Agência France-Presse
postado em 21/03/2015 14:18
Genebra - A violência praticada pelos islamitas do Boko Haram no nordeste da Nigéria mergulhou a população na miséria e provocou uma escassez alimentar, lamentou uma autoridade da ONU."O sofrimento que vemos é terrível", declarou o vice-secretário-geral das Nações Unidas e coordenador humanitário regional para o Sahel, Robert Piper, à AFP.
A insurreição do grupo islamita e sua repressão cega por parte do exército deixaram 13.000 mortos e mais de 1,5 milhão de deslocados em seis anos.
Devido à violência, milhões de pessoas não podem retornar às suas fazendas, o que os impede de ter acesso a suas reservas alimentares e cultivar suas terras.
"Estimamos que apenas 20% das terras agrícolas no estado de Borno [a região mais afetada] foi cultivada na estação passada", causando um "enorme déficit" de alimentos, segundo Piper.
Os níveis de desnutrição aguda são dramáticos entre as crianças deslocadas, e segundo revelou uma pesquisa recente, mais de 35% dessas crianças em torno de Maiduguri, capital do Borno, sofrem de desnutrição aguda.
Corredor humanitário aéreo
A insegurança é tal que as organizações humanitárias não conseguem responder às necessidades crescentes da população. Às vezes, "tivemos de voltar para trás devido ao conflito", disse Piper, que reconhece que há áreas inteiras no nordeste da Nigéria e algumas em países vizinhos, onde se refugiaram muitos nigerianos, às quais a ONU não tem acesso porque "são simplesmente muito perigosas".
No entanto, as organizações humanitárias não desistem. A ONU espera estabelecer em duas semanas um "corredor humanitário aéreo", para que os doadores possam acessar mais facilmente o noroeste da Nigéria.
O exército nigeriano, que não consegue deter o Boko Haram, retomou sua ofensiva contra os rebeldes em fevereiro, com o apoio das forças de países vizinhos: Chade, Camarões e Níger.
As forças nigerianas anunciaram vitórias sem precedentes contra o Boko Haram nas últimas semanas no noroeste e o governo diz que quer acabar com o grupo islâmico antes das eleições presidenciais de 28 de março.
Mas o Boko Haram, que jurou lealdade ao grupo jihadista Estado Islâmico, continua seus ataques na Nigéria e em países vizinhos, apesar da mobilização regional.
No total, cerca de 200 mil nigerianos se refugiaram em Camarões, Níger e Chade, segundo a ONU. Além disso, cerca de 100.000 camaroneses que vivem perto da fronteira preferiram deixar suas casas para fugir da violência.
Traumatizados
Os doadores estão "absolutamente chocados" com as histórias de sobreviventes e desabrigados, indica Piper, que conversou com deslocados no estado de Adamawa (nordeste) e que se surpreendeu com "a ausência de homens e jovens nessas famílias. Todos foram mortos", disse.
As necessidades são enormes, segundo Piper, que acredita que as necessidades humanitárias para este ano na Nigéria, o país mais populoso da África, ascendem a 1 bilhão de dólares.
As autoridades nigerianas deverão conseguir por conta própria a maioria destes fundos, segundo Piper. A ONU pedirá apenas 100 milhões de dólares aos doadores, já que é sempre difícil pedir dinheiro para a Nigéria, considerado um país rico em petróleo, acrescentou.