Crimeia, a Rússia é acusada por Kiev e os ocidentais de apoiar militarmente a rebelião separatista pró-russa no leste da Ucrânia, onde o conflito fez mais de 5.000 mortes em nove meses.
Atingido por pesadas sanções ocidentais por seu papel na crise, Moscou nega qualquer envolvimento na guerra. Neste contexto, as tentativas no final de dezembro e início de janeiro de reavivar o processo de paz através da organização de uma reunião entre Putin e Poroshenko, com a participação do presidente da França, François Hollande, e da chanceler alemã, Angela Merkel, fracassou com a retomada das hostilidades.
A OSCE condenou neste sábado o bombardeio "imprudente, cego e vergonhoso" de um bairro populoso do estratégico porto ucraniano de Mariupol, onde pelo menos 30 civis morreram. "Essa situação perigosa não pode continuar. Precisamos de um cessar-fogo imediato", declarou o chefe da missão de observadores da OSCE na Ucrânia, Ertugrul Apakan, em um comunicado.