Agência France-Presse
postado em 28/02/2015 12:13
Moscou, Rússia - O ex-vice-primeiro-ministro russo Boris Nemtsov, assassinado na noite desta sexta-feira em Moscou, encarnava a geração dos jovens reformistas dos anos 1990 antes de se tornar um ferrenho crítico do presidente Vladimir Putin. Morto a tiros a alguns metros do Kremlin, Nemtsov, de 55 anos, foi um dos protagonistas da onda de protestos que marcaram a campanha eleitoral de Putin em 2011-2012, quando era candidato a um terceiro mandato como presidente.
Preso várias vezes pelas forças de ordem durante os protestos, Nemtsov foi alvo de investigações e submetido a escutas. Nunca deixou de denunciar a corrupção do que chamava de "sistema oligárquico" do Kremlin.
De pele morena e ares sedutores - apesar das olheiras ao redor de seus enormes olhos escuros - Boris Nemtsov, físico de formação, começou sua carreira pouco antes da queda da URSS e foi eleito em 1990 para o Soviet Supremo, o Parlamento soviético.
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Depois de ter sido governador da região de Nijni-Novgorod, a 400 quilômetros a leste de Moscou, teve início uma fulminante ascensão política durante a presidência de Boris Yeltsin.
De março de 1997 a agosto de 1998, ocupou o cargo de vice-primeiro- ministro encarregado do setor energético e dos monopólios, um setor muito visado que lhe rendeu críticas do Kremlin por seus vínculos com oligarcas que se aproveitaram das privatizações dos anos 1990.
Muito ligado a Yeltsin
Boris Yeltsin quis fazer dele seu pupilo durante algum tempo, antes de inclinar para o lado do chefe da antiga KGB, Vladimir Putin. Destituído em agosto de 1998, Nemtsov foi para a oposição quando seu rival foi investido presidente. Nas legislativas de 1999, foi eleito para a Duma (câmara dos deputados) e se uniu ao partido liberal SPS, liderando uma facção bastante crítica a Putin.
Sua oposição tornou-se mais pujante após as eleições legislativas de 2007, as quais classificou de "as mais desonestas da história da Rússia".
Em 2008, após fracassar em sua tentativa de se apresentar às eleições presidenciais como candidato único da oposição, criou o movimento Solidarnost - ao lado de Gary Kasparov.
Mas foi ao lado de Alexei Navalny que Nemtsov se ergueu como paladino nas manifestações que sacudiram Moscou no inverno de 2011-2012. Sua influência parecia estar diminuindo em favor de uma nova geração de opositores, encarnada por Alexei Navalny.
Ao lado de Navalny, Nemtsov havia convocado para este domingo uma grande manifestação para denunciar a má gestão da crise econômica atravessada pela Rússia por causa das sanções ocidentais, adotadas por seu papel na Ucrânia, e a queda dos preços do petróleo.