Agência France-Presse
postado em 22/02/2015 19:43
Aumenta na Grã-Bretanha a preocupação de pais e do governo com as adolescentes que querem viajar para a Síria, depois que três garotas fugiram de casa na semana passada.As amigas Kadiza Sultana, de 17 anos, Shamima Begum e Amira Abase, ambas de 15, saíram de casa, em Londres, na última terça-feira, e embarcaram para Istambul. O trio teria viajado para se unir às fileiras do grupo Estado Islâmico (EI).
Em dezembro passado, as menores chegaram a ser interrogadas pela polícia, depois que uma amiga delas foi para a Síria. A Scotland Yard insiste, porém, em que não havia qualquer indício de que as três pretendiam seguir os passos da amiga.
O pai de Amira, Hussen Abase, de 47, disse não ter notado nada de estranho no comportamento da filha, quando ela lhe falou que iria a um casamento. Em vez disso, Amira seguiu para o aeroporto de Gatwick e tomou um avião para a Turquia, porta de entrada para a Síria.
"Não se atreveria a discutir uma coisa dessas com a gente. Sabe qual seria a resposta", frisou Hussen Abase, em conversa com os jornalistas.
Nas mãos, ele segurava um urso de pelúcia do Chelsea, que sua filha, torcedora da equipe, havia dado à mãe. A questão agora que mais atormenta esses pais é o que se poderia, ou deveria ter sido feito para evitar que fugissem.
Utilizando uma conta no Twitter em nome de Shamima Begun, alguém teria entrada em contato com Aqsa Mahmud, uma mulher de Glasgow que embarcou para a Síria no ano passado para se casar com um combatente do EI.
A família Mahmud condena firmemente a decisão da filha e critica a falta de ação das autoridades por permitir que outras meninas sejam convencidas.
"Agora, [essa mulher] está recrutando outras jovens", garantiu o advogado da família, Aamer Anwar, em entrevista à rede BBC, neste domingo. "E a família pergunta: ;o que estão fazendo, exatamente, os serviços de segurança deste país?;", completou o advogado.
Depois que a amiga das jovens desapareceu, Renu Begum, irmã mais velha de Shamima, perguntou-lhe: "você não faria nada assim tão idiota, não é?". Ela respondeu que "não", pois contava com o apoio da família, lembrou a irmã.
Especialistas em contraterrorismo consultados pela AFP avaliam que cerca de 50 mulheres deixaram a Grã-Bretanha rumo à Síria para se juntar ao EI. A cada dia, surgem mais histórias sobre as "noivas da jihad" nos tabloides britânicos.
Na tentativa de conter esse fluxo, uma nova lei permite reter os passaportes de britânicos suspeitos de pretenderem viajar para a Síria, ou para o Iraque.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, já anunciou que planeja introduzir novas medidas, como aumentar as revistas nos aeroportos, e pediu às escolas e universidades que ajudem a identificar os estudantes em risco de serem cooptados. Os analistas advertem que também é necessário dirigir os esforços contra a propaganda que chega pela Internet.
Nessa mesma linha, a ex-ministra Sayeeda Warsi - primeira muçulmana a integrar o governo britânico até renunciar em protesto contra a política do Executivo conservador em relação à Gaza - também alertou para o papel da Internet na radicalização dos jovens muçulmanos.
"Não se faz um terrorista em um dia", disse Sayeeda, em entrevista à Sky News.