Agência France-Presse
postado em 09/02/2015 22:25
O líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, prometeu derrotar a força que combate o grupo "jihadista" nigeriano, que voltou a atacar, nesta segunda-feira, uma cidade no território do Níger. "Sua aliança não vai levar a nada. Reúnam todas as suas armas, e nós as enfrentaremos. Vocês são bem-vindos", ironizou em um novo vídeo Abubakar Shekau, líder do grupo islâmico que controla extensas áreas no nordeste da Nigéria e que tem multiplicado seus ataques mortais em outros países.Shekau prometeu vencer a coalizão regional mobilizada para lutar contra seu grupo, cuja insurreição ameaça se instalar nos países vizinhos. O governo nigeriano respondeu nesta segunda-feira, indicando que todas as bases do Boko Haram em seu território serão desmanteladas em seis semanas.
[SAIBAMAIS]"Todos os acampamentos conhecidos do Boko Haram serão extintos" no nordeste da Nigéria, declarou em entrevista à AFP Sambo Dasuki, conselheiro de Segurança do presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, que obteve da Comissão Eleitoral um adiamento de seis semanas para a realização de eleições presidenciais e legislativas no país.
Nesta segunda, porém, diferentes fontes informaram à AFP que o Boko Haram sequestrou no domingo 20 camaroneses que viajavam em um ônibus no extremo norte do Camarões e, em seguida, matou 12 deles. "O Boko Haram sequestrou 20 pessoas no domingo. Mataram 12 delas", relatou por telefone o encarregado de uma ONG local, Mey Ali.
Segundo uma fonte de segurança local, os passageiros estavam a bordo de um ônibus, quando "terroristas armados do Boko Haram" interceptaram o veículo. "O ônibus vinha de Koza e se dirigia para Mora", duas cidades do extremo norte, situadas perto da fronteira com a Nigéria, acrescentou a fonte.
Há meses, o Boko Haram multiplica seus ataques contra alvos civis e militares no norte do Camarões, onde 50 militares camaroneses perderam a vida desde o início desses ataques, em julho passado. Em 3 de fevereiro, o Exército do Chade lançou uma grande ofensiva terrestre na Nigéria, partindo do Camarões, e conseguiu arrebatar dos islamitas a cidade nigeriana de Gamboru.
O grupo respondeu dias depois com um ataque à cidade camaronesa de Fotokol, próxima a Gamboru. A ofensiva foi repelida pelas Forças Armadas chadianas e camaronesas. No total, morreram 81 civis, 13 militares chadianos e seis soldados camaroneses, segundo o ministro camaronês da Defesa. Outras fontes dizem que o número de vítimas é ainda mais elevado.
Neste fim de semana, Chade, Níger, Nigéria, Camarões e Benin chegaram a um acordo no sábado para mobilizar 8.700 homens em uma força regional na luta contra o grupo armado. Até agora, a previsão era reunir um efetivo de 7.500 combatentes. "Vocês vão enviar 7.000 soldados? Por que não enviam 70 milhões? Isso não é muito. Apenas 7.000? Por Deus, é pouco. Vamos capturá-los um por um", declarou Shekau em um vídeo de 28 minutos postado com outros dois no site do Youtube.
Esses novos vídeos do grupo islâmico mostram imagens do chefe da organização Estado Islâmico (EI), Abu Baqr al-Baghdadi, e fazem referência ao poderoso califado de Sokoto, estabelecido no século XIX em uma área que abrange o norte da atual Nigéria. O Boko Haram já proclamou um califado nos territórios sob seu controle no estado nigeriano de Borno (nordeste).
Medo em Diffa
O sudeste do Níger se tornou o alvo dos ataques dos jihadistas, com três ofensivas em quatro dias. Na manhã desta segunda, o grupo tentou tomar de assalto, sem sucesso, a prisão de Diffa, em uma operação que estaria orientada a libertar alguns combatentes presos. "Houve importantes tiroteios em Diffa. A prisão foi atacada", disse uma fonte de uma organização humanitária, enquanto outro colaborador declarou que "o ataque fracassou".
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Um jornalista de Diffa relatou à AFP ter visto "combatentes mortos do Boko Haram" no "veículo funerário da prefeitura", mas não conseguiu contar o número de corpos. "Uma vez derrotados, eles fugiram para tentar se (dispersar) na cidade. Os soldados estão fazendo buscas. O Exército cercou Diffa", disse o repórter.
O ataque foi "muito audacioso, e a população está com medo", comentou um jornalista nigeriano no local. Diffa, capital provincial, já havia sido atacada na sexta-feira e no domingo pelo Boko Haram. Os combates se concentraram principalmente na periferia da cidade, assim como em Bosso, 100 km a leste.
"A posição defensiva em que nos encontramos há três meses não é boa", afirmou no domingo o ministro nigeriano da Defesa, Mahamadou Karidjo, que espera a aprovação da Assembleia para "acabar com as forças do mal". "Os garotos (militares) estão impacientes", segundo o ministro.
Níger reforçará coalizão
Nesta segunda-feira, a Assembleia Nacional do Níger deveria aprovar um texto para dar o aval à mobilização de suas tropas contra o Boko Haram. O Níger seguirá, assim, os passos de Camarões e Chade, cujos governos já mobilizaram tropas na região. O Chade enviou tropas para as duas frentes. A insurreição do Boko Haram já deixou mais de 13 mil mortos e 1,5 milhão de deslocados na Nigéria desde 2009. Segundo Washington, conta com entre 4.000 e 6.000 homens.
Muito criticada por sua incapacidade de lidar com os islamitas, a Nigéria anunciou no sábado à noite um adiamento de seis semanas de suas eleições gerais. Em razão das dificuldades logísticas e de segurança ligadas ao avanço dos insurgentes, a votação será em 28 de março. Nesta segunda, o conselheiro para a Segurança do presidente, Sambo Dasuki, confirmou que as eleições serão mesmo realizadas no dia 28.
Em dezembro, o governo nigeriano anunciou "a maior operação militar já montada no Níger" na região de Diffa, a fim de proteger a fronteira com a Nigéria. De acordo com o governador de Diffa, "cerca de 3.000" soldados do Níger estão posicionados "a cada 10 km, ou 15 km ao longo da fronteira".