Agência France-Presse
postado em 12/03/2015 07:28
Washington - Dois policiais foram feridos por tiros nesta quinta-feira na cidade americana de Ferguson (Missouri), durante um protesto pelo tratamento que os negros recebem da força de segurança, formada em sua maioria por agentes brancos.Segundo a polícia, os policiais sofreram uma "emboscada"."Tratou-se realmente de uma emboscada. É muito difícil estar prevenido quando enfrentamos manifestações", declarou Jon Belmar, chefe do comitê da polícia em coletiva de imprensa.
Um ou dois atiradores estão sendo procurados nesta quinta-feira. Encontrar o responsável ou os responsáveis "é a nossa prioridade", acrescentou Belmar.
Nesta manhã, uma equipe da SWAT foi vista durante uma operação em uma casa vizinha a um posto policial e, de acordo com vizinhos citados pela imprensa local, dois homens e uma mulher foram interrogados.
Um dos oficiais foi atingido por um tiro no rosto e o outro no ombro quando a polícia tentava dispersar um protesto diante de uma delegacia da cidade, informou Jon Belmar.
Belmar afirmou que os policiais, de 32 e 41 anos, estavam conscientes, mas em estado grave.Ele declarou ainda que "felizmente, não estamos lamentando a morte de dois oficiais na noite passada".
Pelo menos 60 pessoas caminharam até a delegacia e alguns manifestantes bloquearam as ruas e avenidas, o que provocou o envio dos agentes.
Ferguson se tornou nos últimos meses o epicentro dos protestos contra o tratamento que os jovens negros recebem nos Estados Unidos por parte da polícia, majoritariamente branca.
Na quarta-feira, o chefe de polícia de Ferguson, Thomas Jackson, renunciou ao cargo depois que o Departamento de Justiça publicou um relatório severo sobre a morte, em 9 de agosto, de Michael Brown, um adolescente negro que estava desarmado e que foi atingido por tiros de um policial branco, Darren Wilson.
A morte de Brown provocou protestos e um debate nacional sobre a persistência de condutas racistas na polícia dos Estados Unidos.Wilson não foi indiciado pela morte.
Belmar disse que o protesto já estava praticamente dispersado quando foram disparados pelo menos três tiros. "Os agentes estavam no local e foram atingidos só porque eram policiais", disse Belmar.
Uma testemunha, Markus Roehrer, afirmou ao canal CNN que o som dos tiros veio de uma certa distância atrás do pequeno grupo de manifestantes. "Mas atribuir isto aos manifestantes seria totalmente injusto", disse Roehrer.
O Departamento de Justiça informou que não possui provas suficientes para abrir um processo contra Wilson por violações dos direitos civis federais, mas criticou a prefeitura, o departamento de polícia e a corte municipal por uma atuação com base em preconceitos raciais contra a maioria afro-americana.
A família de Michael Brown pretende apresentar uma ação contra Ferguson e Wilson. Outros funcionários do governo de Ferguson pediram demissão, incluindo o juiz da corte municipal, dois comandantes de polícia veteranos ; entre eles o supervisor de Wilson ; e na quarta-feira o chefe de polícia da cidade.
O prefeito de Ferguson, James Knowles, prometeu um plano de reformas para esta localidade de 21.000 habitantes, onde dois em cada três residentes são afro-americanos.
Em um país no qual o espectro do racismo continua vivo, o presidente Barack Obama, primeiro presidente negro dos Estados Unidos, admitiu na semana passada que o problema supera os limites de Ferguson.
Violência inaceitável
Enquanto isso, os pais de Michael Brown condenaram os disparos contra os policiais e denunciaram a ação de "agitadores isolados que estão tentando perverter um movimento pacífico e não violento".
Quem disparou os tiros "não estava com a gente", disse um dos organizadores da manifestação, DeRay McKesson, em seu Twitter, acrescentando que "há aqueles que querem deixar o nosso movimento em descrédito".
Por sua parte, o presidente Barack Obama disse que "a violência contra a polícia é inaceitável", de acordo com uma mensagem da Casa Branca no Twitter.
"O caminho da justiça é um só, e por ele devemos marchar juntos", acrescentou.Já o procurador-geral Eric Holder condenou um "ataque hediondo", também chamado de "imperdoável e repugnante".
"Condenamos nos termos mais fortes a violência contra aqueles que protegem a comunidade", disse ele em um comunicado de imprensa, também citando a recente morte de policiais em Filadélfia (leste) e Louisiana (sul).