Agência France-Presse
postado em 03/02/2015 13:51
Lille, França - O personagem central da trama de prostituição francesa que levou Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor do FMI, à justiça negou nesta terça-feira (3/2) as acusações de proxenetismo agravado, indicando que fez apenas um favor aos seus amigos. A acusação considera René Kojfer, de 74 anos, ex-encarregado de relações públicas do hotel de luxo Carlton em Lille (norte), como o organizador de festas com prostitutas para empresários locais e policiais, com frequência em seu estabelecimento.A polícia de Lille iniciou a investigação do escândalo do Carlton com base em informações anônimas sobre as festas no hotel e em outro estabelecimento da cidade, para onde Kojfer levava as prostitutas para satisfazer alguns clientes. A vigilância policial e as escutas telefônicas levaram pouco a pouco ao surgimento de nomes, entre eles o de Strauss-Kahn, um especialista economista cotado inclusive como possível presidente da França, antes de ser detido nos Estados Unidos em 2011, acusado do estupro de uma camareira do hotel Sofitel de Nova York, Nafissatou Diallo.
[SAIBAMAIS]Kojfer teria conseguido prostitutas para várias pessoas próximas a Strauss-Kahn - que também estão entre os 14 acusados - que organizavam festas libertinas para o então diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional em Paris, Bruxelas e Washington. DSK, como é conhecido na França, declarou na segunda-feira, no entanto, que nunca foi ao Carlton e que não conhecia Kojfer nem o proxeneta belga Dominique Alderweireld, conhecido como "Dodo la Saumure", que empregava as prostitutas que estiveram nas festas libertinas nas quais o político participou.
Embora seja um elemento de menor importância no julgamento, o ex-ministro das Finanças, de 65 anos, é a maior atração no tribunal de Lille. Não voltará, no entanto, à audiência até a próxima semana, quando irá depor. O presidente do tribunal, Bernard Lemaire, leu as acusações contra Kojfer, acusado de organizar e se beneficiar da prostituição de oito mulheres, algumas das quais estiveram nas orgias de DSK.
Kojfer negou as acusações de proxenetismo agravado, afirmando que só fazia um favor aos seus amigos apresentando-os às prostitutas que conhecia. Seu advogado, Hubert Delarue, tentou apresentar Kojfer como um homem que aproveitava a vida tendo amigos bem situados, mas que, no fundo, era um ingênuo, um alcoólatra propenso a contar relatos absurdos sobre seus vínculos com os poderosos.
Kojfer reconheceu o que foi dito por seu advogado de defesa e acrescentou que sua ex-mulher o maltratava fisicamente. "De verdade quer que acreditemos que toda essa gente era amiga de um homem simples, de um ingênuo? Que não tinha mais nada a oferecer?", perguntou a promotora Aline Clerot.
Libertino confesso
O julgamento fornecerá certamente todo tipo de detalhes escabrosos sobre as festas libertinas, e Strauss-Kahn divide o banco dos réus com uma lista de personagens extravagantes que inclui responsáveis por hotéis de luxo, uma prostituta, policiais e o já famoso "Dodo la Saumure". Lemaire lembrou, no entanto, que "o tribunal não é o guardião da moral, mas da lei e de sua correta aplicação".
O ex-diretor do FMI reconheceu ser um adepto da libertinagem, não das prostitutas, e disse ignorar que as mulheres que participavam das festas fossem prostitutas. Acusado de ser o principal beneficiário e instigador de festas libertinas em Paris e Washington, Strauss-Kahn pode ser condenado a até 10 anos de prisão e a uma multa de 1,5 milhão de euros (1,7 milhão de dólares) por proxenetismo agravado.
O julgamento é o último de uma série de casos nos quais está envolvido o economista socialista, favorito das pesquisas para a eleição presidencial francesa de 2012 contra Nicolás Sarkozy. As imagens de DSK, algemado após sua prisão no Sofitel de Nova York em maio de 2011, comoveram a França. O caso de estupro foi resolvido, finalmente, pela via civil.