Agência France-Presse
postado em 06/05/2015 10:40
Londres - David Cameron, Ed Miliband e os outros líderes dos partidos britânicos percorrem nesta quarta-feira o país na última tentativa de conquistar votos para as eleições mais disputadas da história do Reino Unido.Milhões de britânicos com mais de 18 anos têm direito o votar nesta quinta-feira entre as 7H00 (3H00 de Brasília) e as 22H00 (18H00 de Brasília).Estão em jogo a composição da Câmara dos Comuns - o líder do partido com maioria é primeiro-ministro - e as prefeituras de grande parte da Inglaterra, mas não a de Londres, nem as da Escócia, País de Gales ou Irlanda do Norte.
As pesquisas de boca de urna devem apresentar uma ideia precisa pouco depois do fim do horário de votação, mas os resultados oficiais serão anunciados a conta-gotas e só devem ser conhecidos na madrugada de sexta-feira.
Tudo indica que nem o primeiro-ministro conservador David Cameron, nem seu principal rival, o trabalhista Ed Miliband, vão acordar na sexta-feira com os 326 deputados necessários para uma visita à rainha Elizabeth II, com a informação de que tem o apoio necessário para liderar um governo.
"Temos 303 assentos. Precisamos de outros 23 para conseguir essa maioria absoluta. Acredito que esta é a melhor opção para o Reino Unido", declarou Cameron.
Miliband, por sua vez, indicou que não passava por sua cabeça perder: "estou concentrado em vencer as eleições", garantiu à rádio BBC 5.
"Estou otimista, mas está nas mãos das pessoas. Sei que tomarão a decisão correta", acrescentou.O democrata-liberal Nick Clegg acusou os dois de não querer admitir que terão que fechar pactos e se ofereceu para isso."Os democratas-liberais darão um coração a um governo conservador e um cérebro a um trabalhista", assegurou.
As negociações posteriores com os outros partidos para a formação de um governo com maioria parlamentar viraram o tema dos últimos dias da campanha.
As negociações devem, em tese, terminar antes de 27 de maio, data em que está previsto o discurso anual da rainha.A monarca lê no Parlamento um texto preparado pelo governo com as diretrizes básicas de sua gestão. Depois o projeto é votado pelos deputados.
Os democrata-liberais, liderados por Nick Clegg, e os nacionalistas escoceses do SNP, liderados por Nicola Sturgeon, aparecem como os dois partidos que poderiam assegurar a governabilidade a trabalhistas ou conservadores.
Cameron cita a ameaça escocesa
Cameron se lançou em uma maratona eleitoral de 36 horas e não se cansa de repetir o que pode acontecer após as eleições, com a advertência de que Miliband poderia tentar ser o primeiro-ministro sem vencer, graças ao apoio dos nacionalistas escoceses.
"Esta ideia incomoda muito as pessoas, porque seria um governo refém de um grupo de pessoas que não querem que o Reino Unido fique bem", disse, em referência ao Partido Nacional Escocês, abertamente favorável à independência.
"A situação representa um enorme problema de credibilidade e esta é a grande questão: as pessoas me expressam suas inquietações. E eu digo que se querem evitar isto, têm diante delas a resposta".
Miliband insiste que não pensa em um acordo de governo com os nacionalistas escoceses e responde que o perigo é repetir a coalizão entre conservadores e democrata-liberais.
A coalizão, disse, apenas serviu "para proteger alguns poucos privilegiados"."Falarei até o fim sobre as coisas que importam de verdade aos britânicos, que são a saúde pública, as contas das famílias, se podem pagar as contas no fim do mês, os temas de primeira necessidade que mais importam aos britânicos".
Europa observa
O resultado eleitoral pode ter um grande impacto nos vizinhos europeus em caso de vitória de Cameron, já que o conservador prometeu organizar um referendo sobre a permanência da Grã-Bretanha na União Europeia.
Os trabalhistas prometem não convocar o referendo, o que transforma o partido em aliado do centro financeiro de Londres em pelo menos um aspecto.
"Apesar disso, a política externa não foi muito discutida na campanha", constata Tony Travers, professor de Política da London School of Economics, para quem o tema ressurgirá no debate público.
Campanha eleitoral sem o eleitorado
A campanha chega ao fim da maneira como começou, com os líderes políticos a uma distância prudente dos eleitores e da imprensa.Os candidatos usaram mais do que nunca as redes sociais e calcularam de maneira milimétrica suas aparições, quase sempre em números reduzidos, em escolas, fazendas, mercados ou fábricas, sem vestígio dos comícios para multidões do passado.
"A campanha foi marcada pela falta de confiança que sentem os nossos líderes políticos, que têm relação com a desconfiança total em relação a eles por parte da maioria dos eleitores", resume o principal analista político da BBC, Nick Robinson.