Agência France-Presse
postado em 07/04/2015 16:43
O governo líbio reconhecido pela comunidade internacional tenta controlar a totalidade das receitas petrolíferas apesar de o país estar imerso no caos, com dois executivos, dois parlamentos e duas companhias nacionais de petróleo.Instalado na cidade de Tobruk (leste), o governo estabeleceu recentemente sua própria companhia nacional de petróleo para rivalizar com a National Oil Corporation (NOC), que gerencia o setor há mais de 40 anos, mas tem sua sede em Trípoli, a capital sob controle das milícias islamitas de Fajr Libya.
Assim, a Líbia tem duas NOC, que se somam a dois governos e a dois parlamentos que disputam poder e as receitas de petróleo, principal riqueza econômica do país que vive situação caótica desde a queda de Muammar Kadafi em 2011.
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O governo dirigido por Abdallah Al Theni, reconhecido internacionalmente, lançou no domingo a nova NOC, responsável por "supervisionar as operações de venda e exportações de petróleo dos campos sob controle do governo legítimo".
Com sede em Benghazi (leste) esta companhia quer competir com a NOC, com sede desde 1970 em Trípoli.
"Essa rivalidade agrava a incerteza e a complexidade para os compradores de petróleo líbio", destaca Valérie Marcel, pesquisadora do instituto Chatham House em Londres.
Suleiman Ibrahim, professor de economia em Benghazi, espera que as companhias petroleiras estrangeiras sejam bastante prudentes.
"Essas companhias negociam com a NOC de Trípoli há anos e não vão mudar de interlocutor agora", opina. "O governo reconhecido só poderá vender petróleo no mercado negro através de outros países", assegura.
Maior divisão no país
"Todos os assuntos técnicos, assim como a base de dados e a rede de clientes estão na capital e isso tornará mais difícil o trabalho da nova NOC", explica o porta-voz da NOC em Trípoli, Mohamed al Hrari.
O diretor da nova NOC, Mabruk Abu Seif, afirma, no entanto, ter iniciado negociações com companhias petrolíferas que já têm contratos em vigor com a Líbia.
Essa nova companhia deverá também abrir uma conta bancária nos Emirados Árabes Unidos e escritórios na Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos", como já decidiu o governo.
Até agora é o banco exterior líbio que recebe as receitas do petróleo antes de transferi-los ao Banco Central, que desde o início da crise se limita a pagar os salários dos funcionários, sem financiar diretamente a um ou outro governo.
"A abertura de uma conta bancária independente aprofunda a divisão do país, o que a comunidade internacional tenta evitar", opina Ibrahim, se referindo aos esforços da ONU para tirar o país da crise.
"A comunidade internacional seguramente rejeitará a conta [do governo reconhecido] nos Emirados e tentará manter a neutralidade do Banco Central até que o diálogo triunfe com a mediação da ONU", acrescenta.
Jaled Abdal, assessor financeiro de companhias petroleiras, destaca que os clientes da Líbia "tratam com o Banco Central líbio e com a NOC como instituições neutras", tornando mais difícil ao governo de Theni "obter cobertura internacional".
A NOC reafirma, contudo, sua "neutralidade" e pede que os beligerantes mantenham o setor petroleiro "de fora das querelas políticas".
A produção da Líbia despencou após a queda de Kadafi e o país produz apenas 350.000 barris diários, em comparação aos mais de 1,5 milhões antes de 2011.
A região entre Trípoli e Benghazi, a leste, abriga os principais terminais petroleiros do país, que os grupos islamitas tentaram por diversas vezes controlar.