Agência France-Presse
postado em 22/03/2015 11:43
O partido de extrema-direita Frente Nacional (FN) espera triunfar neste domingo como o primeiro partido da França no primeiro turno das eleições departamentais, nas quais o governo socialista corre o risco de sofrer uma importante derrota.A FN, liderada por Marine Le Pen, tem cerca de 30% das intenções de voto, segundo as pesquisas, superando a oposição de direita (UMP) e o Partido Socialista do presidente François Hollande, que perdeu nos últimos dois meses o aumento efêmero de sua popularidade registrado após os ataques em janeiro, em Paris.
Ao votar em seu reduto de Tulle (centro), Hollande declarou que "hoje, a questão é a abstenção" e "o resultado da Frente Nacional". A participação ao meio-dia era de 18,02%, contra 15,7% na eleição anterior, em 2011.
[FOTO1]A esquerda (socialistas, comunistas, ecologistas) administra 61 dos 101 departamentos franceses. Agora dividida, corre o risco de perder 30 departamentos no segundo turno da votação, em 29 de março, e muitos de seus candidatos poderiam ser eliminados já neste primeiro turno.
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O UMP do ex-presidente Nicolas Sarkozy, que espera "uma onda" em seu favor, poderia sair vencedor com seus aliados centristas, pois espera-se que muitos eleitores da esquerda transfiram seus votos ao UMP no segundo turno, em caso de confronto com a extrema-direita.
A FN ambiciona, sem proclamar, ganhar entre um e quatro departamentos. Mas em todo caso, parece registrar um forte crescimento nos departamentos que já detém, três atualmente.
E acima de tudo, um ano após seu apogeu nas eleições municipais e europeias em 2014, o partido de Marine Le Pen impôs no cenário político francês seu discurso anti-europeu, antissemita e anti-imigração, e proclama suas ambições presidenciais.
"Em poucos meses, vamos continuar com as regiões e, em seguida, atacar o Eliseu", o palácio presidencial francês, reiterou esta semana Marine Le Pen, referindo-se às eleições presidenciais e regionais no final de 2015 e 2017 respectivamente.
Especialistas esperam uma alta abstenção neste domingo, especialmente entre o eleitorado de esquerda, insatisfeito com a política do governo socialista. Em seu esforço para mobilizá-los, o primeiro-ministro Manuel Valls não poupou ataques à extrema-direita, alegando "temer" por seu país.
Mas sua atitude não teve grande impacto na opinião pública. Sua popularidade nas pesquisas caiu dez pontos em um mês e sua estratégia deixam os cientistas políticos céticos. "Isso coloca a Frente Nacional no centro do jogo", estima Brice Teinturier, do Instituto Ipsos.
"Compreendo sua tática: levantar a questão moral antes de uma eleição que poderia ser um desastre para o país", comenta o historiador e cientista político Nicolas Lebourg. No entanto, "a questão do antifascismo não funciona mais", acrescentou.
Muitas vezes chamado de voto de protesto, o voto na FN é na verdade um "voto de apoio" ao seu discurso de hostilidade para com os imigrantes e a Europa e de segurança, de acordo com a cientista política Virginie Martin, presidente do clube de reflexão Different.
Mas a FN também é favorecida pelo enfraquecimento dos dois partidos tradicionais, o PS e o UMP. A esquerda e a direita estão fragilizadas por divisões internas, e muitos eleitores sentem que isso predomina.
"Todo mundo sofre aqui. A partir do momento que um sofre, busca-se soluções radicais (...). É a economia que levanta a FN, o desemprego, o aumento dos impostos", diz Patrick Vasseur, que dirige um quiosque em Ribemont, no norte do país.
"Prioridade aos franceses para o emprego", "Stop imigração": Marine Le Pen tem insistido durante a campanha nestas questões e, apoiando-se no medo provocado pelos ataques de Paris, pede "o congelamento da construção de mesquitas" no âmbito da luta contra o terrorismo.