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Defesa do prefeito opositor da Venezuela prepara apelação

Leopoldo López está detido desde fevereiro de 2014, acusado de incentivar os protestos que tiveram derivações violentas e deixaram um saldo de 43 mortos entre fevereiro e maio

Agência France-Presse
postado em 23/02/2015 16:11
A defesa do prefeito de Caracas preso, Antonio Ledezma, prepara nesta segunda-feira uma apelação em favor do opositor, acusado de conspiração por um militar que esteve preso durante meses nas prisões dos serviços de inteligência, conhecidas como "As Tumbas".

Com Ledezma já estão detidos dois dos três principais líderes opositores de Nicolás Maduro, que denunciou em dois anos pelos menos uma dezena de planos de assassinatos e golpes de Estado e que enfrenta cruciais eleições legislativas neste ano enquanto sua popularidade é de apenas 20%.

A ofensiva do governo contra a oposição, difamada diariamente pelo governo com violentos discurso, está preparando uma nova reviravolta na terça-feira quando a maioria chavista da Assembleia Nacional inicia a cassação do deputado Julio Borges, o que o deixaria fora da corrida eleitoral.

Após 15 anos de governo socialista, a Venezuela atravessa uma crise marcada pela maior inflação do mundo, um déficit fiscal desenfreado, uma cotação do dólar paralelo que supera trinta vezes a cotação mais baixa das três taxas oficiais, e uma aguda e persistente escassez de alimentos, medicamentos e produtos de higiene.

Tortura

Na sexta-feira, os promotores Katherine Harington, Yeison Moreno e José Orta acusaram Ledezma "de presumidamente praticar os crimes de conspiração e associação" para cometer crimes, informou a promotoria, que ordenou sua reclusão na prisão militar de Ramo Verde.

"A acusação contra Antônio Ledezma é desprezível do ponto de vista técnico, é extremamente frágil", afirmou à AFP o advogado Omar Estacio, que confirmou que nesta terça-feira apresentará seu recurso contra uma acusação que ele alega ter sido obtida sob tortura.

"Dizer tortura e reclusão ;nas tumbas; é sinônimo", disse Estacio. Há denúncias segundo as quais "os detentos estão em um porão onde jamais veem o sol, expostos a luzes de alta intensidade 24 horas por dia, de maneira que as pessoas percam a noção de quando é noite ou dia. Música de altos decibéis, péssima alimentação", prosseguiu.

A promotoria apresentou uma acusação contra Ledezma firmada pelo tenente coronel aposentado José Arocha em novembro, quando estava seis meses preso nas Tumbas.

Ledezma firme

Em carta da prisão, datada de domingo e enviada aos meios de comunicação, Ledezma diz se sentir "mais do que nunca firme e disposto a persistir nesta luta pela liberdade" e pede à aliança Mesa da Unidade Democrática que discuta "a tese constitucional de solicitar a renúncia de Maduro porque esta via é o contrário de um golpe militar".

Aos 59 anos, Ledezma foi tirado de seu escritório na quinta-feira por um comando de assalto do serviço de inteligência com armas longas, gorros e coletes à prova de bala.

"Antonio Ledezma está com muita força apesar do mal estar de estar injustamente preso. Ele se mantém firme em suas convicções", tinha informado mais cedo o deputado Richard Blanco, do partido do prefeito preso de Caracas.

Blanco falou por telefone com Ledezma, após ser impedido de visitá-lo no domingo. Ledezma foi tirado de seu escritório na quinta-feira por dezenas de de tropas do serviço de inteligência com armas grandes, capuzes e coletes a prova de balas.

Ledezma, junto com o preso Leopoldo López e a ex-deputada Maria Corina Machado, defenderam no ano passado uma estratégia chamada "A Saída", que pedia a renúncia do presidente e que o governo classificou como insurrecional.

Leopoldo López está detido desde fevereiro de 2014, acusado de incentivar os protestos que tiveram derivações violentas e deixaram um saldo de 43 mortos entre fevereiro e maio. Seu julgamento, que esperava para hoje uma nova sessão, segue lento, a tropeções e com frequentes suspensões de audiências. Machado foi caçada pela maioria automática chavista no ano passado e é investigada mas segue em liberdade.

Após a prisão de Ledezma "houve um forte rumor de que iam apreender minha casa, mas isso finalmente não aconteceu. Sabemos que o fato de que exista ou não uma ordem de captura não significa nada, porque aqui na Venezuela tudo continua sem legalidade alguma", declarou Machado.

Governistas atrás de mais opositores

Entretanto, a bancada governista se preparava para iniciar a cassação do deputado opositor Julio Borges, do partido Primeira Justiça, do qual faz parte o ex-candidato presidencial Henrique Capriles.

No começo deste mês, o presidente da assembleia nacional e número dois do chavismo, Diosdado Cabello, acusou também Borges de estar envolvido em planos de conspiração.

Outros quatro legisladores opositores - incluindo Machado - foram caçados e submetidos a processos que ou ainda não começaram ou se eternizam com eles à margem da luta por cargos eleitorais.



Os outros três legisladores são Richard Mardo, Maria Aranguren e Juan Caldera, caçados antes de começarem os protestos opositores há um ano, e que são acusados de crimes de legitimação de capitais.

A cassação, em novembro de 2013, de Aranguren - dissidente do oficialismo - permitiu ao chavismo recuperar os dois terços da câmara e aprovar os superpoderes para que o presidente Nicolás Maduro pudesse governar por decreto sobre questões econômicas durante 2014.

Foi nesse mesmo período, no qual Maduro governou por decreto sobre questões econômicos na Venezuela, que a inflação, o deficit fiscal e a escassez alcançaram níveis inéditos no país.

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