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Fuzilados na Indonésia morreram com "força e dignidade", diz testemunha

Ao invés de baixar a cabeça em sinal de derrota e resignação, todos negaram-se a colocar uma venda nos olhos e entoaram cânticos religiosos

Agência France-Presse
postado em 29/04/2015 08:20

Ao invés de baixar a cabeça em sinal de derrota e resignação, todos negaram-se a colocar uma venda nos olhos e entoaram cânticos religiosos

Os oito condenados à morte por tráfico de drogas fuzilados nesta quarta-feira na Indonésia faleceram com "força e dignidade", encarando seus carrascos e entoando cânticos religiosos, entre eles "Amazing Grace", explicou uma testemunha da execução.

Os condenados - o brasileiro Rodrigo Gularte, dois australianos, quatro africanos e um indonésio - fizeram uma longa viagem desde sua prisão, situada na ilha de Nusakambangan, até um clarão em meio à selva onde à meia-noite de terça para quarta-feira eram esperados por um pelotão de fuzilamento.

[SAIBAMAIS]Mas ao invés de baixar a cabeça em sinal de derrota e resignação, todos negaram-se a colocar uma venda nos olhos e entoaram cânticos religiosos, entre eles "Amazing Grace", até que o pelotão começou a disparar.

Christie Buckingham, a pastora que acompanhou um dos australianos em seus últimos momentos, explicou ao marido que os condenados se comportaram "com força e dignidade até o fim". "Disse que os oito saíram ao campo de execução entoando cânticos de louvor", explicou Rob Buckingham à rádio australiana 3AW.

Na cidade portuária de Cilacap, de onde se chega à ilha de Nusakambangan, um pequeno grupo de pessoas havia se reunido com velas pouco antes da execução, cantando também "Amazing Grace" e cobrindo os prantos dos que pensavam no que estava prestes a acontecer na selva. "Não tenham medo, não há nada a temer", disse Owen Pomana, um ex-presidiário e amigo dos condenados australianos Andrew Chan e Myuran Sukumaran, tentando levantar o ânimo dos presentes.

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Pouco depois, na ilha, os oito condenados à morte foram atados a um poste e executados por um pelotão formado por 12 homens. Ao amanhecer seus corpos foram devolvidos a Cilacap dentro de caixões. Os familiares seguiam chorando enquanto seus amigos e as pessoas que se dirigiram à cidade portuária para dar apoio ajudavam a iniciar a longa viagem de retorno para casa junto com seus entes queridos.

Angelita Muxfeldt, prima do brasileiro Rodrigo Gularte, chorava desolada enquanto um padre, Charlie Burrows, abria caminho entre a multidão. A família e os amigos da filipina Mary Jane Veloso, por sua vez, choravam de alegria, depois que ela foi poupada na última hora. Harold Toledano, um padre filipino que acompanhava a família de Veloso, explicou que estavam rezando quando o anúncio com a boa notícia foi dado.

"Isso é um milagre", gritou enquanto os advogados comemoravam a boa nova. "É como uma ressurreição, está viva", disse. Para os familiares dos dois australianos não houve consolo e perderam seus filhos e irmãos depois de terem tentado de tudo para evitar a execução.

"Pedimos clemência, mas não a deram. Estamos muito agradecidos por todo o apoio que recebemos", disseram as famílias em um comunicado após as execuções. Pouco depois chegava ao porto de Cilacap o corpo do indonésio Zainal Abidin, que foi enterrado em um cemitério próximo.

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