Agência France-Presse
postado em 29/04/2015 14:26
Nova York - O ministro argentino da Economia, Axel Kicillof, denunciou nesta quarta-feira na ONU o "poder insuportável" dos fundos especulativos sobre os países em dificuldades financeiras, alertando que "colocam em risco qualquer reestruturação da dívida em nível mundial". "O poder que têm hoje em dia os fundos abutres é insuportável", afirmou o ministro argentino em um discurso no comitê ad-hoc que discute a questão nas Nações Unidas.
A Argentina mantém um litígio com fundos especulativos que ganharam um processo em um tribunal de Nova York. A decisão prevê o pagamento de 1,33 bilhão de dólares pelo governo argentino aos fundos.
Embora o país tenha normalizado 93% da sua dívida pública, o destino dos 7% restantes, nas mãos de credores que rejeitaram a reestruturação de 2005 e 2010, virou objeto de batalhas judiciais.
Em seu discurso na ONU, Kicillof classificou os fundos especulativos como "parasitas especializados", e assegurou que eles "construíram um caminho que acabou com a segurança jurídica do endividamento dos países", o que lhe confere um "poder extorsivo muito grande".
Para pressionar o país a cumprir sua decisão, o juiz federal Thomas Griesa mantém bloqueado desde julho passado no Bank of New York (BoNY) um depósito de 539 milhões de dólares efetuado pela Argentina para os credores da dívida reestruturada. Essa medida levou o país a uma moratória parcial sobre a dívida renegociada.
Kicillof ressaltou que "sempre haverá falhas e brechas na lei que permitirão a ação dos fundos abutres", que compram a dívida de países em dificuldades "para litigar, não para buscar uma solução".
O ministro argentino lembrou que há "900 trilhões (de dólares) de dívida em estoque" que correm o risco de serem atacados pelos fundos especulativos como o NML Capital. Por isso, apontou a necessidade de um "marco geral aceito por todos os países para a reestruturação da dívida".
"O litígio não está parado"
Em coletiva de imprensa no período da tarde, Kicillof negou que a disputa com os fundos especulativos esteja "presa", e destacou a recente emissão de dívida pública efetuada pela Argentina " apesar das ameaças" de que não poderia fazer como resultado da sentença de Griesa.
"O que está parado não é o conflito. O que está parado são os fundos abutres", argumentou, referindo-se à exigência dos credores de cobrar o montante total disposto pela justiça americana.
O ministro também descartou que a estratégia do governo da presidente Cristina Kirchner seja deixar o problema para a próxima administração, eleita após as eleições marcadas para outubro próximo.
"E se nós ganharmos? Não quero chutar ninguém. Vamos continuar trabalhando para resolver isso", respondeu, quando perguntado sobre o assunto.
"Ninguém neste mundo defende os abutres. O que eles vão fazer? Eu não sei. Eles perderam apoio na comunidade financeira e estão brigando com todo o mundo", concluiu, observando que o litígio se espalhou para outros atores como bancos e investidores, e que a questão já chegou à ONU.