Agência France-Presse
postado em 05/02/2015 09:32
A presidente argentina, Cristina Kirchner, recebeu fortes críticas dentro e fora de seu país por um tuíte publicado durante uma visita de Estado à China, no qual a presidente brinca sobre a dificuldade dos asiáticos em pronunciar as letras L e R.Depois de ter sido recebida com grande pompa pelo presidente Xi Jinping e diante da multidão presente em um evento que terminou na quarta-feira em Pequim, a presidente tuitou: "Serão todos de ;La Cámpola;? Ou vieram apenas pelo ;aloz; e pelo ;petlóleo?;".
O comentário fazia referência a uma crítica frequente de seus opositores políticos internos, que afirmam que a presidência aumenta a presença em seus eventos com membros de La Campora, a organização juvenil de seu partido, liderado por seu filho, que comparecem apenas pela comida e bebida gratuita.
Após a onda de críticas que se seguiu ao tuíte, a líder argentina se defendeu na mesma rede social: "Sorry. Sabe o que mais? É que é tanto o excesso de ridículo e o absurdo, que só se digere com humor. Se não, são muito, mas muito tóxicos".
Brincadeira racista
O comentário foi amplamente divulgado pelos meios de comunicação argentinos e internacionais, mas foi nas redes sociais onde o assunto foi mais comentado.
"Racismo", "falta de tato", "brincadeira fácil", "erro", "brincadeira vergonhosa", "falta de respeito", "inútil"... Kirchner foi alvo de todo tipo de críticas, e não conseguiu acalmar os ânimos com os tuítes seguintes nos quais ressaltava "a calorosa acolhida" recebida na China.
Já os cidadãos chineses reagiram nas poucas redes sociais permitidas pela censura, como o Sina Weibo: "Que tal você pronunciar duas frases em chinês para que possamos ouvir sua pronúncia?", perguntou um.
Outro usuário deste serviço de microblogs similar ao Twitter escreveu: "É incrível como tem a coragem de mendigar investimento enquanto ridiculariza os chineses".
A polêmica chega num momento em que Kirchner é atingida pelo escândalo da morte do promotor Alberto Nisman, que antes de morrer acusou o governo de acobertar os responsáveis por um atentado em Buenos Aires em 1994, que deixou 85 mortos.
Algumas vozes na Argentina a acusaram de viajar à China para escapar do caso Nisman.
A imprensa oficial chinesa não se pronunciou sobre o incidente nem suas implicações diplomáticas, e um porta-voz do ministério das Relações Exteriores perguntado a respeito se negou a fazer comentários.
Xi Jinping tenta criar laços mais fortes com a América Latina e recentemente foi realizada em Pequim a cúpula da China-CELAC (Comunidade de Estados da América Latina e do Caribe).
A China é o terceiro sócio comercial da Argentina, atrás apenas do Mercosul e da União Europeia, e um dos principais destinos para seus produtos alimentícios. Pequim tem investimentos no valor de 23 bilhões de dólares na Argentina, principalmente em energia, mineração, setor agrícola e financeiro.
Na quarta-feira, depois de assinar 15 acordos, os presidentes de China e Argentina discutiram vários projetos conjuntos, incluindo a construção de represas, linhas férreas e usinas nucleares.
Kirchner, que conclui sua visita à China nesta quinta-feira, também se reuniu com o primeiro-ministro, Li Kequiang. Em uma entrevista coletiva, nenhum dos dois mencionou o polêmico comentário da presidente.