Agência France-Presse
postado em 05/04/2015 09:34
O Quênia iniciou neste domingo três dias de luto nacional em memória às 148 vítimas do ataque à Universidad ede Garissa, entre críticas da imprensa pela lenta reação das forças de segurança contra os agressores islamitas.
O país, cuja população é 80% cristã, celebra a Páscoa em meio a dor: missas em todo o país serão dedicadas às vítimas do massacre de quinta-feira, em sua maioria estudantes cristãos.
O presidente queniano, Uhuru Kenyatta, anunciou três dias de luto e prometeu que seu país responderá "com a maior severidade".
Um membro do comando islamita foi identificado como um jovem queniano da etnia somali, formado em Direito em Nairobi, informou neste domingo o ministério do Interior do Quênia.
"Um dos quatro shebab que atacou a Universidade de Garissa (...) foi identificado como Abdirahim Abdullahi", originário da região de Mandera, localizada no extremo nordeste do Quênia, na fronteira com a Somália, declarou o porta-voz do ministério do Interior, Mwenda Njoka.
Abdirahim Abdullahi, que foi morto no ataque pelas forças de segurança, "graduou-se na Faculdade de Direito de Nairobi e era descrito como alguém com um futuro brilhante", acrescentou.
Seu pai, uma autoridade local de um círculo eleitoral de Mandera, "havia dito às autoridades que seu filho havia desaparecido e que ele suspeitava que o jovem havia entrado na Somália", acrescentou Njoka.
O ataque foi reivindicado pelos islamitas somalis shebab em represália à intervenção do exército queniano na Somália para frear seus combatentes.
Críticas da imprensa
Já a imprensa foi particularmente crítica neste domingo às forças especiais do Quênia, que demoraram ao menos sete horas para neutralizar o comando shebab, enquanto estes perpetravam o massacre na universidade.
"Trata-se de uma negligência frente a um ato criminoso", escreveu o jornal Nation em um editorial, recordando que os "homens armados que mataram dezenas de estudantes com evidente prazer tiveram todo o tempo do mundo".
Outro grande jornal queniano, The Standard, publicou uma charge em que se vê uma cobra, representando a "ameaça terrorista", acordando com uma mordida um policial enquanto um cão late "muito pouco, muito tarde".
O massacre de Garissa foi o mais sangrento ataque desde o atentado de 1998 na embaixada dos Estados Unidos em Nairobi, que causou 213 mortes.
Todos os líderes políticos e religiosos, entre eles o líder muçulmano do país, Hassan Ole Naado, condenaram a tragédia.
"O Quênia está em guerra, e devemos permanecer unidos", disse o líder muçulmano.
A Al-Azhar, uma das instituições mais respeitadas do Islã sunita, também condenou no sábado o massacre.
Dois dias depois do ataque, os islamitas shebab ameaçaram o Quênia com uma "guerra longa e espantosa", se o país não sair das terras muçulmanas.
Em um comunicado denunciam "a opressão", "as políticas repressivas", a "perseguição sistemática dos muçulmanos" no Quênia e "a ocupação das terras muçulmanas" por parte de Nairóbi.
Elem se referem à Somália, onde o exército queniano combate os islamitas desde 2011, às regiões quenianas de maioria muçulmana do nordeste e do leste, fronteiriças com a Somália, e às do litoral.
Desde quinta-feira, cinco pessoas relacionadas com o ataque foram detidas, segundo o porta-voz do ministério do Interior.
As autoridades quenianas buscam desde quinta-feira o homem considerado o cérebro do ataque, Mohamed Mohamud, por quem são oferecidos 200.000 euros. Este ex-professor queniano de uma escola corânica de Garissa se uniu primeiro ao movimento dos Tribunais Islâmicos que se apropriou de Mogadíscio em 2006, antes de passar a uma milícia islamita e acabar nos shebab.