Agência France-Presse
postado em 30/01/2015 17:58
A zona do euro e a Grécia tentaram acertar nesta sexta-feira (30/1) as suas diferenças, com Bruxelas advertindo que não se pode ignorar os compromissos e Atenas afirmando que não trabalhar com os supervisores de uma política de austeridade rejeitada nas urnas. "Ignorar os acordos prévios não é um caminho a seguir", disse o líder dos ministros da Economia da zona do euro, Jeroen Dijsselbloem, em coletiva de imprensa com o ministro grego Yanis Varoufakis.
Depois de dois planos de resgate internacionais de um total de 240 bilhões de euros, o executivo grego quer negociar uma redução de sua dívida (175% do PIB) e uma saída das medidas de austeridades impostas por esta ajuda. A Grécia deve ainda receber 7 bilhões de euros até o próximo mês, mas Varoufakis já declarou que o governo não quer esse dinheiro, que só aumentaria o problema em discussão.
Dijsselbloem disse nesta sexta-feira que "não houve conclusões" sobre o prolongamento ou não do programa, e que o governo grego deve determinar sua posição para que haja avanços. Varoufakis disse ao New York Times que seu governo não quer os 7 bilhões de euros pendentes e que o objetivo é "reestruturar a dívida e a economia para receber o dinheiro que precisamos".
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Na coletiva de imprensa com Dijsselbloem, Varoufakis explicou que seu governo buscará "a máxima cooperação" com os credores do país (UE, BCE e FMI), mas não trabalhará com os delegados que desde 2010 vigiam de perto o cumprimento das reformas e cortes exigidos. O executivo grego pede uma conferência internacional para eliminar boa parte da dívida grega e também de outros países europeus, como a realizada em 1953 em Londres para reduzir a dívida alemã.
Questionado sobre o assunto, Dijsselbloem respondeu que "essa conferência existe e se chama Eurogrupo", o foro dos 19 ministros de Economia da zona do euro. O holandês foi o segundo dirigente europeu a visitar Atenas, depois do presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, que na quinta-feira se reuniu com o primeiro-ministro Alexis Tsipras.
Dijsselbloem se reuniu também com Tsipras, com o vice-primeiro-ministro Yanis Dragasakis, que coordena as pastas econômicas, com Yorgos Stathakis, titular de Economia, e com Euclides Tsakalotos, secretário de Estado de relações econômicas exteriores na chancelaria. A bolsa de Atenas reagiu negativamente, e teve queda nesta sexta-feira de 1,85%. O índice dos bancos recuou 1,66%. O rendimento do título do Tesouro grego a dez anos se aproximou dos 11%.
Zona do euro, muito exposta
O governo grego deixou claras suas intenções desde quarta-feira, anunciando uma chuva de medidas contrárias às reformas e cortes exigidos desde 2010 pela troika de credores (UE, Banco Central Europeu e FMI). Em virtude dos resgates, os sócios da zona do euro (integrada por 19 países) já cederam cerca de 200 bilhões de euros à dívida grega, através de garantias a um fundo comum e de empréstimos bilaterais.
Por isso, tanto a Comissão Europeia como França e Alemanha, os dois países mais expostos (42 bilhões e 56 bilhões de euros respectivamente), não param de advertir Atenas sobre seus compromissos. Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão, o órgão executivo da UE, disse ao jornal francês Le Figaro que "não pretende eliminar a dívida grega, embora seja possível fazer alguns acertos".
Na mesma linha, o ministro francês da Economia, Michel Sapin, descartou também uma anulação da dívida, e disse que é possível, sim, reduzir a sua carga. "Falamos de dívida, de acordo para aliviar a carga. Mas anular a dívida, não, porque isso equivaleria a transferir o peso do contribuinte grego para o contribuinte francês", disse Sapin.
O vice-chanceler da Alemanha, Sigmar Gabriel, disse que espera que a Grécia cumpra com seus compromissos de reformas e disciplina fiscal, adotados em troca da assistência internacional. Alexis Tsipras estará na próxima terça-feira na Itália e na quarta-feira na França, para reunir-se com seu homólogo Matteo Renzi e com o presidente francês, François Hollande.