Agência France-Presse
postado em 16/02/2015 12:51
Kiev, Ucrânia - O exército ucraniano e os rebeldes separatistas trocaram acusações nesta segunda-feira de violar o frágil cessar-fogo iniciado neste final de semana, e alertaram que não é possível proceder com a retirada das tropas da linha de frente nessas condições. Paralelamente, a União Europeia publicou uma nova lista negra de pessoas e entidades sancionadas por seu envolvimento no conflito ucraniano. Entre os nomes figuram dois vice-ministros russos da Defesa. Moscou prometeu uma resposta "adequada", denunciando sanções "incoerentes e ilógicas".
Sinal da extrema fragilidade do cessar-fogo, pelo menos cinco soldados ucranianos morreram desde a noite de sábado em combates perto de Mariupol, parte sul da linha de frente.
Enquanto intensos combates ocorriam em diversos pontos da linha de frente, um porta-voz militar ucraniano anunciou à AFP que a retirada das armas pesadas, prevista nos acordos de paz de Minsk 2 assinados na semana passada entre rebeldes e ucranianos, estava de fato sendo reavaliada.
"No momento, está fora de questão a retirada das armas pesadas. Como é que vamos retirar as armas se os rebeldes tentam nos atacar com tanques e atiram contra nós?", declarou o porta-voz do estado-maior do Exército ucraniano, Vladislav Seleznev.
A retirada das armas pesadas, prevista para a noite desta segunda-feira, deve começar 48 horas mais tarde "depois que os tiros pararem, o que não é o caso no momento", ressaltou. Os rebeldes fazem a mesma constatação, acusando o exército ucraniano de atirar sobre o aeroporto de Donetsk.
"A retirada das armas pesadas (...) só pode ser realizado mediante certas condições e especialmente após o término completo dos tiros", declarou Edouard Bassourine, militar separatista citado pela agência oficial dos rebeldes.
Trinta e seis horas após o início do cessar-fogo acordado após 16 horas de negociações em Minsk entre dirigentes da Alemanha, França, Rússia e Ucrânia, intensos combates continuavam ao redor da cidade estratégica de Debaltsevo, onde estão estacionados diversos milhares soldados ucranianos ameaçados com o cerco.
5.000 civis bloqueados em Debaltsevo
Os separatistas, que querem tomar este entroncamento ferroviário estratégico, atiraram 112 vezes em 24 horas contra as posições ucranianas, incluindo 90 vezes contra Debaltsevo e cidades vizinhas, declarou nesta segunda-feira um porta-voz militar ucraniano, Anatoli Stelmakh.
Os rebeldes que bombardearam a cidade especialmente com lança-foguetes múltiplos, "receberam a ordem de tomar Debaltsevo a qualquer custo", garantiu. No conjunto da linha do front, "nossos militares só atiraram para revidar", afirmou.
Uma funcionária da prefeitura de Debaltsevo, Natalia Karabouta, que teve que sair da cidade, informou à AFP que cerca de 5 mil civis estavam bloqueados no local, onde até mesmo o abastecimento de pão foi interrompido em razão das hostilidades.
"O dia estava tranquilo ontem, quando só havia tiros de revólver, mas hoje tudo recomeçou, dá pra ouvir explosões a toda hora", acrescentou. "As pessoas não podem mais sair porque estão atirando contra a estrada (...) Eles não têm nem pão nem água", disse.
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Em Sofia, o chefe da diplomacia ucraniana, Pavlo Klimkine, pediu a aplicação total dos acordos de paz de Minsk visando colocar um fim a este conflito que já matou mais de 5.500 pessoas em dez meses.
"É necessário agora parar com os tiros, retirar a artilharia pesada e começar a troca de prisioneiros, de forma que a ajuda humanitária possa chegar até as pessoas (...) e que nós possamos recomeçar o processo político", ressaltou o chanceler.
A reavaliação dos acordos de paz no leste da Ucrânia ocorre no dia seguinte à conversa telefônica entre o presidente francês, François Hollande, a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente ucraniano, Petro Porochenko.
Durante a conversa, divulgada pela presidência francesa, os quatro dirigentes estimaram que o respeito ao cessar-fogo era globalmente satisfatório apesar dos incidentes locais.
O presidente ucraniano pediu respeito ao cessar-fogo em toda a linha de frente, "incluindo em Debaltsevo".