Em suas páginas no Facebook, os médicos Rafael Scanavacca e Gustavo Villa relataram problemas ao tentar contatar a representação brasileira em Katmandu. O recado também foi deixado na página do Ministério das
Relações Exteriores na mesma rede social.
Luciana Farias, amiga de Rafael, conta que ele estava na rua quando começaram os tremores. Ele havia ido com um grupo de amigos escalar o Everest, e subiram 5 mil metros. Por sorte, abandonaram o acampamento um dia antes do incidente. ;Os que ficaram morreram;, relata Luciana.
O hotel em que estava junto com o grupo de mais 12 pessoas ruiu com o terremoto. A operadora Grade 6 os realocou em outro hotel, mais novo. Porém, os hóspedes de última hora foram alojados no lobby, de forma que pudessem se proteger no caso de um novo terremoto ;A ajuda foi somente da agência. A comunicação com ele, por enquanto, não está nada fácil", conta Luciana.
O Itamaraty informou que os telefones da embaixada brasileira no Nepal foram afetados, mas que uma nova linha de emergência já foi estabelecida. Os novos contatos foram disponibilizados nas redes sociais e também no portal consular na internet. A embaixada esteve aberta hoje das 8h às 16h, e vários cidadãos brasileiros foram lá em busca de ajuda e orientação. O plantão, entretanto, funciona 24 horas.
A assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores informou que, ontem, funcionários da representação brasileira estiveram no consulado. Entretanto, não soube precisar o horário exato que estiveram lá. O contato da embaixada, segundo o Ministério, foi feito diretamente com hoteis e operadoras de turismo. Desta forma, conseguiram localizar alguns dos brasileiros. Mais funcionários do corpo diplomático, locados na Índia, estão sendo transferidos para auxiliar a força tarefa em Katmandu.
Três perguntas para Rodrigo Raineri
A agência Grade 6 pertece ao atleta Rodrigo Raineri, alpinista experiente. Em 2013, foi o primeiro brasileiro a escalar três vezes, com sucesso o Monte Everest. Embora seja acostumado à hostilidade da natureza, disse jamais ter visto uma tragédia igual ao terremoto de sábado. Ele chegou do Nepal no domingo, mas outros dois sócios da agência, Carlos Eduardo Santalena e José Eduardo Sartor Filho, permanecem em Katmandu para prestar a quem ficou. Raineri conta ao Correio o que aconteceu com o grupo de escalada.
Como está o grupo agora?
Eram 15 pessoas, mas cinco estavam de passagem e foram embora logo após o terremoto. Ficaram quatro horas dentro do avião até ele decolar e seguiram para Doha. Alguns ficaram, outros já vieram para o Brasil. As que
ficaram foram as mais afetadas, porque a estrutura do hotel em que estávamos sofreu danos graves. O hotel ao lado desabou. Aqui do Brasil, articulamos vagas em outro estabelecimento que é novo, sólido e está fora da área de risco relativo. Nos comunicamos com ele o tempo todo, seja por telefone ou internet.
O acampamento base é seguro?
É relativamente protegido. Está cercado por montanhas muito altas, com toneladas de blocos de gelo e rocha. As avalanches lá são de tamanho descomunal. Então, nessas circunstâncias, o local já não estava seguro. Os
desmoronamentos atingiram as barracas. Inclusive um diretor do Google, Dan Fredinburg, faleceu. Morreram 18 pessoas. A situação é muito complicada ali, porque continua nevando, as pessoas ficam presas na montanha e a visibilidade é ruim para helicópteros. É uma situação delicada que pede paciência.
E as cidades?
Há, normalmente, problemas com energia, então, em Katmandu, os hotéis, felizmente, costumam ter geradores. O problema é o abastecimento das cidades, pois há canos quebrados e postes caídos. Já existiam problemas
estruturais graves na distribuição de energia. Há mais de dois mil mortos, o clima está pesado. Há também as doenças. É um cenário de apocalipse. Eu nunca vi nada assim tão grave, e isso é muito ruim, porque o país é pobre e
tem problemas na distribuição de água e na saúde pública. Imagina depois desse caos? A gente precisa ajudar.