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Acordo nuclear com Irã é uma vitória para Kerry e sua diplomacia

Depois da fracassada tentativa de chegar à Casa Branca, em 2004, alcançar o posto de secretário de Estado foi o auge de sua carreira

Agência France-Presse
postado em 03/04/2015 17:34
Mesmo antes de se tornar secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry já queria impedir que o Irã tivesse capacidade de produzir a bomba atômica e alertava que conter suas ambições nucleares era uma corrida contra o relógio.

Poucos de seus colegas senadores tinham ideia, durante a audiência de sua confirmação no cargo em janeiro de 2013, de que Kerry já havia dado os primeiros passos para tentar trazer o Irã de volta às conversas sobre seu programa nuclear, como parte de uma abertura secreta do presidente Barack Obama.

Dois anos depois, Kerry e sua equipe de diplomatas e especialistas completaram uma tarefa difícil: traçar as bases de um acordo para reduzir e limitar drasticamente o polêmico programa nuclear de Teerã.

[SAIBAMAIS]Apesar de o acordo final ainda não ter sido firmado, trata-se de uma vitória significativa para esse veterano do Vietnã, de 71 anos, que assumiu o Departamento de Estado em fevereiro de 2013, um mês depois de pedir na audiência de confirmação "novas ideias" para resolver os problemas mundiais.

Filho de diplomata criado na Europa em meio aos escombros do pós-Segunda Guerra Mundial, Kerry leva a diplomacia em seu DNA.

Depois da fracassada tentativa de chegar à Casa Branca, na disputa pela presidência em 2004, alcançar o posto de secretário de Estado foi o auge de sua carreira.

Logo que assumiu o cargo, Kerry fez questão de destacar que era um tipo de diplomata diferente de sua antecessora, Hillary Clinton, a qual teve um tratamento de popstar durante seu recorde de viagens.

Esse advogado que durante 29 anos foi senador democrata pelo estado de Massachusetts se declarou disposto a arregaçar as mangas e se aprofundar em alguns dos problemas mais difíceis da agenda internacional.

Kerry assumiu quando começava a esvaecer a primeira onda da chamada Primavera Árabe, substituída por revoltas civis e caos armado em países como Egito, Líbia e Síria, enquanto aliados-chave dos EUA, como Jordânia e Turquia, lutavam sob a tensão reinante.

O panorama geopolítico também viu o crescimento inesperado do grupo Estado Islâmico (EI), uma facção jihadista ultraviolenta que "se apoderou" de amplas faixas do Iraque e da Síria no ano passado e declarou um califado islâmico na região.

Em apenas dois anos, Kerry se viu fazendo malabarismos com grandes crises mundiais, enquanto mantinha sua aposta pessoal na diplomacia como caminho para um acordo de paz no Oriente Médio.

Embora sua missão de reconciliar israelenses e palestinos tenha sido um estrondoso fracasso no ano passado, atribui-se a Kerry ter ajudado a negociar com a Rússia um acordo para varrer a Síria de armas químicas.

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Ele também teve de lidar com a construção de uma coalizão para lutar contra o EI, aliviar os temores de que uma disputa eleitoral no Afeganistão pudesse deflagrar novos confrontos, além de tentar buscar um fim para o conflito no leste da Ucrânia. Este último envolvendo a Rússia.

O presidente Barack Obama lhe entregou, então, mais uma questão para incluir na agenda, depois que a eleição do novo presidente iraniano, Hassan Rohani, em 2013, ofereceu uma nova oportunidade para tentar tirar a bomba nuclear de vez do alcance de Teerã.

Como senador, Kerry fez parte das primeiras reuniões secretas entre 2011 e 2012 com o governo iraniano antecessor, em Omã.

Depois de repetidas viagens e intensas negociações com representantes de potências ocidentais durante semanas, junto ao ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, Kerry conseguiu desatar o nó com um país que ainda permanece como inimigo americano.

"Foi muito duro, muito intenso em alguns momentos, às vezes emocional e de confrontação", disse Kerry à rede americana CNN na quinta-feira à noite, apenas algumas horas depois de divulgar as linhas gerais do que seria um pré-acordo com o Irã.

"Foi um processo muito intenso, porque os riscos são muito altos e porque há uma longa história de não falar um com o outro. Há 35 anos não falamos diretamente com os iranianos, como desta vez", explicou Kerry.

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