Agência France-Presse
postado em 14/02/2015 15:50
Separatistas pró-Rússia intensificaram neste sábado os ataques contra as cidades estratégicas do leste da Ucrânia, a poucas horas da entrada em vigor do cessar-fogo, que parece cada vez mais comprometido. Os principais combates eram registrados em Debaltseve, cidade ferroviária estratégica entre as capitais rebeldes de Donetsk e Lugansk, e no porto de Mariupol, no Mar de Azov, indicou o Exército da Ucrânia.Ao menos 14 pessoas, oito militares ucranianos e seis civis, morreram nas últimas 24 horas o leste do país, depois dos 28 mortos da véspera. O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, anunciou que falará por telefone este sábado antes do cessar fogo previsto para as 22H00 GMT (20h00 de Brasília) com o presidente francês François Hollande e a chanceler alemã Angela Merkel, que participaram nos últimos acordos de paz em Minsk. Depois ligará para seu colega americano, Barack Obama.
[SAIBAMAIS]A Rússia se mostrou, por sua vez, preocupada e acusou Kiev e os países ocidentais de "deformar o conteúdo dos acordos de Minsk", que preveem, entre outras coisas, um cessar-fogo no leste da Ucrânia e a posterior retirada de armas pesadas por parte dos dois lados. Os combates prosseguiam em Debaltsevo, uma cidade ferroviária estratégica entre as capitais rebeldes de Donetsk e Lugansk, e no porto de Mariupol, às margens do Mar de Azov, indicou o exército da Ucrânia.
"Os rebeldes destroem Debaltseve. Os disparos de artilharia contra os prédios residenciais e administrativos não param. A cidade está em chamas", afirmou o o chefe da polícia regional do governo, Viacheslav Abroskin, em sua página no Facebook. A evolução da situação nestes dois pontos de tensão e nas ruínas do aeroporto de Donetsk são um teste importante para o cessar-fogo acertado na última quinta-feira dentro dos acordos de Minsk 2.
O cessar-fogo foi fechado após uma sessão maratônica de negociações entre os presidentes da Ucrânia, Petro Poroshenko; Rússia, Vladimir Putin; França, François Hollande; e a chanceler alemã, Angela Merkel. Neste sábado, "os rebeldes, com lança-foguetes múltiplos e tanques, realizaram várias incursões" contra as posições ucranianas no sudeste de Debaltseve, onde as tropas do país estavam praticamente cercadas, indicou o Exército.
Em Debaltseve, há sistemas de defesa antiaérea "russos, e não separatistas", afirmou o embaixador americano na Ucrânia, Geoffrey Pyatt. Voluntários do regimento Azov, que defende Mariupol, afirmaram que "blindados russos sem identificação entraram em território ucraniano a partir de Novoazovsk", cidade litorânea na fronteira com a Rússia e sob controle rebelde localizada a 30km de Mariupol.
Os combates também se intensificam nas proximidades de Mariupol. O exército ucraniano assegurou ter localizado 14 voos de drones inimigos na direção desta cidade. "O inimigo começou a atacar às 5h nossas posições em Chirokin. Usa tanques e artilharia", afirmou o regimento. Chirokin fica a 10km de Mariupol, cuja ocupação seria uma etapa-chave para a construção de uma ponte entre Rússia e Crimeia, península ucraniana anexada em março.
Em Donetsk, reduto rebelde, foram registrados esta manhã disparos de artilharia. "Houve mais tiros do que o de costume. É sempre assim antes de um cessar-fogo", disse à AFP Marina Vassilievna, 52, enquanto caminhava para o mercado. Os combates deixaram ontem 28 mortos no leste da Ucrânia. Poroshenko acusou os rebeldes de "atacarem os acordos de Minsk" ao bombardearem a população civil do leste do país.
Kiev e os países ocidentais afirmam que o Kremlin incentiva os rebeldes do leste, com o fornecimento de armas e tropas, o que Moscou nega. O texto do acordo Minsk 2, fechado após 16 horas de negociação entre os líderes da Rússia, Ucrânia, França e Alemanha, projetou esperança, no momento em que o conflito se agrava, após 10 meses de hostilidades, que deixaram 5,5 mil mortos.
O presidente ucraniano também acusou a Rússia de continuar presente no leste da Ucrânia. "Infelizmente, após o acordo de Minsk, a ofensiva da Rússia aumentou significativamente", lamentou Poroshenko, referindo-se ao ataque dos rebeldes com lança-foguetes contra a cidade de Artemivsk, a mais de 30 km da linha de frente.
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O cessar-fogo será a primeira prova do compromisso de Kiev e dos rebeldes com a assinatura do acordo. Com os separatistas lutando para conquistar o que puderem de território antes da entrada em vigor do documento, existe o temor de que a trégua não seja respeitada.
Os Estados Unidos voltaram a acusar Moscou de continuar enviando armas pesadas ao leste da Ucrânia. "Estamos muito preocupados com a continuação dos combates (...) e com relatórios sobre tanques e sistemas de mísseis suplementares que chegaram nos últimos dias da Rússia", declarou a porta-voz do Departamento de Estado, Jennifer Psaki. Neste sentido, G7, Conselho Europeu e Comissão Europeia pediram o respeito aos acordos.
O adjunto da administração presidencial ucraniana, Valery Chaly, afirmou que, "se o cessar-fogo fracassar, a Ucrânia receberá ajuda militar do Ocidente". A maioria dos especialistas acredita que o novo acordo de paz é insuficiente, uma vez que não prevê mecanismos concretos para resolver questões litigiosas. Não menciona, por exemplo, o controle da fronteira com a Rússia, da qual 400 quilômetros estão nas mãos dos rebeldes, e pela qual, segundo Kiev e o Ocidente, a Rússia infiltra armas e tropas.