Com semblante aflito e lágrimas nos olhos, parentes e amigos das vítimas do acidente com o avião A320, da companhia Germanwings, que caiu nesta terça-feira (24/3) quando fazia o trajeto entre Barcelona e Dusseldorf, chegavam ao aeroporto espanhol em uma busca desesperada por notícias.
"Estamos esperando alguma informação", dizia, muito chocado, Manuel, amigo de duas vítimas que não quis dar seu sobrenome. "Eram um colega da empresa e um diretor" que viajavam para a Alemanha para uma reunião, contou, quase sem palavras.
O primeiro "estava prestes a se aposentar", lamentava outro amigo, em frente à sala preparada para receber os familiares e amigos. Ali, nove membros da Cruz Vermelha - psicólogos, assistentes sociais e socorristas - se esforçavam em acompanhar os atingidos pela tragédia.
"Nestas situações, as pessoas vivem momentos de incerteza; quando recebem a notícia, vivem momentos de luto, de trauma, que nós tentamos minimizar na medida do possível", explicava sua porta-voz, Irene Peiró.
Enquanto isso, a polícia científica coletava amostras de DNA para permitir uma identificação rápida das vítimas. Dezenas de pessoas foram ao aeroporto de El Prat após o anúncio do acidente do voo 4U9525, da companhia Germanwings, uma filial de baixo custo da alemã Lufthansa, que decolou de Barcelona às 09H55 locais (05H55 de Brasília) com destino a Dusseldorf com 150 pessoas a bordo.
Várias delas se aproximavam procurando informação em um mostrador da Swissport, na qual três funcionárias atendiam em nome de várias companhias ;low cost;, entre elas a alemã. Três casais e quatro homens sozinhos, visivelmente emocionados, tentavam saber do acontecido em um acidente que, segundo as autoridades francesas, não deixou sobreviventes.
As cenas de tristeza se repetiam. Um homem de uns sessenta anos, elegantemente vestido, tentava esconder as lágrimas atrás dos óculos redondos. Outro, na casa dos trinta, olhava fixo para o chão, negando com a cabeça como se não quisesse acreditar na tragédia.
Grito de dor
Um terceiro, com os cabelos grisalhos e os olhos avermelhados, chegou acompanhado de dois rapazes, envolvendo com um dos braços o mais novo, um adolescente que, visivelmente abalado, apoiava a cabeça no ombro do adulto.
Um grupo de 16 adolescentes alemães, com cerca de 15 anos, que acabava de fazer um intercâmbio escolar em um povoado próximo a Barcelona, estava entre os passageiros do trágico voo.
Pouco depois chegou uma senhora mais idosa, ao lado do companheiro e de uma mulher mais jovem, que não conseguiu conter um dilacerante grito de dor. Um a um eram acompanhados por policiais, à paisana e uniformizados, até a sala preparada para os familiares, mantidos longe dos jornalistas.
"A prioridade agora é atender os familiares das vítimas", disse o titular da pasta do Interior do governo catalão, Ramon Espadaler, assegurando ter colocado à disposição "hotéis para receberem atendimento psicológico".
Nenhum representante da companhia podia ser localizado no aeroporto de Barcelona. Só estavam presentes as três funcionárias atrás do mostrador da Swissport, visivelmente sobrecarregadas com a enxurrada de telefonemas. "Não podemos falar, isto cabe à comunicação de crise", dizia uma delas, uniformizada com blazer preto, camisa branca e lenço vermelho.
"Estou com muito medo. Não quero voar hoje. Vou de Germanwings e pra mim é muito estranho", desabafava a jovem turista alemã Ann Kristin, de 21 anos, que nesta mesma tarde devia pegar um avião da companhia alemã rumo a Dusseldorf após passar quatro dias em Barcelona com o namorado.
Dois voos continuavam previstos para esta cidade e Stuttgart à noite e outros dois procedentes das localidades alemãs, segundo os painéis de informação do aeroporto. A companhia aérea ainda tem voos para Hamburgo, Hanôver, Berlim e Colônia.
Enquanto isso, em Dusseldorf, os passageiros liam, incrédulos, o anúncio nos monitores do aeroporto: "um avião da Germanwings com destino a Dusseldorf caiu". "É assustador", dizia Ingrid Nunning, comovida, após desembarcar, procedente da Turquia. "Se tivesse sabido antes de decolar, não teria embarcado no meu avião", assegurou. Umas vinte pessoas, familiares e amigos das vítimas, também eram atendidas no local por psicólogos.