A maratona de negociações entre os representantes das seis potências do grupo 5%2b1 e o Irã sobre o programa nuclear de Teerã avançou na noite desta segunda-feira com o objetivo de se costurar um acordo horas antes do fim do prazo.
Durante o dia, os ministros das Relações Exteriores do Irã e das seis potências do grupo se sentaram na mesma mesa, em Lausanne, para superar os últimos obstáculos de um acordo político que seja "factível".
"Ainda há temas difíceis. Estamos trabalhando duramente para resolvê-los. Vamos trabalhar até tarde e, obviamente, amanhã", disse Kerry à emissora CNN em Lausanne, acrescentando que "todo mundo sabe o que significa amanhã", quando a data limite para se chegar a um acordo expira à meia-noite de 31 de março.
A reunião, a primeira em que se reuniam chefes da diplomacia das seis grandes potências desde novembro passado, durou pouco mais de uma hora.
Faltando um dia para o fim do prazo para um acordo de princípios, ainda restavam vários obstáculos a vencer, afirmaram diplomatas ocidentais.
"Já é hora de tomar decisões" para fechar um acordo, avaliou a porta-voz do Departamento de Estado americano, Marie Harf, afirmando que Washington não se precipitaria "em concluir um acordo ruim".
Ao fim do encontro, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, anunciou que deixaria Lausanne para atender a compromissos previstos em Moscou e seu porta-voz disse que ele voltaria na terça-feira "se houvesse uma possibilidade real de acordo".
O objetivo das negociações é alcançar até esta terça-feira um acordo político sobre o programa nuclear iraniano, que permitiria em seguida negociar até 30 de junho um acordo definitivo com todos os detalhes técnicos.
Os diplomatas querem chegar a um acordo, no qual o Irã garanta sem sombra de dúvidas a natureza civil de seu programa nuclear em troca de uma suspensão das sanções internacionais que asfixiam sua economia há anos.
"Não temos nem ideia do que vai acontecer se não conseguirmos. Deveremos nos dar conta de onde estamos exatamente e decidir o que vai acontecer a seguir". As opções de chegar a um acordo são de "50-50" por cento, acrescentou Harf.
"Bloqueio em três pontos"
Segundo um diplomata ocidental, as negociações estavam bloqueadas em três pontos-chave: a duração do acordo, a suspensão das sanções da ONU e o mecanismo de garantia e controle.
"Não pode haver acordo se não for encontrada uma resposta para estas questões", acrescentou o diplomata, que pediu para ter sua identidade preservada, e enfatizou em que "chegado o momento, é preciso dizer sim ou não".
Mesmo antes da ase nenhum acordo ter sido costurado, seus oponentes já começaram a criticá-lo, preocupados em se será suficiente para impedir que o Irã desenvolva a bomba atômica.
Isto inclui a oposição republicana do presidente americano, Barack Obama, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que depois de taxar o acordo de "perigoso" no domingo, voltou à carga na segunda-feira: "O acordo que se desenha em Lausanne envia a mensagem de que não só não se pune a agressividade, como também é recompensada".
"Os países moderados e responsáveis da região, em particular Israel e outros Estados, serão os primeiros a sofrer as consequências deste acordo", acrescentou o premiê.
Um quebra-cabeça difícil de resolver
Contudo, fontes diplomáticas ocidentais disseram no domingo que, em algumas áreas deste complicado quebra-cabeça, estava perto de alcançar um acordo.
Entre estas, o número de centrífugas, que o Irã teria aceitado diminuir das quase 20.000 atuais (a metade delas ativas) para 6.000.
Além disso, a usina subterrânea de Fordo, perto da cidade santa de Qom, poderia continuar funcionando sob condições muito estritas.
Ao contrário, o Irã desmentiu categoricamente que teria aceitado exportar todo ou parte do urânio fracamente enriquecido que mantém armazenado.
"Alcançar um acordo é factível. Encontramos soluções para muitas questões", disse o vice-ministro iraniano de Relações Exteriores, Abas Araghchi.
Os países do 5%2b1 estão preparados para suspender suas sanções, não eliminá-las, de forma gradual para assegurar que o Irã não viola o acordo.
A questão das sanções impostas pelo Conselho de Segurança da ONU é particularmente espinhoso.
Araghchi disse que tinha que haver um "rascunho preciso" da suspensão das sanções. A duração de qualquer acordo (os EUA querem que seja de, pelo menos, 10 anos, ou até mesmo 15) também é motivo de disputa.