Agência France-Presse
postado em 12/05/2015 17:44
Sanaa - Um cessar-fogo para acabar com sete semanas de ataques aéreos e combates mortais está prestes a entrar em vigor no Iêmen, após 24 horas de intensos bombardeios lançados pela coalizão árabe contra os rebeldes xiitas em Sanaa.Pelo menos 69 pessoas morreram nas explosões em um depósito de armas perto da capital, Sanaa, provocadas pelos ataques da coalizão liderada pela Arábia Saudita.
Citando um balanço atualizado de vítimas, uma fonte médica declarou que "pelo menos 69 pessoas, a maioria civis, foram mortas, e 250 ficaram feridas".
O local foi bombardeado na segunda e na terça-feira.O bombardeio em massa também causou "danos graves" na cidade velha da capital iemenita, um Patrimônio Mundial, denunciou a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que convocou as partes a "proteger o patrimônio cultural único" do país.
De acordo com as informações obtidas pela Unesco, a cidade velha de Sanaa, cujas casas de adobe, mesquitas e banhos turcos foram construídos antes do século XI, "foi fortemente bombardeada durante a noite de 11 de maio de 2015, causando sérios danos a muitos edifícios históricos".
A histórica cidade de Saada, reduto dos rebeldes huthis no norte, e o sítio arqueológico da cidade murada pré-islâmica de Baraqish (noroeste), "também foram danificados", lamentou a Unesco.
Nesse contexto de violência, o novo enviado das Nações Unidas para o Iêmen, o mauritano Isma;l Ould Cheikh Ahmed, chegou nesta terça-feira a Sanaa com a missão de relançar as negociações para uma solução política ao conflito. Esses combates entraram em uma nova fase em 26 de março, com o lançamento, por uma coalizão árabe liderada por Riad, de ataques aéreos para evitar o avanço dos rebeldes xiitas huthis.
Citado pela agência oficial de notícias Saba, que é controlada pelos huthis, ele disse estar "convencido de que uma solução para a crise passa pelo diálogo, que deve ser interiemenita".
Durante uma visita a Riad na sexta-feira, ele se reuniu com o presidente iemenita, Adb Rabbo Mansur Hadi, refugiado na Arábia Saudita desde os primeiros dias da operação da coalizão.
Temores pela trégua
Os novos bombardeios e combates entre os rebeldes huthis e os partidários do presidente Hadi complicam a missão do emissário, no momento em que um cessar-fogo está previsto para entrar em vigor, nesta terça, a partir das 23h (17h de Brasília).
Em Áden, a grande cidade do sul do país, os combates prosseguem, com seis pessoas, incluindo civis, mortos nas últimas 24 horas.Uma autoridade local disse temer o "descumprimento da trégua em Áden, em vista do aumento dos ataques".
No sudoeste, cinco civis morreram nesta terça-feira na queda de um morteiro em uma loja, uma casa e uma mesquita em Taez, segundo fontes médicas. No total, 828 civis morreram desde 26 de maio, segundo a ONU.
Crianças-soldados
A organização humanitária Human Rights Watch denunciou a tendência dos huthis de recrutar crianças, o que tem aumentado nos últimos meses, considerando que essa prática pode ser equiparada a "crimes de guerra". De acordo com a HRW, as crianças constituem cerca de um terço dos combatentes huthis e de outros grupos armados no Iêmen.
Neste contexto, um cessar-fogo de cinco dias, renovável, foi proposto na sexta-feira pela Arábia Saudita com o objetivo de facilitar a entrega de ajuda humanitária à população civil, duramente atingida pelo conflito. Pelo menos 12 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar, advertiu a ONU.
Aliados dos huthis, os militares leais ao ex-presidente Ali Abdullah Saleh foram os primeiros a receber favoravelmente a trégua e afirmaram que desejam aliviar o "sofrimento" dos iemenitas.
O mesmo motivo foi citado no domingo pelos huthis, que afirmaram estar dispostos a respeitar a trégua.Antecipando um cessar-fogo, a ONU anunciou que se prepara para uma grande operação humanitária no Iêmen.O Programa Mundial de Alimentos (PAM) disse estar pronto para fornecer alimentos de emergência para mais de 750.000 pessoas em áreas afetadas pelo conflito.