Agência France-Presse
postado em 24/01/2015 14:05
Davos, Suíça - Ela se chama Inga Beale, e é a primeira mulher a dirigir a Lloyd;s of London, uma seguradora com 325 anos de história. Sua participação em Davos, um fórum onde impera a presença masculina, é muito significativa. Em entrevista durante o Fórum Econômico Mundial, ela explicou que a paridade entre mulheres e homens não se trata apenas de uma questão de justiça social, mas também de prosperidade econômica. "Os setores com maior diversidade a nível de direção e conselhos administrativos têm melhores resultados", afirma Inga Beale, que em 2013 se tornou a primeira mulher a dirigir a Lloyd;s, monumento do mundo dos seguros.
"Há toda uma população que devemos aproveitar. Os economistas têm estudado essa população deixada d elado, e estimam que o PIB dos Estados Unidos aumentaria 5% se tal população tivesse um emprego. Em outros países, o aumento seria até maior", diz.
Segundo ela, o mercado de seguros em Londres "está completamente desconectado", inclusive quando se trata do ambiente fortemente masculino dos alto quadros administrativos, que contam apenas com 4% de mulheres em cargos executivos.
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"Quando fui eleita conselheira delegada, eu tinha provavelmente todas as qualidades necessárias: a experiência internacional, sempre no setor, ter dirigido empresas...", conta Beale, que entrou para o mundo dos seguros em 1982 e já dirigiu grandes companhias do setor.
Mas enquanto mulher, "é preciso ser muito decidida, e ser capaz de ignorar algumas coisas que ocorrem para seguir adiante". "Houve momentos em que me perguntei: ;devo meu reconhecimento ao meu trabalho, ou a minha visibilidade como mulher?;", confessou.
As mulheres representam apenas 17% dos 2.500 líderes que se reúnem todos os anos na estação alpina de Davos, na Suíça, para fazer contatos e negócios e falar das grandes questões do mundo. O número tem aumentado com regularidade, mas a cada ano gera críticas.
Nesta 45; edição, foi organizado pela primeira vez o debate "Os dividendos da diversidade", onde foram abordadas não só as consequências da baixa taxa de emprego das mulheres, mas também o espaço de homossexuais e pessoas transgênero no mundo dos negócios.
Para Inga Beale, o cenário em Davos "reflete o que ocorre no mundo dos negócios". Num encontro que só poderia ocorrer em Davos, a atriz Emma Watson, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o presidente ruandês, Paul Kagame, e o conselheiro delegado da Unilever Paul Polman lançaram nesta sexta-feira uma nova iniciativa para a promoção de emprego entre as mulheres.
Na Lloyd;s, Beale lançou uma campanha para favorecer a diversidade. A companhia está crescendo rapidamente na China, América Latina e África, e "a melhor maneira de fazer isso bem é entendendo sua cultura, e contratando gente diferente", disse.
Mas o maior desafio é o que ela chama de discriminação "inconsciente", e que funciona em todos os sentidos. "Durante minha carreira me lembro de estar à frente de uma equipe majoritariamente feminina", conta.
"Eu não havia decidido contratar mulheres. Era inconsciente, mas talvez a gente acabe contratando pessoas que parecem conosco. Quando me dei conta disso, há vinte anos, pensei: caramba! Tenho que contratar de forma consciente pessoas que não sejam como eu".