Sabe-se que o grupo islamita nigeriano Boko Haram tem capacidade de atacar simultaneamente em várias frentes e que dispõe de um arsenal importante, mas ainda há muitas dúvidas sobre seus integrantes, organização interna e financiamento, segundo especialistas e militares.
O chefe insurgente, Abubakar Shekau, chegou a proclamar, em junho de 2014, a criação de um califado nas zonas sob seu controle na Nigéria e jurou fidelidade ao grupo Estado Islâmico.
Os atentados do grupo na Nigéria, no Chade, no Níger e Camarões demonstram que o Boko Haram pode agir simultaneamente e com métodos variados em locais muito distantes.
Os islamitas ao longo dos meses reuniram um armamento impressionante de lança-foguetes, caminhões blindados, canhões, morteiros, munição, armas e inclusive motores explosivos.
Segundo os militares, não há nenhuma dúvida que o arsenal do Boko Haram provém essencialmente do exército nigeriano.
"Muitos de seus instrumentos de combate pertencem aos militares nigerianos que os abandonaram ao desertar de suas posições", declarou à AFP um oficial superior do exército camaronês.
"Quanto às armas, uma parte foi claramente adquirida durante os ataques contra os destacamentos militares nigerianos, mas acredito que há mais que isso. Há compra de armas", afirma, por sua vez, Cédric Jourde, pesquisador especialista nesta região da Universidade de Ottawa.
Há meses, chadianos e camaroneses reforçaram consideravelmente os controles de suas fronteiras contra as infiltrações do Boko Haram, mas também contra o tráfico de armas procedentes da Líbia destinadas aos islamitas.
Os homens do Boko Haram estão bem armados e em geral são muito numerosos quando atacam, razão pela qual também registram enormes perdas.
Os balanços militares oficiais dos exércitos envolvidos na guerra informam sobre dezenas e inclusive centenas de mortos nas fileiras islamitas de maneira regular, segundo testemunhos de habitantes recolhidos pela AFP.
De quantos combatentes o Boko Haram dispõe para suportar tais perdas? Estimativas parciais mostram cifras de milhares, mas dificilmente coincidem com a multiplicação dos ataques, as perdas e o recrutamento.
Nigéria, um país complexo
Há meses, um grande número de camaroneses e nigerianos de zonas fronteiriças com os redutos do grupo informaram sobre várias campanhas de recrutamento - forçado ou pago - realizadas pelos islamitas nos povoados.
"É muito difícil ter informações confiáveis sobre este tema, porque se trata de um terreno vedado tanto para os pesquisadores quanto para os jornalistas", explica Cédric Jourde, que duvida que "os serviços de inteligência saibam muito mais".
Quanto ao funcionamento do grupo, também não se sabe muito. Seu chefe, Abubakar Shekau, aparece frequentemente em vídeos incendiários. Mas o que acontece com a operação que se encarrega de coordenar e planejar os ataques?
O investigador canadense acredita na possibilidade de que exista "uma nebulosa, uma constelação" de grupos que teriam em certo momento interesses comuns em um clima de violência exacerbada pela campanha eleitoral das presidenciais na Nigéria, adiadas até 28 de março.
"A Nigéria é um país extraordinariamente complexo", lembrou à AFP um funcionário militar ocidental, que acrescentou que "o Boko Haram é um caso particular" dentro dos movimentos jihadistas.
O grupo aproveita esta complexidade do país mais povoado do continente para alcançar seus objetivos, explorando, por exemplo, a tradicional divisão entre o norte, majoritariamente muçulmano, e o sul, principalmente cristão.
Neste sentido, "as pessoas que têm meios econômicos suficientemente importantes no leste da Nigéria contribuem de uma maneira ou de outra para a compra de armamento em favor do Boko Haram", segundo Jourde.