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Conferência sobre catástrofes naturais acaba com promessas insuficientes

A conferência se desenvolveu num momento em que a gestão do ciclone Pam no arquipélago de Vanuatu colocou em evidência a necessidade de melhorar a resposta mundial ante as catástrofes naturais

postado em 19/03/2015 13:36
Sendai - As conclusões da Conferência Internacional de Sendai (Japão) para prevenir as catástrofes naturais deixaram um gosto amargo nas ONGs, para as quais as nações ricas não cumprem seu dever e não se comprometem o suficiente.

Após cinco dias de discussões que se prolongaram noite adentro, na quarta-feira foram adotados sete objetivos tendo como horizonte o ano de 2030: 100.000 mortos a menos em um período de 10 anos, uma diminuição idêntica do número de pessoas afetadas pelas catástrofes, redução das perdas econômicas e danos materiais e aumento do número de países com uma estratégia frente aos riscos.



Também foi decidido apostar por uma "maior cooperação internacional com um apoio forte e duradouro dos países ricos". Mas, segundo os observadores, este "acordo de Sendai para a prevenção de catástrofes 2015-2030", que acaba de prolongar o que havia sido definido há uma década em Hyogo (outra região japonesa), é muito abstrato devido à ausência de números precisos.

"Os países ricos fogem de sua responsabilidade", denunciou em um comunicado a ActionAid, um grupo de ajuda internacional baseado em Johannesburgo, que lamenta a falta de precisão dos objetivos levantados na reunião, organizada sob os auspícios das Nações Unidas.

"Não há números específicos, que seriam necessários para obrigar os governos a se responsabilizar por suas ações nos próximos 15 anos", lamenta a organização.

E ressalta que "os termos utilizados sobre o que os países ricos devem fornecer são ambíguos", antes de concluir que "este compromisso, inaceitável, terminará afetando as pessoas que vivem na pobreza".

A conferência se desenvolveu num momento em que a gestão do ciclone Pam no arquipélago de Vanuatu colocou em evidência a necessidade de melhorar a resposta mundial ante as catástrofes naturais.

O presidente do país, Baldwin Lonsdale, se encontrava precisamente em Sendai no momento da catástrofe, de onde fez um apelo à solidariedade internacional. "Tudo precisa ser reconstruído", declarou à margem dos debates, antes de voltar ao seu país para gerir os efeitos do ciclone.

Assim como outros participantes, Lonsdale apontou as mudanças climáticas como as principais responsáveis, provocadas, por sua vez, pela atividade humana.

Oportunidade mal aproveitada


A organização Oxfam Japão declarou estar enormemente decepcionada, ressaltando o fato de que o documento final não inclui "nenhum objetivo cifrado ambicioso e claro para os próximos 15 anos".

"Também não há compromissos precisos sobre o apoio financeiro e tecnológico para a prevenção dos riscos de catástrofes", ressaltou.

A Oxfam lamentou igualmente que "durante a conferência, na qual foi gasta uma soma considerável de dinheiro, os governos não tenham conseguido aproveitar uma valiosa ocasião para prometer ações concretas para as vítimas de catástrofes atuais e futuras".

O Banco Mundial também pressionou os delegados dos 190 países reunidos para que compreendessem a necessidade imperiosa de lutar contra as mudanças climáticas.

"Temo que a tomada de consciência sobre a urgência do momento e a ambição nos objetivos não esteja à altura" do combate que é necessário realizar, confessou no domingo um representante desta instituição à AFP.

As críticas aos resultados de Sendai podem voltar a surgir nos próximos encontros internacionais do clima, entre os quais destaca-se a conferência do fim do ano em Paris.

Na sessão inaugural da conferência, no último sábado, o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, que se apresentou como futuro anfitrião, sugeriu que 2015 pode ser o ano da mudança. No entanto, diante dos resultados obtidos no Japão, ainda é preciso esperar para ter certeza de sua declaração.

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