Agência France-Presse
postado em 01/04/2015 20:37
Milícias ligadas ao governo em Bagdá saquearam lojas no centro de Tikrit, após a tomada dessa cidade do norte iraquiano das mãos dos jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI). Segundo testemunhas, as milícias levaram roupas, xampus e cremes de barbear de duas lojas do centro da cidade, fugindo em seguida. Dois caminhões também foram vistos deixando Tikrit carregados de pneus novos, de um gerador de energia e de um espelho, que caiu na estrada.Ainda que limitados, esses incidentes levantam preocupações sobre o comportamento dos combatentes das diferentes milícias que lutaram ao lado das forças do governo. Como já aconteceu em outras regiões, os milicianos picharam os nomes de seus grupos nas casas e nas lojas de Tikrit, 160 km ao norte de Bagdá.
[SAIBAMAIS]Diante da ofensiva esmagadora do EI deflagrada em junho de 2014, o governo iraquiano recorreu à ajuda das milícias xiitas para retomar as faixas de território perdidas.
Essas milícias das Unidades de Mobilização Popular tiveram um papel fundamental em várias operações contra o EI, incluindo a de Tikrit. Ao longo dos confrontos, porém, foram acusadas de cometer abusos, como execuções sumárias e sequestros.
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Em meados de março, a ONG Human Rights Watch denunciou que as forças do governo e as milícias aliadas haviam saqueado e incendiado casas de civis sunitas. Também teriam destruído aldeias, segundo a organização, após romperem, em agosto, o cerco imposto pelo EI à cidade de Amerli, ao norte da capital.
Fossas comuns de vítimas do EI
Nesta quarta-feira, o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, manifestou sua determinação de "libertar cada centímetro" controlado pelo EI e comemorou a reconquista de Tikrit.
Com uma grande bandeira do Iraque na mão, Al-Abadi visitou um setor do centro dessa cidade, sob forte esquema de segurança, misturando-se aos soldados que participaram do assalto há cerca de um mês.
Na véspera, o premiê proclamou a "vitória" de Tikrit como uma "etapa importante" na campanha lançada por Bagdá contra o EI. As forças governamentais iraquianas continuam a garantir a segurança das ruas de Tikrit, enquanto perseguem os últimos focos de resistência do EI. "As forças de segurança iraquianas controlam 95% da cidade, mas ainda há confrontos esporádicos", afirmou nesta quarta-feira um coronel iraquiano.
Também em Tikrit, o ministro iraquiano do Interior, Mohammed al-Ghabbane, anunciou a descoberta de fossas comuns, com corpos de centenas de recrutas executados pelo EI.
Agora, uma das preocupações das forças do governo é limpar Tikrit de todas as bombas deixadas pelo EI. Até o momento, foram contabilizados 185 prédios com bombas e 900 artefatos explosivos escondidos nas ruas, acrescentou o ministro. "Ainda há franco-atiradores, e vários prédios estão cheios de explosivos", relatou à AFP Karim al-Nuri, da organização Badr, uma das principais milícias xiitas do Iraque.
Nas zonas libertadas, equipes da prefeitura foram enviadas para limpar as ruas e restaurar os serviços básicos em uma cidade devastada. As bandeiras do EI foram retiradas.
Nenhuma informação foi fornecida sobre o número de jihadistas mortos, feridos ou capturados, e o governo não divulgou qualquer balanço desde o início da ofensiva, em 2 de março passado.
Próximos alvos: Al-Anbar e Nínive
As autoridades já estabeleceram os próximos alvos, em especial, a reconquista de Mossul, a segunda mais importante cidade do país, que se tornou quartel-general do EI no Iraque.
"Estamos chegando, Anbar. Estamos chegando, Nínive", prometeu o ministro iraquiano da Defesa, Khaled al-Obaidi, referindo-se a duas províncias amplamente controladas pelos jihadistas.
Al-Anbar fica no oeste, e Nínive, cuja capital é Mossul, no norte. Para o EI, a perda de Tikrit, uma cidade de maioria sunita e que foi reduto do falecido ditador Saddam Hussein, acentuará o isolamento de Mossul.
Nessa etapa, as forças do governo poderão fazer pressão pelo sul, enquanto os combatentes curdos se aproximarão pelo leste. Especialistas alertam que a retomada de Mossul pode ser mais complicada do que a de Tikrit.
Segundo Zaid al Ali, a batalha por Tikrit se beneficiou do fato de que grande parte da população, pelo menos 200 mil pessoas antes da guerra, fugiu da cidade. "Mossul continua muito povoada, o que complicará muito as coisas", explicou.