Agência France-Presse
postado em 13/02/2015 21:26
A violência imperava nesta sexta-feira no leste separatista pró-russo da Ucrânia, onde pelo menos 28 pessoas morreram, apesar dos acordos de paz assinados na véspera em Minsk e das ameaças ocidentais de mais sanções contra a Rússia se o conflito não terminar.O plano de paz assinado na capital bielorrussa, após 16 horas de negociações entre Kiev e os separatistas, na presença de Alemanha, França e Rússia, prevê um cessar-fogo a partir da 00h de domingo, hora local. Também exige a posterior retirada de armas pesadas das duas partes para por um fim a um conflito que deixou quase 5.500 mortos em 10 meses.
O acordo corre, no entanto, um "grande risco", admitiu nesta sexta-feira o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, que acusou os separatistas de "atacar os acordos de Minsk" ao bombardear os povoados civis do leste do país.
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Ele se referiu ao ataque dos rebeldes com lança-foguetes múltiplos Grad contra a cidade de Artemivsk, situada a mais de 30 km da linha de frente, que deixou três mortos nesta sexta-feira, entre eles um menino de sete anos.
Pelo menos 16 civis e 12 militares ucranianos morreram nesta sexta-feira, segundo os últimos balanços de Kiev e dos rebeldes pró-russos.
O presidente ucraniano também acusou a Rússia de se manter presente no leste da Ucrânia. "Infelizmente, após os acordos de Minsk, a operação ofensiva da Rússia aumentou significativamente", lamentou Poroshenko.
Os Estados Unidos, por sua vez, voltaram a acusar a Rússia de continuar enviando armas pesadas para o leste da Ucrânia. "Estamos muito preocupados com a continuação dos combates (...) e por informes sobre tanques e sistemas de mísseis suplementares que chegaram estes últimos dias do outro lado da fronteira, da Rússia", declarou a porta-voz do Departamento de Estado, Jennifer Psaki.
Kiev e os países ocidentais afirmam que o Kremlin incentiva a insurreição dos rebeldes do leste, fornecendo-lhes armas e tropas, algo que Moscou sempre negou.
O chefe adjunto da administração presidencial ucraniana, Valery Chaly, assegurou, em um programa de TV, que "se o cessar-fogo fracassar, a Ucrânia receberá ajuda militar do Ocidente", em um novo sinal de que o plano de paz está em risco.
Na quinta-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, que participaram das negociações em Minsk, já deixaram claro que o acordo seria difícil de aplicar e abriram a porta a novas sanções contra a Rússia se não for respeitado o cessar-fogo.
Combates em cidade-chave
No reduto separatista de Donetsk, prosseguia o fogo de artilharia procedente, sobretudo, das posições rebeldes, comprovou um jornalista da AFP.
Mas combates foram travados em toda a linha frente e ;drones; (aviões sem piloto) dos rebeldes "sobrevoaram a região do conflito", informou nesta sexta-feira o Exército ucraniano.
Este último também destacou confrontos em torno da cidade estratégica de Debaltseve, onde os separatistas pró-russos asseguram ter "cercado" milhares de soldados ucranianos, o que Kiev nega.
Vários analistas avaliam que os separatistas vão tentar conquistar a cidade, que liga os redutos de Donetsk e Lugansk, antes da entrada em vigor do novo cessar-fogo.
Acordos insuficientes
A maioria dos analistas acredita que o novo acordo de paz é insuficiente, já que não prevê mecanismos concretos para resolver questões litigiosas. Não se aborda, por exemplo, o controle da fronteira com a Rússia, da qual 400 km estão nas mãos dos rebeldes e pela qual, segundo Kiev e o Ocidente, a Rússia faz chegar armas e tropas.
Um controle ucraniano? "Não acredito. Nós ficaremos aqui", afirmou nesta sexta-feira um responsável separatista de Uspenka, um dos lugares que fazem fronteira com a Rússia.
O chefe da diplomacia ucraniana, Pavlo Kimkin, reconheceu nesta sexta-feira diante dos deputados que nem se quer têm data para a retirada das forças estrangeiras do território ucraniano.
O futuro da piloto ucraniana Nadia Savchenko, detida na Rússia e cuja libertação é exigida por Kiev, tampouco ficou claro após as negociações de Minsk. Apesar do anúncio de uma troca de prisioneiros e reféns, o Kremlin assegurou que só a justiça russa poderia tomar uma decisão a respeito.