O presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, expressou, nesta segunda-feira (23/3), profunda gratidão às tropas dos Estados Unidos, durante visita a Washington. A presidência dos EUA espera que o encontro marque uma nova fase nas relações entre os dois governos, após anos de desentendimentos.
Em discurso a soldados e oficiais dos EUA, durante cerimônia no Pentágono, Ghani disse "obrigado" inúmeras vezes, acrescentando que seu país vai agradecer para sempre os benefícios dos mais de 850 mil militares que chegaram ao Afeganistão, desde os ataques de 11 de setembro de 2001.
O presidente dos EUA, Barack Obama, vai receber Ghani na terça, na Casa Branca. Na reunião, Obama deve anunciar os planos de uma saída gradual das tropas no Afeganistão, disseram oficiais.
A mudança nas relações é, em parte, devido ao fato de Ghani ter assumido a Presidência, em 2014. Oficiais das Forças Armadas dos EUA veem nele alguém capaz de arejar a aproximação entre os dois países, na comparação com o antecessor Hamid Karzai, que costumava entrar em rota de colisão e dificultar esforços diplomáticos e militares do governo dos Estados Unidos.
Nos jardins do Pentágono, o presidente afegão disse que estava ali para "dizer obrigado, em nome de um povo grato às pessoas que trabalham nesse prédio e a toda a sociedade nos Estados Unidos pelo contínuo sacrifício para nos trazer liberdade e esperança, desde 11 de setembro".
"Vamos colocar nossa casa em ordem", diz presidente afegão.
Após agradecer às tropas e aos diplomatas dos EUA, e mesmo ao "contribuinte local", Ghani prometeu que "nós não seremos um fardo".
"Nós já não vamos mais pedir aos EUA o que podem fazer por nós", disse ele, recorrendo a uma famosa declaração do ex-presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy. "Queremos dizer o que o Afeganistão vai fazer em prol de si e do resto do mundo. Isto quer dizer que vamos colocar nossa casa em ordem", destacou.
Nos últimos 14 anos, enquanto vários militares dos EUA se feriam ou morriam nos desertos ao sul do Afeganistão, o governo enfrentava uma batalha paralela com os líderes afegãos.
Houve algum alívio quando Ghani, ex-funcionário no Banco Mundial por 15 anos, e o primeiro-ministro Abdullah Abdullah assumiram, no ano passado, apesar das aparentes intermináveis negociações pela divisão do poder.
Na opinião de fontes militares dos EUA, Ghani dá a entender que quer realizar reformas nas áreas econômica e de segurança. Tais medidas vão colocar o Afeganistão no caminho da autoconfiança, algo que não prevê o financiamento sem fim por parte dos EUA e mobilização de tropas militares em larga escala.
Esta opinião coincide com a de Obama, que prometeu tirar todas as tropas até 2017, quando sairá do posto de presidente.
As negociações desta terça, em Camp David, vão focar nos temas da segurança, economia e reconciliação com o Talibã. Junto com o secretário de Estado, John Kerry, participarão do encontro o secretário de Defesa, Ashton Carter, e o secretário do Tesouro, além de oficiais militares e da área de Inteligência.
Contra EI, governo pede que EUA não saiam em 2017
Mesmo com o discurso afinado, há conflitos entre os presidentes Ghani e Obama.
O presidente afegão pressiona por um compromisso de longo prazo dos EUA no que se refere à ajuda financeira. Ele também já deixou claro que quer que Obama demore mais tempo a retirar as tropas do país, citando a ameaça de o Estado Islâmico (EI) se consolidar no Afeganistão.
O governos dos Estados Unidos tinha planejado para dezembro uma redução no número de militares, deixando apenas 5.500 membros no país asiático. No entanto, segundo oficiais, o número deve ser revisto. Ainda assim, o objetivo de todos os combatentes saírem do país, até 2017, não foi alterado.
Ashraf Ghani vai apelar para que Obama continue a oferecer ajuda financeira ao Afeganistão, dando tempo para que a economia do país possa se manter por conta própria, disseram oficiais em Cabul.
Um oficial afegão de alta patente contou à AFP: "As reuniões nos EUA vão focar em outro ponto-chave: o apoio financeiro ao Afeganistão, garantido até 2017, mas precisa ser confirmado pelos próximos cinco anos".