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Cúpula das Américas pode testemunhar encontro histórico: Obama-Raúl Castro

Faltando alguns dias para o encontro dos líderes continentais, os diplomatas ainda estão discutindo qual será o formato da reunião

Agência France-Presse
postado em 08/04/2015 11:45

Washington, Estados Unidos - O presidente Barack Obama participará nesta semana da Cúpula das Américas, no Panamá, um evento que poderá testemunhar o primeiro encontro entre os líderes cubano e americano em meio século.


Após alcançar um acordo-marco nuclear com o arqui-inimigo Irã, Obama viajará para a Jamaica e depois para a Cidade do Panamá, nesta quinta-feira (9/4), para este encontro de líderes continentais.

Raúl Castro - que herdou o poder na ilha comunista com 11 milhões de habitantes de seu irmão, o icônico Fidel, sete anos atrás - confirmou que será o primeiro líder cubano a participar da cúpula.

Mas faltando alguns dias, os diplomatas ainda estão discutindo qual será o formato da reunião entre Obama e Raúl Castro.

As opções variam de uma simples foto de "aperto de mãos" a um histórico encontro face a face.

"Os líderes ficam juntos durante muito tempo" na conferência, disse a alta funcionária do Departamento de Estado, Roberta Jacobson. "Haverá, então, uma interação com Raúl Castro".

Em dezembro de 2013, em meio a um clima de amizade que se seguiu à morte de Nelson Mandella, os dois chefes de Estado deram um breve aperto de mãos durante os funerais oficiais em Johanesburgo.

Desta vez, as autoridades estariam buscando algo mais substancial.

"Obviamente, é útil ser capaz de ter este contrato e administrar as coisas de forma que possamos fazer as coisas e abrir embaixadas e seguir em frente com esta relação", afirmou Jacobson.

Herança da Guerra Fria
Em dezembro do ano passado, Obama declarou que poria "fim a uma abordagem obsoleta" com relação a Cuba, que herdada de uma animosidade da Guerra Fria e foi marcada por crises que definiram uma geração, como a Baía dos Porcos, a Crise dos Mísseis de 1962.

Obama explicou que as relações diplomáticas seriam restabelecidas e que os Estados Unidos avançariam para por um fim a um embargo incapacitante que Cuba diz ter lhe custado mais de um trilhão de dólares em cinco décadas.

Desde o pronunciamento, os dois lados deram passos tímidos na direção de encerrar a política americana de isolamento.

Linhas telefônicas foram religadas, substituindo as linhas de emergência. O site de aluguel de imóveis por temporada Airbnb chegou até a lançar uma lista para visitantes americanos.

Uma consulta recente sobre cubanos-americanos, da Bendixen e Amandi, demonstrou que 51% deles acreditam que a política de Obama para normalizar as relações bilaterais era a forma de fazê-lo.

Isto poderá ter profundas repercussões no destino do embargo, que só pode ser encerrado pelo Congresso americano, fortemente influenciado por grupos de emigrantes.

Mas as relações entre Cuba e Estados Unidos e uma decisão sobre um encontro entre os dois presidentes podem acontecer em cima da hora.

Grupos cubanos não governamentais críticos ao regime, inclusive as Damas de Branco, foram convidadas para participar de um encontro da sociedade civil que será celebrado em paralelo à cúpula dos chefes de Estado no Panamá.

Espera-se que Obama se dirija aos participantes do evento, embora em uma aparente concessão, e participará de uma sessão de perguntas e respostas, em caráter privado, longe dos olhos da imprensa.

Se os grupos não governamentais forem impedidos de deixar Cuba ou Obama fará duras críticas ao regime em sua fala, tudo é possível.

;Todos somos americanos;
Obama se propõe a apresentar na Cúpula das Américas seu legado na busca por melhores relações entre Washington e os países da região, afirmou um de seus assessores.

"Estamos tentando apresentar o legado do presidente Obama nas Américas, como um líder interessado no diálogo em temas que afetam a vida cotidiana dos cidadãos", disse Ricardo Zúñiga, encarregado do Hemisfério Ocidental no Conselho de Segurança Nacional (CSN).

Este legado de Obama para a região, disse Zúñiga, não se limita à reaproximação com Havana, embora a iniciativa tenha recebido os aplausos unânimes de todo o continente.

Também está plasmado na assinatura de decretos que impulsionam importantes mudanças na situação de milhões de imigrantes ilegais, a nomeação de um enviado especial para o processo de paz na Colômbia e a Aliança para a Prosperidade para os países da América Central.

Sanções voltam a dominar agenda
A cúpula do Panamá também será a primeira vez em uma geração que um presidente americano encontra líderes continentais e não é bombardeado sobre as sanções de seu país a Cuba.

A política de isolamento levada adiante por Washington tem sido profundamente impopular na América Latina, embora autoridades americanas frequentemente acusem os aliados de Cuba de se esconder atrás da disputa para evitar lidar com questões difíceis sobre seus próprios países.

Mas existe um risco de que, desta vez, as sanções contra a Venezuela causem um desconforto na região.

Com o palco montado para um encontro construtivo, Obama surpreendeu seus aliados latino-americanos ao introduzir sanções contra membros do regime de Nicolás Maduro.

Obama ordenou o congelamento de propriedades e contas bancárias nos Estados Unidos de sete funcionários venezuelanos, incluindo o ex-chefe da guarda nacional, Antonio Benavides, do chefe da inteligência Gustavo Gonzales e do chefe da polícia nacional, Manuel Perez.

Os aliados regionais da Venezuela, de tendência esquerdista, muitos dos quais recebem ajuda econômica crítica de Caracas, saíram em defesa de Maduro.

Formada por 11 países, a "Aliança Bolivariana", incluindo Raúl Castro, o boliviano Evo Morales e o nicaraguense Daniel Ortega se reuniram em uma conferência para condenar a manobra.

Os organizadores ainda esperam que a cúpula possa terminar com um compromisso de medidas concretas em áreas em que há um acordo geral: segurança e meio ambiente, entre elas.

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