Agência France-Presse
postado em 28/01/2015 17:11
Atenas, Grécia - O novo governo da Grécia buscará com seus credores uma solução "viável, justa e mutuamente benéfica" ao problema da sua dívida, e "virar a página da austeridade", à espera de iniciar em breve uma delicada negociação com Bruxelas."Entre nossas prioridades está uma nova renegociação para encontrar uma solução justa, viável e mutuamente benéfica", disse o primeiro-ministro Alexis Tsipras.
O dirigente, de 40 anos, definiu seu gabinete de coalizão como "um governo de salvação nacional", que está disposto a "dar o sangue para recuperar a dignidade dos gregos".
Leia mais notícias em Mundo
O governo de Tsipras, integrado pelo partido de esquerda Syriza e a formação Gregos Independentes, de direita, pede à ;troika; de credores (a UE, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional) a renegociação dos termos dos dois planos de resgate, 240 bilhões de euros no total, concedidos em troca de um amplo programa de cortes e reforma e a redução da dívida do país, em torno de 175% do PIB.
Nas negociações que se anunciam, o ministro da Economia, Yanis Varoufakis, assegurou que "não haverá nenhum duelo, nem ameaças".
Segundo ele, a redução generalizada das receitas, aplicada como parte dos cortes foi um "erro tóxico", que enfraqueceu os cofres do Estado, incapaz portanto de pagar o empréstimo. Nesse sentido, disse que o objetivo do governo é "virar a página da política de austeridade", e pediu um ";New Deal pan-europeu para a recuperação".
Primeiras medidas e reações
Em uma primeira mostra de sua determinação, o governo anunciou que vai cancelar a privatização da empresa que administra o porto do Pireu, perto de Atenas. Um dos candidatos para a aquisição era o conglomerado chinês COSCO, que comprou dois terminais desse porto, e os manterá.
Igualmente, o executivo cancelará a privatização do porto de Tessalônica (norte), e a da companhia elétrica nacional, DEI, que fazem parte do amplo pacote de privatizações imposto pelos credores.
Outra medida com uma grande carga simbólica foi o anúncio da incorporação de centenas de faxineiras do ministério da Economia, que foram colocadas à disposição em setembro de 2013.
Os mercados financeiros até agora não receberam muito bem as primeiras declarações do governo de Tsipras, que ainda não disse os termos que quer negociar.
Nesta quarta-feira à tarde, a bolsa de Atenas caiu mais de 8%, e o rendimento do bônus do Tesouro grego a dez anos superou os 10%, acima dos 9,47% da véspera.
Demonstrações de flexibilidade
Diante das futuras negociações, a primeira visita a Atenas, nesta quinta-feira será a do presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz. Na sexta-feira será a vez do presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, com quem Varoufakis disse ter tido uma conversa telefônica marcada por um "excelente clima".
Até o momento, as reações dos dirigentes europeus oscilam entre a flexibilidade e as advertências. Sigmar Gabriel, vice-chanceler e ministro da Economia da Alemanha, defensora ferrenha das políticas de austeridade na Europa, pediu ao governo grego que seja "justo com o povo alemão e com a Europa, que ajudaram a Grécia com os pacotes de resgate".
Por outro lado, o comissário europeu de Assuntos Econômicos, Pierre Moscovici, excluiu uma "ruptura" entre a comissão europeia e as novas autoridades gregas, em uma entrevista ao jornal francês Le Parisien.
O comissário explicou que a Grécia quer "crescimento econômico e emprego, reduzir as desigualdades, enfrentar a dívida e se manter na zona do euro".
O presidente francês, François Hollande, convidou Tsipras para ir à Paris antes do próximo Conselho europeu, que acontecerá em meados de fevereiro.
Desde 2010, a Grécia acordou com a troika dois planos de resgate, em um total de 240 bilhões de euros, em troca de cortes orçamentários e reformas estruturais, como as privatizações.
Depois de seis anos de recessão, a Grécia voltou a crescer em 2014, mas tem um desemprego superior a 25%, o mais alto da Eurozona e seu PIB se contraiu desde 2009 cerca de 25%.
Em dezembro, a zona do euro decidiu prolongar dois meses o resgate, até o final de fevereiro. Para então prevê entregar a Atenas os últimos 7,2 bilhões de euros pendentes, condicionados às reformas e à restrição orçamentária.