Agência France-Presse
postado em 22/04/2015 15:39
Os rebeldes xiitas no Iêmen exigiram nesta quarta-feira o fim total dos bombardeios aéreos da coalizão, assim como uma negociação patrocinada pela ONU, em sua primeira reação ao anúncio da Arábia Saudita sobre o fim da primeira fase de intervenção nesse país.Terça-feira à noite, Riad anunciou o fim da campanha aérea conduzida desde 26 de março para impedir o avanço dos rebeldes xiitas huthis, apoiados pelo Irã, no Iêmen, e declarou a abertura de uma nova fase política e humanitária.
Isso não impediu a coalizão - que se reservou o direito de realizar novos ataques caso os movimentos rebeldes continuem a ser uma ameça - de bombardear várias posições huthis nesta quarta-feira.
Os bombardeios aconteceram ao norte de Taez, no acampamento da Brigada 35 blindada, leal ao presidente exilado Abd Rabo Mansur Hadi e tomada pelos insurgentes xiitas nesta quarta-feira, e ao sudoeste da cidade, no local de encontro entre os huthis e seus aliados em Wahat, segundo fontes militares.
"Depois de um fim completo da agressão contra o Iêmen e o levantamento do bloqueio aéreo e marítimo, exigimos que se retome o diálogo político, no ponto em que foi interrompido, sob patrocínio das Nações Unidas", declarou Mohamed Abdelsalam, porta-voz dos rebeldes huthis, em um comunicado.
Diálogo a vista?
Ele também elogiou "os esforços positivos" da ONU e seu "apoio declarado ao diálogo nacional."
Em um gesto de boa vontade, os rebeldes libertaram três personalidades capturadas em 25 de março no sul do país, entre elas o ministro da Defesa, Mahmoud el-Subeihi, e o general Nasser Mansour Hadi, um irmão do presidente que fugiu para a Arábia Saudita.
No plano internacional, o anúncio do encerramento dos ataques aéreos foi saudado por Teerã, assim como Washington, enquanto o presidente Barack Obama pediu ao Irã que contribua para um acordo político entre as diferentes facções no Iêmen.
O ex-presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, aliado dos huthis, também saudou a decisão de Riad e disse esperar que "todos cooperem para voltar ao diálogo e encontrar soluções".
Em um discurso transmitido pela televisão a partir de Riad, o presidente Hadi prometeu "vitória". "Em breve, voltarei à nossa pátria, à Áden e à Sanaa", assegurou.
Fazendo um balanço das últimas semanas, o ministério da Defesa saudita considerou que os ataques aéreos tinham conseguido "eliminar com sucesso as ameaças à segurança da Arábia Saudita e dos países vizinhos."
Mas apesar do sucesso reivindicado por Riad, a capital de Sanaa e outros setores continuam nas mãos dos rebeldes e violentos confrontos continuam a agitar o sul do país.
Situação humanitária ;catastrófica;
Quanto à situação humanitária, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) considerou como "absolutamente catastrófica".
"A resiliência dos iemenitas chegou a um ponto de ruptura", declarou Robert Mardini, que comanda as operações do CICV no Oriente Médio. "Pelo menos 50 pessoas são mortas e cerca de 500 feridas todos os dias, e o número de vítimas civis está aumentando dramaticamente", acrescentou.
Um dia antes, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou contra um iminente colapso dos sistemas de saúde e relatou 944 mortos e 3.487 feridos - entre civis e militares - entre 19 de março e 17 de abril .
Ao anunciar o fim dos ataques aéreos, a coalizão anunciou o início de uma nova fase, chamada de "Restaurar a esperança", em vista de uma retomada do processo político no Iêmen, da prestação de assistência humanitária e da "luta contra o terrorismo", em um país onde a Al-Qaeda ainda é muito ativa.
Sete supostos membros da Al-Qaeda também foram mortos durante a noite em um ataque com drone americano contra seu carro Mukalla, capital da província de Hadramut (sudeste), controlada desde o início de abril pela rede extremista, de acordo com testemunhas.