Agência France-Presse
postado em 27/02/2015 20:01
Os Estados Unidos da América e Cuba podem reabrir suas respectivas embaixadas antes da Cúpula das Américas, em abril, apesar dos temas que ficaram pendentes ao fim da segunda rodada de negociações - disse a chefe da delegação americana, Roberta Jacobson.Jacobson afirmou que os Estados Unidos estão "trabalhando duro" para resolver os temas pendentes, em especial a remoção de Cuba da lista do Departamento de Estado sobre terrorismo.
A medida "pode ser tomada até a Cúpula das Américas", acrescentou a subsecretária de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental.
A chefe da delegação cubana nas negociações, Josefina Vidal, ressaltou os avanços realizados no encontro desta sexta-feira.
"Fizemos importantes avanços em nossas discussões", disse Vidal, acrescentando que ainda é necessário resolver a exclusão de Cuba da lista do Departamento de Estado americano sobre países que promovem o terrorismo.
Para os cubanos, explicou a chefe da diplomacia cubana, "seria muito difícil explicar o restabelecimento das relações diplomáticas com o nosso país (estando) nessa lista".
Outro tema pendente é a retomada dos serviços financeiros para o Escritório de Interesses em Washington, que há mais de um ano não tem acesso a qualquer serviço bancário, justamente pela presença de Cuba na lista sobre terrorismo.
Vidal disse estar "otimista" que as duas questões essenciais sejam resolvidas "nas próximas semanas".
As duas delegações não agendaram uma nova reunião bilateral, mas, segundo a chefe da delegação cubana, acordaram uma "comunicação permanente para continuar realizando progressos".
Em seu breve discurso após a reunião, Vidal traçou a diferença entre o restabelecimento das relações diplomáticas bilaterais e a abertura das respectivas embaixadas, explicando que os dois processos caminham juntos, já que o segundo é consequência do primeiro.
"Primeiro, os países restabelecem as relações diplomáticas e, depois, abrem as embaixadas. Na reunião, deixamos claro que, para Cuba, é muito importante resolver esses temas para continuar avançando rumo ao restabelecimento", completou.
Embargo como obstáculo
O presidente dos EUA, Barack Obama, e de Cuba, Raúl Castro, pretendem comparecer à reunião internacional dentro de seis semanas. Para ambos os lados, será a oportunidade para um eventual encontro e para a reabertura das relações diplomáticas.
Um dos obstáculos mais urgentes é a permanência de Cuba na lista do Departamento de Estado dos países que promovem o terrorismo. Embora Obama tenha pedido a reavaliação dessa inclusão, a eventual remoção do país da lista pode demorar mais tempo, travando uma solução antes da Cúpula das Américas.
Nesta sexta-feira, o secretário de Estado americano, John Kerry, disse que as negociações se concentram nas relações diplomáticas e que sua equipe não está negociando a exclusão de Cuba da lista.
"A designação sobre os países que promovem o terrorismo é um processo separado, não é uma negociação", esclareceu.
O restabelecimento das relações diplomáticas "seria mais fácil" se não fosse relacionado com a lista sobre terrorismo, explicou uma fonte do governo americano consultada pela AFP na quinta-feira.
O maior obstáculo, contudo, é o embargo comercial e econômico dos EUA a Cuba. Depois de quase meio século de aplicação, o embargo se encontra codificado na lei (em especial à chamada Lei Helms-Burton), de modo que o fim das sanções poderá resultar apenas de uma decisão do Congresso americano.
O próprio Obama reiterou que o embargo "não funcionou" e, por isso, defende seu desmantelamento. Como seu Partido Democrata não controla nenhuma das duas Câmaras do Congresso, a tarefa não parece fácil.
"Buscamos uma nova estratégia", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest.
Ele reiterou que a "estratégia anterior, que durou mais de 50 anos e consistia em tentar isolar Cuba para pressionar o governo a mudar sua maneira de tratar os cidadãos, apresentou poucos resultados".
Nas últimas semanas, o governo americano flexibilizou alguns aspectos do embargo - para o setor privado de empresas cubanas e nas telecomunicações -, mas o essencial permanece em vigor.
Pouco antes dos primeiros encontros oficiais entre Cuba e Estados Unidos no fim de janeiro, Havana libertou 53 dissidentes que estavam em uma lista estabelecida em conjunto com o governo americano.