Agência France-Presse
postado em 15/05/2015 13:26
Bujumbura - O presidente do Burundi, Pierre Nkurunziza, de volta nesta sexta-feira ao seu palácio, em Bujumbura, agradeceu às forças de segurança pela "eficácia e rapidez" para deter o golpe de Estado e fez um alerta a seus opositores, que voltaram a ocupar as ruas."Por ocasião deste dia memorável, queremos agradecer do fundo do coração às equipes de defesa e segurança pela eficácia e a rapidez em deter o projeto macabro de destruir as instituições democraticamente eleitas", declarou, em um discurso publicado no site da Presidência.
[SAIBAMAIS]
"Anunciamos à população e à comunidade internacional que todas as fronteiras do país estão abertas e sob vigilância e que a vida voltou ao normal", assegurou.
Além disso, o chefe de Estado estabeleceu uma relação entre o grupo de golpistas e os "levantes em curso", em referência aos manifestantes que se opõem à sua candidatura a um terceiro mandato presidencial e que foram retomadas após o fracasso do golpe.
A tentativa de golpe de Estado lançada na quarta-feira pelo general Godefroid Niyombare acabou fracassando com a rendição de alguns mentores e a fuga de outros.
Segundo uma fonte policial, o general Niyombare ainda não foi encontrado.Os detidos até este momento são o porta-voz do grupo, o comissário de polícia Zeno Ndabaneze e o número dois do movimento, o general Cyrille Ndayirukiye, que anunciou na quinta-feira à noite o fracasso do golpe.
ONU e Washington preocupados
O presidente Nkurunziza chegou à tarde a Bujumbura, dirigindo-se imediatamente ao seu palácio presidencial. Ele chegou procedente de sua cidade natal, Ngozi, cerca de 140 km a nordeste, onde passou a noite depois de retornar ao Burundi por terra, vindo da Tanzânia.
Nkurunziza se viu bloqueado no país vizinho pela tentativa de golpe de Estado, mas retornou ao seu país.
Na estrada entre Ngozi e Bujumbura, de acordo com testemunhas, Pierre Nkurunziza foi saudado por simpatizantes ao longo do caminho.
Mas desde as primeiras horas do dia, manifestantes voltaram a se reunir para protestar em várias cidades contra a intenção do presidente de disputar um terceiro mandato, uma medida considerada inconstitucional pela oposição, já que Nkurunziza está no fim de seu segundo mandato.
Desde o anúncio, em 25 abril, de sua candidatura, Bujumbura foi palco de manifestações, muitas vezes violentas, que deixaram mais de vinte e dois mortos.
Neste contexto, a ONU expressou sua preocupação quanto a possíveis represálias após o golpe de Estado frustrado e apelou ao respeito dos direitos humanos no país.
"Temos preocupações quanto ao respeito dos direitos humanos, ao risco de represálias e de ataques", declarou o porta-voz adjunto da ONU, Farhan Haq, acrescentando que as Nações Unidas "apoiam um processo de reconciliação e diálogo" no país.
Segundo o porta-voz, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, telefonou nesta sexta-feira ao presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, para incitar "os líderes da região a se juntar aos esforços para resolver a crise".
Ban indicou "que é preciso evitar represálias e vingança, respeitar a legalidade e os direitos humanos, e que a população deve exercer plenamente seu direito à liberdade de expressão e reunião".
Por sua vez, os Estados Unidos advertiram que um eventual terceiro mandato do presidente aumentaria a "instabilidade política" no país.O Departamento de Estado também alertou o regime contra o risco de "violências em represália" ao grupo de golpistas. O governo americano expressou em várias ocasiões sua oposição a uma terceira candidatura de Nkurunziza, considerando inconstitucional.
Mais de 100.000 refugiados
Na quarta-feira, o presidente do Burundi foi para a Tanzânia participar de uma cúpula dedicada à crise política em seu país.
Este movimento popular foi apresentado por Godefroid Niyombare, ex-companheiro de armas de Pierre Nkurunziza durante a guerra civil (1993-2006) do Burundi, como uma das justificativas para o golpe: o general havia criticado o chefe de Estado, eleito em 2005 e 2010, por sua decisão de aspirar a um terceiro mandato, "desprezando" a vontade do povo.
A sociedade civil e parte da oposição se opõem ao terceiro mandato, que consideram inconstitucional. Mas a candidatura do atual presidente também causa divergências dentro do seu próprio partido, o CNDD-FDD.
Nyombare, uma figura muito respeitada, foi destituído em fevereiro depois de ter desaconselhado Nkurunziza a se apresentar novamente nas eleições presidenciais.
A comunidade internacional condenou a tentativa de golpe e os 15 integrantes do Conselho de Segurança da ONU ordenaram um rápido retorno ao Estado de direito.
Aterrorizados por um clima pré-eleitoral muito tenso, mais de 105.000 burundineses fugiram para países vizinhos nas últimas semanas e as Nações Unidas se preparam para a chegada de milhares de outros refugiados.