Agência France-Presse
postado em 12/05/2015 10:00
Moscou - Pessoas próximas ao opositor russo Boris Nemtsov, assassinado em fevereiro em Moscou, apresentaram nesta terça-feira em um documento provas exaustivas da ingerência militar russa na Ucrânia, estabelecidas a partir de testemunhos de soldados ou familiares deles.O Kremlin sempre negou o envolvimento da Rússia no conflito do leste da Ucrânia entre as forças de Kiev e os separatistas pró-russos, e nesta terça-feira negou-se a comentar o relatório.
O documento, de 64 páginas, tem como título "Putin. A guerra" e foi redigido com base no trabalho de pesquisa feito por Nemtsov antes de morrer.
Os autores do documento, entre eles o opositor Ilia Yashim, dizem fornecer provas exaustivas e relatos de testemunhas chave que confirmam o papel desempenhado pelo exército russo no conflito ucraniano.
Segundo Yashin, que apresentou o documento à imprensa, as tropas russas cruzaram pela primeira vez em massa a fronteira ucraniana em agosto de 2014, durante a contraofensiva bem-sucedida dos rebeldes em Ilovaisk e no front sul de Donetsk.
Em janeiro e fevereiro mais soldados teriam entrado para obrigar o presidente ucraniano Petro Poroshenko a negociar em Minsk. A Rússia acrescentou Yashin, também enviou tropas para os combates pela cidade estratégica de Debaltsev.
"Todos os êxitos militares chave dos separatistas foram alcançados por unidades do exército russo", afirmou Yashin.
O opositor reconheceu, no entanto, que todos os elementos do informe foram reunidos da Rússia, sem que houvesse uma investigação em terra na Ucrânia.
"Nem Putin, nem seus generais têm a coragem de admitir a agressão militar contra a Ucrânia. São apresentadas mentiras covardes e hipócritas como se fossem de uma grande sabedoria política", acrescentou o opositor.
Segundo estimativas do relatório póstumo de Nemtsov, assassinado a tiros em fevereiro perto do Kremlin, ao menos 150 soldados russos morreram em agosto de 2014, e outros 70 em janeiro e fevereiro.
De acordo com pessoas próximas ao opositor, as informações reunidas por Nemtsov são provenientes de fontes abertas, de fontes anônimas em Moscou e de testemunhos de famílias de soldados mortos na Ucrânia, que entraram em contato com ele em busca de ajuda para receber as indenizações prometidas.
A maioria dos elementos apresentados nesta terça-feira já foram revelados pela imprensa russa e estrangeira nos últimos meses.
Em agosto, os meios de comunicação russos exigiram a verdade sobre a presença militar russa na Ucrânia, após informar sobre enterros de soldados mortos em condições misteriosas.
Ao mesmo tempo, 10 paraquedistas russos foram capturados pelas forças ucranianas no leste do país. O presidente Vladimir Putin limitou-se a dizer que haviam se perdido.
Interrogado nesta terça-feira sobre o relatório apresentado, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, não quis fazer comentários. "Não tive conhecimento deste informe, e por isso não posso dizer nada", declarou Peskov à imprensa russa.