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Após 70 anos, Europa se recolhe em Auschwitz preocupada com antissemitismo

A cerimônia reuniu cerca de 300 sobreviventes, vários chefes de Estado

Agência France-Presse
postado em 27/01/2015 16:30
Sobreviventes e personalidades durante a cerimônia que marca  o 70º aniversário da libertação do campo de extermínio de Auschwitz
Oswiecim, Polónia
- Emoções intensas e recolhimento, solidariedade e vontade de agir contra o antissemitismo crescente: esses são os sentimentos expressos pelos sobreviventes de Auschwitz e os chefes de Estado reunidos para celebrar o 70; aniversário da libertação do maior campo de extermínio nazista.

"Acreditei que seria incinerada aqui e que nunca viveria a experiência de meu primeiro beijo. Mas, eu não sei como eu, uma jovem de 14 anos, sobrevivi", conta Halina Birenbaum, nascida em Varsóvia em 1929 e que conheceu quatro campos de concentração nazistas, incluindo Auschwitz. Emigrou para Israel em 1947 e se tornou poetiza e escritora.

O presidente polonês, Bronislaw Komorowski, que abriu a cerimônia dando boas-vindas aos sobreviventes, expressou "respeito e gratidão" aos soldados soviéticos que libertaram Auschwitz, onde cerca de 1,1 milhão de pessoas foram exterminadas, entre elas um milhão de judeus.

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Ele corrigiu assim o constrangimento do ministro polonês das Relações Exteriores, Grzegorz Schetyna, que atribuiu a libertação do campo aos "ucranianos", incorrendo na ira de Moscou. Mas, ao mesmo tempo, Komorowski pareceu colocar em pé de igualdade "os dois totalitarismos", nazista e soviético, lembrando o extermínio das elites polonesas em Katyn pelos serviços especiais de Stalin.

A cerimônia reuniu cerca de 300 sobreviventes, vários chefes de Estado, incluindo o presidente francês François Hollande, o alemão Joachim Gauck e o ucraniano Petro Poroshenko, bem como os reis da Bélgica e Holanda.

As homenagens ocorreram em frente à entrada do campo de Auschwitz-Birkenau, coberto por uma espessa camada de neve, sob uma imensa tenda branca, erguida sobre os trilhos por onde passaram os trens transportando os judeus de toda a Europa para os fornos crematórios de Birkenau.


;Pilares da Recordação;
Memorial: familiares e amigos prestam homenagens aos que morreram no campo de concentração nazista de Auschwitz
Um dos "Pilares da Recordação" - generoso doador do Museu Auschwitz -, o americano Ronald S. Lauder, advertiu contra a ascensão do antissemitismo, citando "os acontecimentos recentes em Paris". Evocando o Holocausto, ele lançou o slogan que veio a ser o fio condutor da cerimônia. "Não deixem que isso aconteça novamente", concluiu.

Os líderes mundiais tinham nesta terça-feira os olhos voltados para Auschwitz. O papa Francisco tuitou uma mensagem em dez idiomas a seus 7,5 milhões de seguidores. "Auschwitz grita a dor de um sofrimento terrível e apela a um futuro de respeito, paz e aproximação entre os povos", escreveu o pontífice.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, prometeu "nunca esquecer" os seis milhões de judeus e muitos outros mortos pelos nazistas alemães, e pediu que a comunidade internacional assegure que "isso nunca volte a acontecer".

Antes de tomar o avião para Auschwitz, François Hollande denunciou no Memorial da Shoah em Paris o "flagelo" do antissemitismo, que "tem levado alguns judeus a questionar a sua presença na França. Você, francês de confissão judaica, o seu lugar é aqui. A França é a sua pátria", disse Holland.

O aniversário da libertação do campo de extermínio de Auschwitz, em 27 de janeiro de 1945, também é o Dia Internacional de homenagear às vítimas do Holocausto.


;Não reescrever a História;
Nem Washington, nem Moscou enviaram autoridades do alto escalão. A Rússia foi representada pelo chefe da administração presidencial, Serguei Ivanov. O presidente Vladimir Putin não quis viajar, já que não foi oficialmente convidado.

Em Moscou, Putin chamou de "inaceitável e imoral" toda "tentativa de reescrever a História", que muitas vezes esconde a "cumplicidade tácita, passiva ou ativa, com os nazistas".
Apelo do presidente tcheco

Em Praga, o presidente tcheco Milos Zeman pediu uma ação internacional, sob os auspícios do Conselho de Segurança da ONU, contra o grupo Estado Islâmico (EI) que prepara, segundo ele, "um enorme Holocausto" contra todas as religiões.

Vinte dias após os atentados jihadistas em Paris contra a revista satírica Charlie Hebdo e uma loja kosher, o Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (CRIF) anunciou nesta terça-feira que o número de atos antissemitas na França dobrou em 2014 em comparação a 2013. A cerimônia principal terminou ao som do shofar, um chifre usado em rituais judaicos, e a oração judaica para os mortos.

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