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"Buscamos a ajuda do Brasil", diz esposa de opositor venezuelano detido

Em visita a Brasília, onde pretendia ser recebida pela presidente Dilma Rousseff, Lilian Tintori falou com exclusividade ao Correio

Rodrigo Craveiro
postado em 08/05/2015 14:01
Lilian durante discurso em apoio ao marido, em Caracas, no ano passado
Em 18 de fevereiro de 2014, a professora Lilian Tintori, 36 anos, entregou a bandeira da Venezuela ao marido, deu-lhe um beijo e ficou ao lado dele até que fosse levado pela Guarda Nacional Bolivariana. Uma multidão acompanhou a prisão de Leopoldo López, um dos principais líderes da oposição na Venezuela. Desde então, o político está detido na penitenciária militar de Ramo Verde, a cerca de 30km de Caracas. Em visita a Brasília, onde pretendia ser recebida pela presidente Dilma Rousseff, Lilian Tintori falou com exclusividade ao Correio Braziliense.

De que modo a senhora vê a decisão da presidente Dilma Rousseff de não recebê-la?
Me dá muita pena que não possamos vê-la nessa ocasião. A presidente deu uma entrevista na qual deixou claro sua condenação à prisão e à existência de presos político. Independentemente que nos receba ou não, o que importa é que tenha uma clara influência sobre Nicolás Maduro (presidente da Venezuela) e dos líderes da região, a fim de incitá-lo a cessar a repressão e a perseguição na Venezuela, a libertar os presos políticos e a interceder para que nas Venezuela haja eleições justas e imparciais, com observação internacional. Também que se respeitem os princípios internacionais dos direitos humanos que, felizmente, vocês têm hoje no Brasil.

Que reações a senhora espera do Brasil com sua visita? Como o governo Dilma Rousseff pode ajudá-la?
Nós esperamos que nossa denúncia seja levada em conta com a seriedade que o caso merece. Muitas vezes, o cerco de censura não permite que o que ocorre na Venezuela chegue além da fronteira. Com nossa visita, temos pretendido colocar sobre a mesa, em primeira mão, com Mitzy Capriles de Ledezma (esposa do prefeito Antonio Ledezma) e com Rosa Orozco (mãe da jovem estudante assassinada nos protestos) o tema, com a gravidade que merece. O fato de seguirmos nesta luta e de pedirmos a atenção da região é um claro sinal de que não bastam os venezuelanos sozinhos, em um clima onde não existe separação de poderes e onde se reprime aquele que pensa distinto. Esse pedido de ajuda ao Brasil e a suas autoridades é para que nos apoiem para que se cesse a repressão e a perseguição contra quem pensa diferente, e se liberte os presos políticos, líderes essenciais da oposição, que estarão na mesa de qualquer processo de diálogo e entendimento.

Qual seria a mensagem que a senhora deixaria ao povo brasileiro sobre a situação na Venezuela?
Ao povo do Brasil, antes de tudo nosso agradecimento por sua hospitalidade. Nós queremos reiterar a gravidade da situação do que ocorre na Venezuela. Sozinhos não podemos... Nenhuma crise dessa magnitude, política, econômica e social, pode ser resolvida sem a ajuda dos países amigos que entendem a profundidade do que está em jogo. Nós compartilhamos quase 3 mil quilômetros de fronteira, uma fronteira muito porosa, onde o que acontece de um lado se sente do outro. Nossos povos têm mantido laços de amizade contínua. Na Venezuela, há 25 mil mortes por ano. Hoje, temos 89 presos políticos, muitos deles por exercerem seu direito constitucional de protestar. Entre eles, meu marido. Eu denuncio claramente um governo corrupto, ineficiente, antidemocrático e repressor. Apoio a busca por uma saída constitucional e pacífica para esse desastre. Assim como há laços de amizade, também devemos cuidar e manter o respeito pelos direitos humanos, pilar fundamental da democracia. Quando esse componente vital da democracia é violado, sobram muito poucos mecanismos nacionais para a luta institucional, pois justamente as instituições entram em colapso. No entanto, nosso espírito e apego à institucionalidade está intacto e, por isso, recorremos ao povo brasileiro para pedir-lhe que nos ajude a encontrar uma solução para esta crise. Buscamos a ajuda internacional no Brasil, porque em casa temos muito pouca esperança de que nossas queixas de velar pelos nossos direitos seja atendida. Cidadão a cidadão... É muito o que podemos conquistar juntos. Mais ainda como povo irmanados por aspirações de liberdade e de justiça.

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