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Argentina acusa promotor morto de tentar desestabilizar governo

Em comunicado, governo se pergunta "de que dependia a opção de impulsionar uma estratégia conjunta do Poder Executivo ante as Nações Unidas ou de denunciar a presidente de acobertamento?"

Agência France-Presse
postado em 04/03/2015 12:30
Buenos Aires, Argentina - O governo argentino considerou que o objetivo da denúncia formulada pelo falecido promotor Alberto Nisman - e rejeitada pela justiça - acusando a presidente presidente Cristina Kirchner de acobertar iranianos pelo atentado antissemita de 1994 era desestabilizar o governo, segundo um texto pago e publicado nesta quarta-feira (4/3) .

"Rejeitada a denúncia, resta se perguntar quais eram os objetivos do promotor Nisman com sua denúncia repleta de contradições, carência lógica e sustento jurídico. É possível pensar em uma hipótese diferente que não seja a de buscar gerar um efeito político desestabilizador?", se questiona o texto publicado pelo Executivo nos jornais locais.

Nisman apareceu morto em 18 de janeiro no banheiro de seu apartamento com um tiro na cabeça de uma pistola calibre 22 que havia pedido emprestada a um colaborador, em um incidente que ainda é investigado.

Quatro dias antes havia acusado Kirchner de proteger ex-governantes iranianos pelo ataque à mutual judaico-argentina AMIA em 1994, que deixou 85 mortos e 300 feridos.

A justiça federal rejeitou na semana passada esta acusação por "inexistência de crime" e por não ter sustento jurídico, já que Kirchner não pediu à Interpol que levantasse os pedidos de captura dos suspeitos, como alegava Nisman, entre outros pontos.

O juiz federal Daniel Rafecas rejeitou a acusação revelando documentos assinados pelo próprio Nisman em dezembro de 2014 e janeiro de 2015 nos quais, em vez de acusar Kirchner, reconhecia seu trabalho para esclarecer o caso. Os documentos foram entregues por uma colaboradora de Nisman à justiça.

"Nestes documentos o promotor Nisman inclusive ressaltava a oferta ao Irã de realizar o julgamento em um terceiro país e a assinatura do memorando de entendimento como duas tentativas do governo para ;alcançar o objetivo de sempre: levar os acusados perante o juiz e, desta forma, conseguir o avanço no caso para seu julgamento oral;", sustenta o governo.

Em seu comunicado, o governo se pergunta "de que dependia a opção de impulsionar uma estratégia conjunta do Poder Executivo ante as Nações Unidas ou de denunciar a presidente de acobertamento?".

Em resposta, o governo lança um "apelo à sociedade argentina e à comunidade internacional a ouvir as vítimas do atentado e seus familiares, a quem todos dizem representar, mas poucos realmente prestam atenção".



Também pediu que acompanhe "o julgamento oral que será realizado pelo verdadeiro acobertamento do atentado", no qual estão acusados o ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) e outros ex-funcionários de alto escalão por sua suposta responsabilidade no desvio de provas e irregularidades na primeira instrução do caso.

O governo estimou que este julgamento, previsto para o próximo semestre e que levará ao banco dos réus um ex-juiz e o ex-titular do organismo judaico DAIA Rubén Beraja, entre outros, "também coloca em foco o sistema penal federal".

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