Agência France-Presse
postado em 17/03/2015 08:06
Madri - A equipe responsável por procurar os restos mortais do escritor espanhol Miguel de Cervantes, autor de Dom Quixote, está convencida de ter encontrado o material entre fragmentos de ossos localizados em uma cripta de um convento de Madri, um ano depois do início dos trabalhos."À vista de toda a informação gerada no caso de caráter histórico, arqueológico e antropológico, é possível considerar que entre os fragmentos da área localizada no solo da cripta da atual igreja das Trinitárias se encontram alguns pertencentes a Miguel de Cervantes", disse o antropólogo Francisco Etxeberría, coordenador da equipe multidisciplinar.
"São muitas as coincidências e não há discrepâncias", completou Etxeberría, que reconheceu que não foi possível rastrear indícios dos ferimentos sofridos pelo escritor na batalha de Lepanto.
Na batalha naval de Lepanto, em que a Santa Liga formada principalmente por Espanha, Veneza e a Santa Sé venceu os turcos em 1571, Cervantes foi ferido no peito e na mão de esquerda por um arcabuz.
O ferimento deixou sua mão esquerda inutilizada e o autor passou a ser chamado de "o manco de Lepanto".
"Não conseguimos verificar esta circunstância porque o nível de conservação do osso não permitiu, não conseguimos descobrir nenhum sintoma de patologia traumática", disse o antropólogo.
"Todos os membros da equipe estão convencidos de que temos entre estes fragmentos algo de Cervantes, mas, no entanto, não posso dizer em termos de certeza absoluta", completou.
"As coincidências e as não discrepâncias da articulação e dos elementos de caráter histórico, antropológico e arqueológico nos levam a considerar que ali estaria Cervantes em termos razoáveis", explicou.
"Não vai acontecer uma individualização confirmada pela genética", afirmou a arqueóloga Almudena García Rubio, ao reiterar o que já havia sido antecipado pela equipe no início da busca, em março do ano passado.
Apesar da boa conservação dos restos mortais para exames de DNA, a única descendência atual da família de Cervantes procede de seu irmão Rodrigo.
"E depois de 12 gerações, o DNA que poderia ter em comum com Cervantes é mínimo", já havia afirmado o historiador Fernando de Pardo.
Os restos mortais daquele que é considerado o maior escritor espanhol da história foram localizados na cripta da igreja do Convento de ;San Ildefonso de las Madres Trinitarias;, no conhecido bairro da Letras, centro de Madri.
No entanto, com a passagem do tempo e as obras de reforma no convento, perdeu-se o rastro de sua sepultura, caída no esquecimento durante quatro séculos, até que o início da busca se deu em março de 2014.
Desde então, a equipe encontrou e decifrou documentos históricos, sondou com um geo-radar o solo do convento onde vivem ainda as religiosas, perfurou um caminho para uma minúscula cripta subterrânea na igreja e acabou descobrindo os restos de 300 pessoas, onde, a princípio, se achava que eram apenas oito.
Entre eles, ossos em pequenos fragmentos que há apenas alguns dias foram identificados como pertencendo a um grupo de 15 pessoas enterradas no século XVII em outra área do convento, e transferidos posteriormente, entre os quais, segundo os documentos, estaria Cervantes.
Nascido em 1547 em Alcalá de Henares, perto de Madri, o autor de Dom Quixote de la Mancha viveu seus últimos anos neste bairro madrileno e faleceu em 22 de abril de 1616.
Cervantes foi sepultado na igreja do convento um dia depois, 23 de abril, data que foi oficializada como a de sua morte, já que na época o dia do enterro era considerado a data do óbito.