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Kirchnerismo está acabando na Argentina, avalia ex-embaixador

Segundo o ex-embaixador, nem a presidenta Cristina Kirchner e nem o partido que a apoia têm condições de marcar uma linha de governo para o próximo período

A greve geral convocada para hoje (31) pela Central de Trabalhadores da Argentina (CTA), a quarta que ocorre no atual governo vizinho, não é surpresa para o ex-embaixador brasileiro naquele país, José Botafogo Gonçalves. Na opinião do diplomata, a avaliação geral da população argentina é que o kirchnerismo está acabando.

Segundo o ex-embaixador, nem a presidenta Cristina Kirchner e nem o partido que a apoia têm condições de marcar uma linha de governo para o próximo período. ;Estamos assistindo ao ocaso, ao declínio de um período em que o chamado kirchnerismo controlou a Argentina durante alguns anos, primeiro com o marido, e agora com ela. O processo de decadência do governo da presidenta Cristina Kirchner vem se acentuando nos últimos meses;.

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Gonçalves, que foi embaixador especial da Presidência da República para Assuntos do Mercosul (Repsul), destacou que a política econômica de Cristina Kirchner fracassou: a inflação está acima de 30% e a atividade econômica se mostra em recessão. ;Ela [a presidenta] é incapaz de fazer acordos ou buscar consenso. Ela briga com o único setor eficaz da economia argentina, que é o agrobusiness. E agora, resolveu brigar com os sindicatos. Ela está dando um tiro no próprio pé e pagando o preço por uma política desastrosa;.

Vice-presidente emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Gonçalves, acredita que esse quadro tende a se agravar até as eleições presidenciais em outubro. Ele disse que os três candidatos têm se afastado de Cristina Kirchner de maneira mais ou menos ostensiva.

Do ponto de vista da relação bilateral entre Argentina e Brasil, o principal prejuízo está no comércio, porque a Argentina é um país em crise, que não tem crédito internacional, que tem dificuldades de balanço de pagamentos, não tem caixa em dólares e está restringindo suas importações do mundo e do Brasil, em particular, que é o seu principal parceiro. A conclusão, segundo o diplomata, é que a situação argentina afeta de forma grave o comércio bilateral com o Brasil, em setores importantes, como o automotivo.

A recomendação de Gonçalves é que o Brasil tem que ter paciência e esperar que o novo governo assuma em 2016 e seja mais equilibrado, mais aberto para o mercado e mais preparado a fazer consensos internos, de modo a recomeçar uma nova vida econômica e comercial para a Argentina. Ele acredita que o país tem grandes potencialidades, recursos naturais, como energia, capacidade de produzir alimentos e apresenta condições de se recuperar. ;Então, 2015 está perdido. Temos que esperar 2016. Esse é o resumo;, disse.