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Intensos combates em Debaltsev ameaçam trégua no leste da Ucrânia

O presidente ucraniano, Petro Porochenko, pediu uma resposta dura contra Moscou após a ofensiva rebelde na cidade

Agência France-Presse
postado em 17/02/2015 18:37
Autoridades ucranianas acusaram, nesta terça-feira, a Rússia e os rebeldes pró-russos de "desrespeitar" o acordo de paz no leste do país, onde separatistas entraram na cidade de Debaltsev, apesar do cessar-fogo. Entre bombas e tiros de armas automáticas, os pedidos do Ocidente - especialmente da União Europeia - para a retirada das armas pesadas da linha de frente ficaram inaudíveis.

O presidente ucraniano, Petro Porochenko, pediu uma resposta dura contra Moscou após a ofensiva rebelde na cidade. "É um ataque cínico contra os acordos de Minsk", concluídos na semana passada, disse o presidente. "O mundo deve conter esse agressor", continuou, pedindo ao Ocidente uma reação "severa".

O exército ucraniano reconheceu pela primeira vez o cerco a "diversas" de suas unidades militares na cidade estratégica de Debaltsev, palco de violentos combates contra os rebeldes pró-russos. Combates acirrados opondo rebeldes aos soldados ucranianos continuavam na noite desta terça-feira.

[SAIBAMAIS]Os separatistas reivindicam o controle de 80% da cidade. Kiev, contudo, garante que apenas uma "parte" de Debaltsev estava fora de seu controle. "Nos próximos dias, quem sabe mesmo hoje, os separatistas irão fazem uma ;limpa; em Debaltsev", afirmou uma fonte militar rebelde, Vladimir Kononov.

O presidente russo, Vladimir Putin, pediu a Kiev que permita aos soldados ucranianos cercados pelos rebeldes que deponham suas armas. "Eu espero que as autoridades ucranianas não impeçam aos soldados ucranianos depor suas armas", disse Putin em uma coletiva de imprensa em Budapeste, acrescentando que também esperava que Kiev não tome medidas legais caso os soldados decidam não lutar.

Putin também afirmou que o conflito na Ucrânia não poderia ser resolvido por "meios militares". "Nós não poderemos resolver este problema pela via militar, só poderemos entrar em acordo" por meio das negociações, disse Putin, durante a coletiva conjunta com o premiê húngaro, Viktor Orban, destacando que os acordos de paz alcançados em Minsk dão uma "chance" para uma solução pacífica do conflito.

O Conselho de Segurança da ONU pediu, em declaração unânime, um "cessar imediatamente das hostilidades" no leste da Ucrânia. Os 15 países-membros do Conselho, entre eles a Rússia, também pediram para "respeitar os acordos concluídos em Minsk, sobretudo para facilitar o acesso aos observadores da OSCE", a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa.

Se o acesso à cidade de Debaltsev estava bloqueado pelos combates em curso, jornalistas da AFP testemunharam violentos enfrentamentos nos arredores de Chernukhin, cidade a quatro quilômetros dali, que foi praticamente toda destruída pelo conflito. "Os combates dos últimos dias para tomar Chernukhin e avançar para Debaltsev foram muito mortíferos, até mesmo para nós", disse à AFP um comandante separatista em Chernukhin, enquanto Kiev divulga um balanço de pelo menos dez soldados mortos desde o início da trégua.

Os separatistas também faziam uma pressão psicológica nos soldados ucranianos enviando uma avalanche de mensagens de texto pedindo sua rendição. "Os generais traíram vocês", dizia uma das mensagens mostradas à AFP por uma jornalista ucraniana perto de Debaltsev.

Milhares de civis fugiram nas últimas semanas de Debaltsev, mas pelo menos 5 mil continuam bloqueados na cidade - sem água e sem comida, segundo a prefeitura. Tetiana Ogdanska, vice-prefeita da cidade, que foi para outro local, declarou à AFP que tem recebido muitos pedidos de ajuda dos moradores que permanecem por lá. "Há muitos civis feridos no subsolo onde eles se escondem e a única enfermeira no local não pode ajudá-los", contou Ogdanska, citando o testemunho de uma de suas colegas.

OSCE impedida de ir até Debaltsev


A ofensiva rebelde na cidade ocorre três dias após a instauração de um cessar-fogo no leste. A trégua foi violada desde segunda-feira, dissipando qualquer esperança da retirada de armas pesadas da linha de frente após dez meses de um conflito que deixou pelo menos 5.500 mortos. A União Europeia pediu a retirada imediata das peças de artilharia, como prevê o acordo de cessar-fogo. Bruxelas também pediu a suspensão total das hostilidades e de "qualquer operação militar".

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"O desenrolar dos eventos não são muito encorajadores", reconheceu a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, em visita a Lisboa, rejeitando falar num "fracasso" total dos acordos de paz. "Os russos sabem muito bem e os separatistas também que não somente a Europa, mas toda a comunidade internacional aguarda o cumprimento dos acordos" de Minsk, acrescentou.

Os Estados Unidos já haviam questionado o Kremlin, acusado há um mês por Kiev e pelo Ocidente de armar os rebeldes e de enviar tropas à Ucrânia, o que Moscou desmente com firmeza. A situação em Debaltsev esteve no centro de diversas conversas telefônicas entre o presidente ucraniano Petro Porochenko e o presidente francês François Hollande e a chanceler alemã Angela Merkel, mas também com Merkel e o presidente russo Vladimir Putin, antes de falar com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry.

Ao longo da conversa, Merkel, Putin e Porochenko decidiram "medidas concretas" para permitir que os observadores da OSCE cheguem a Debaltsev, segundo Berlim. A missão da OSCE teve sua entrada em Debaltsev recusada pelos rebeldes no último domingo, e se tentava repetir a operação nesta terça-feira, mas não há sinais de que tenham conseguido graças às hostilidades.

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