Agência France-Presse
postado em 16/04/2015 12:22
Moscou, Rússia - Acusado por alguns na Europa de ser ambíguo sobre a história soviética, o presidente russo Vladimir Putin reconheceu nessa quinta-feira (16/4) que impor "pela força" o modelo socialista em países do leste europeu após a Segunda Guerra Mundial não "foi uma boa ideia".[SAIBAMAIS]As declarações de Putin são feitas quando se aproxima o 70; aniversário da vitória da antiga URSS contra a Alemanha nazista. Moscou organiza celebrações com grande pompa para esta data, 9 de maio de 1945, mas a maioria dos líderes ocidentais não comparecerão às cerimônias em razão do conflito na Ucrânia.
"A escolha (de vir em 9 de maio) pertence a cada líder político. Alguns não querem vir, eu admito, outros não têm autorização" de Washington de vir "mesmo que muitos desejassem", ironizou.
O presidente russo, que justificou no passado a fundamentação do Pacto Germano-Soviético de 1939, chamando a queda da URSS de "a maior tragédia geopolítica do século XXI", mostrou-se crítico quanto a atitude da URSS de Stálin logo após o fim da Segunda Guerra. "Após a Segunda Guerra Mundial, tentamos impor nosso próprio modelo aos países do leste europeu, e fizemos isso por meio da força", declarou o presidente russo, admitindo que "isso não foi uma coisa boa". "É preciso reconhecer", insistiu durante a transmissão televisiva anual de perguntas e resposta à qual deve passar.
O chefe de Estado russo fazia referência ao estabelecimento após a Segunda Guerra Mundial de regimes comunistas nos países do leste europeu, principalmente na República Tcheca, Hungria e Polônia. Por mais de quarenta anos, esses países do bloco socialista, ou do "bloco do leste", foram controlados em maior ou menor medida por Moscou. "Continuamos a sentir o eco" da política soviética da época, considerou Vladimir Putin, ressaltando, contudo, que os Estados Unidos fizeram o mesmo.
[SAIBAMAIS]"Os americanos se comportaram mais ou menos da mesma maneira, tentando impor um modelo em todo o mundo, e eles também vão fracassar", assegurou Putin.
As tensões entre a Rússia e os ocidentais, que os acusa de envolvimento direto na crise na Ucrânia, reascenderam uma velha polêmica sobre o controle da URSS de Stálin sobre os países do leste europeu. Os países bálticos e a Polônia, ocupados no passado pelas tropas soviéticas, temem que a atual guerra na Ucrânia seja o preâmbulo de uma repetição da História.
Recentemente, o presidente polonês, Bronislaw Komorowski, considerou que os soviéticos realmente "acabaram com a ocupação hitlerista da Polônia", mas "não trouxeram liberdade".
Stálin não é Hitler
Por sua vez, Vladimir Putin citou durante o programa televisivo a adoção pelo Parlamento da Ucrânia de leis que remontam à memória visando a "dessovietização" do país. Estas leis colocam no mesmo patamar os regimes soviético e nazista e proíbem toda "negação pública" de seu caráter "criminoso", bem como a "produção" e utilização pública de seus símbolos - como hino, bandeiras ou a famosa foice e martelo - com algumas exceções.
Contudo, Putin considerou que não há razões para colocar o nazismo e stalinismo no mesmo nível". "Ainda que fossem monstruosos do ponto de vista da repressão e das deportações de povos inteiros, o regime stalinista não tinha a intenção de aniquilar a população", considerou Putin .