Agência France-Presse
postado em 20/05/2015 11:19
Washington - O jovem combatente Hamza, de 22 anos, escreveu ao pai uma carta para dizer que estava pronto para se somar à luta depois de ter recebido treinamento com explosivos, mas não era um jovem qualquer, e sim o filho favorito de Osama Bin Laden, de acordo com informações da inteligência americana.A AFP teve acesso a mais de uma centena de documentos recentemente desclassificados, incluindo duas cartas de Hamza ao seu pai e uma da mãe do jovem implorando para que ele siga os passos de seu progenitor.
Os documentos incluem correspondências da Al-Qaeda ressaltando o desejo de Hamza de retornar ao círculo mais próximo de seu pai. Informações sugerem que o jovem participou de ataques e ajudou a produzir vídeos de propaganda quando era apenas um adolescente.
Estes documentos foram encontrados em 2011 por um comando americano em uma casa em Abbottabad, Paquistão, onde Bin Laden foi encontrado e morto a tiros.
Os documentos jogam luz sobre a organização interna da Al-Qaeda, o debate sobre seu futuro e as preocupações com a segurança de Bin Laden na casa de Abbottabad.
Ainda persistem especulações sobre o paradeiro de Hamza - chamado por um legislador britânico de "príncipe herdeiro do terrorismo" - na noite em que seu pai foi morto, e não há nenhuma prova de que ele tenha estado em Abbottabad.
O jovem não fez aparições públicas ou declarações em vídeos por vários anos, e seu paradeiro ainda é um mistério, segundo funcionários da inteligência americana.
No entanto, os documentos informam sobre um jovem que se descreve como "forjado em aço", pronto para acompanhar seu pai em uma viagem em direção "à vitória ou ao martírio", e um esforço da rede para fazer com que o jovem se una a Bin Laden.
"Fico realmente triste que legiões de mujahedines tenham marchado e eu não tenha me unido a eles", escreveu Hamza ao pai em uma eloquente carta de julho de 2009, quando o jovem estava preso no Irã, de acordo com a tradução do documento realizada pela CIA.
"Temo passar o resto da minha juventude atrás das grades", acrescentou, expressando: "Meu amado pai, te anuncio que eu e os outros, com a graça de Deus, seguiremos o mesmo caminho, o caminho da jihad".
- Preparado como sucessor -
Não foi possível verificar de forma independente a origem dos documentos ou a precisão das traduções realizadas pela CIA.
Os funcionários afirmam que os documentos demonstram o enorme custo que as operações de combate tiveram para a Al-Qaeda, incluindo a incapacidade para substituir líderes mortos ou capturados.
"Antes de morrer, Bin Laden reconheceu este perigo e planejou levar seu filho Hamza ao seu complexo em Abbottabad para prepará-lo como seu sucessor", disse à AFP um analista de inteligência.
Naquele momento, Hamza não via seu pai há oito anos e descreveu a dor da separação que sentiu aos 13 anos, assim como suas esperanças de um reencontro aos 22.
"Nos disse adeus e nos deixou, e foi como tivessem arrancado o nosso fígado", escreveu.
No dia 5 de abril de 2011, após a libertação de Hamza da prisão, um líder da Al-Qaeda, Atiyah abd al Rahman, escreveu a Bin Laden os detalhes de três formas possíveis de levar clandestinamente o jovem a Abbottabad.
A opção menos perigosa era enviá-lo através da província paquistanesa do Baluchistão, na fronteira com Irã, até o porto de Karachi, escreveu Rahman. Enquanto isso, tudo havia sido organizado para que Hamza participasse de "um curso sobre explosivos", acrescentou.
Rahman também escreveu a Bin Laden prometendo a ele que Hamza seria treinado no uso de diversas armas, e acrescentou que o jovem era "muito doce e bom". No entanto, um mês mais tarde Bin Laden estava morto.