Agência France-Presse
postado em 14/02/2015 16:00
Centenas de combatentes do grupo islamita Boko Haram invadiram neste sábado a capital do estado de Gombe, nordeste da Nigéria, e pediram um boicote às eleições do fim de março. Após permanecerem por várias horas na cidade, eles se retiraram, sem combater. Pouco antes, o governo da Nigéria havia decretado um toque de recolher de 24 horas no estado de Gombe. "Os combatentes do Boko Haram estão na pracinha de Jeka da Fari, no centro da cidade, atirando indiscriminadamente e espalhando folhetos pedindo às pessoas que não participem das eleições", contou Ali Dahiru, morador da cidade. Outra testemunha disse que os islamitas entraram na cidade por volta das 9h locais e avançaram sem a intervenção das forças de segurança. Um avião militar sobrevoou a localidade, mas não fez nada, denunciaram moradores.
[SAIBAMAIS]"Recebi ligações de amigos de Kwadam, localizada a 5km, dizendo que eu deveria abandonar a cidade, porque o Boko Haram estava a caminho", contou Kabiru Na-Gwandu, que mora perto do quartel militar de Gombe. "Saí de casa com minha família antes de eles chegarem à cidade, e fico feliz por tê-lo feito, porque, segundo me contaram, eles tomaram as instalações militares", acrescentou.
Gombe já havia sido alvo de ataques suicidas e atentados a bomba atribuídos ao Boko Haram, que, há seis anos, ganha terreno no nordeste da Nigéria. Moradores contaram que, antes da invasão de hoje, milicianos do Boko Haram acamparam no povoado de Hani, a 36km de Gombe, onde anunciaram que ocupariam a sede do governo.
"Chegaram por volta das 6h locais e tomaram o posto de controle militar que, curiosamente, havia sido abandonado na quinta-feira pelos soldados", disse um morador à AFP. O Exército nigeriano lançou na semana passada uma ofensiva aérea e terrestre aos acampamentos do Boko Haram na floresta de Galda, onde suspeita-se de que os islamitas se escondem.
Nas últimas semanas, o Boko Haram intensificou sua ofensiva na Nigéria e nas cidades fronteiriças dos países vizinhos. Os combatentes do Boko Haram atacaram ontem o território do Chade pela primeira vez, tendo como alvo uma aldeia às margens do lago Chade. O Boko Haram, que deseja criar um "califado" no norte da Nigéria, na fronteira com Camarões, Chade e Niger, iniciou sua campanha militar há seis anos.
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O presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, pediu a ajuda dos Estados Unidos para combater os islamitas, segundo uma entrevista concedida ao "Wall Street Journal" na sexta-feira. "Não combatem o Estado Islâmico? Por que não vêm à Nigéria?", questionou Jonathan. "Os americanos são nossos amigos. Se a Nigéria tem um problema, espero que os Estados Unidos venham nos ajudar."
A declaração do presidente é feita meses depois do avanço militar e territorial do Boko Haram no nordeste da Nigéria. O grupo multiplica seus ataques, sem encontrar uma resistência efetiva do Exército daquele país. A rebelião do Boko Haram na Nigéria e sua repressão já deixaram mais de 13 mil mortos e 1,5 milhão de desabrigados naquele país desde 2009. Neste contexto, as eleições presidenciais e legislativas foram adiadas por seis semanas, para 28 de março.
A relação entre Nigéria e Estados Unidos tornou-se tensa no fim de 2014. Em dezembro, a Nigéria impediu a formação, pelos Estados Unidos, de um batalhão nigeriano para cobater o Boko Haram. O embaixador da Nigéria em Washington havia criticado, pouco antes, a recusa do governo americano a vender armas a seu país. Desde o começo do conflito, em 2009, foi registrada a morte de 13 mil pessoas no país.